O Estado de S. Paulo
A União Europeia tem forte interesse em aumentar seus acordos comerciais com outros países
A União Europeia é um dos três grandes polos
do mundo, ao lado dos Estados Unidos e da China. Do ponto de vista econômico, é
o menor, mas nem tanto assim: seu PIB a preços correntes é superior a US$ 16
trilhões, próximo dos US$ 18 trilhões da China e aquém dos US$ 25 trilhões dos
EUA. Em paridade do poder de compra, a distância também é pequena: o PIB chinês
é estimado ser da ordem de US$ 30 trilhões e o da União Europeia, US$ 24
trilhões (os dados são de 2022).
Embora a China e os Estados Unidos vivam desafios significativos, a União Europeia é uma região em busca de um novo posicionamento, pois está espremida entre os líderes da nova disputa hegemônica. Além disso, no período recente três das principais bases que explicam o formidável sucesso do projeto europeu de integração foram significativamente alteradas.
Em primeiro lugar, não será mais possível à
Europa terceirizar ao poder militar americano sua garantia de segurança
externa. Como ficou evidente com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a região
terá de expandir seus gastos militares para ser capaz de responder aos atuais
desafios. A guerra aumentou a coesão entre os Estados nacionais, e a UE recebeu
novos membros (Suécia e Finlândia), num processo que ainda não se encerrou.
Em segundo lugar, os países da Europa, em especial a Alemanha, decidiram há tempos depender da energia russa de forma determinante. A guerra na Ucrânia liquidou também essa alternativa, obrigando a região, que é importadora líquida de energia, a se socorrer de forma urgente de fontes mais caras, impondo um severo choque ao sistema econômico.
Finalmente, e isso vale especialmente para a
nação germânica, o mercado chinês, que se transformou na grande fonte de
sustentação das exportações industriais, está sendo abalado pela desaceleração
do país e pelo quadro de disputa hegemônica entre Estados Unidos e China.
Nesse contexto, a União Europeia agora tem
forte interesse em aumentar seus acordos comerciais com outros países.
Considerando sua ambição em avançar
decididamente no processo de descarbonização, o acordo com o Mercosul se tornou
bem importante pelo potencial da região em energia e combustíveis sustentáveis,
bem como em minérios e metais, como o lítio.
Entretanto, entre as muitas dúvidas derivadas
da eleição na Argentina, o posicionamento crítico de Milei frente ao Mercosul
se destaca. Vamos ver o que ocorrerá na reunião entre os dois blocos, marcada
para o próximo dia 7, três dias antes da posse em Buenos Aires.
*Economista e sócio da MB Associados
Um comentário:
O autor se equivocou ao afirmar que, com a guerra, a "UE recebeu novos membros (Suécia e Finlândia)". Estes países já eram membros da União Europeia. Talvez o autor tenha querido se referir a adesão dos países a OTAN, essa sim relacionada a guerra.
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