Os conflitos e as guerras regionais colocam em evidência a insustentabilidade da sociedade contemporânea.
As guerras envolvendo a Ucrânia e a Rússia, assim como Israel e a Palestina são pontas do iceberg que expressam as contradições do mundo em que vivemos, onde a cultura da guerra fria ainda sobrevive, através principalmente dos EUA e os seus aliados da OTAN, frente a uma realidade mundial multipolar que apresenta a China, a Rússia, o Japão e a própria União Europeia como atores relevantes do atual cenário internacional.
Como estamos nos posicionando frente a esta complexa realidade?
Desde fevereiro de 2022, o conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia ocupa papel de destaque no noticiário internacional. Envolve diretamente os EUA, a OTAN, a União Europeia e indiretamente a China. Assim como a guerra entre Israel e a Palestina, desde outubro de 2023. São disputas geopolíticas, como aconteceu e acontece hoje em diversas regiões do planeta, inclusive durante o século XX no desencadeamento das duas guerras mundiais e no período da Guerra Fria.
Hoje, por exemplo, qual seria a razão de existir da própria OTAN? Como sabemos, ela foi criada depois da segunda guerra mundial para impedir a expansão da ex-União Soviética, que não mais existe desde 1991. Como estão e vão se desenvolver as relações entre os EUA e a China e o papel da União Europeia e da Rússia neste contexto?
São questões a serem colocadas para um melhor entendimento do atual cenário internacional e o papel dos distintos atores envolvidos.
Portanto, as guerras e os conflitos regionais colocam em cheque o anacronismo das organizações multilaterais, a exemplo da ONU que ainda funciona com a lógica dos vencedores da segunda guerra mundial, com o poder de veto da Rússia (substituindo a URSS), EUA, China, Inglaterra e França.
Segundo a ONU, existem atualmente no mundo 30 regiões em conflito, a maioria armados. Os conflitos envolvem disputas territoriais, diferenças étnicas, religiosas e recursos naturais, inclusive a água. Existem a décadas zonas de tensão geopolítica, a exemplo da Coreia do Norte, do Irã, da Palestina e Israel. Há ainda movimentos separatistas que criam instabilidades políticas e econômicas regionais, como na Irlanda do Norte, no País Basco e na Catalunha (Espanha), no Quebec (Canadá) e na Columbia, entre outros.
Em tempo real, de maneira dramática e espetacular, o mundo acompanha a tragédia na Ucrânia e na Palestina. Enquanto pouco é noticiado em relação aos conflitos regionais que acontecem na América, na África, na Ásia e na própria Europa, há décadas.
Assim, estão em disputa os modelos de hegemonia a nível internacional: a unipolaridade dos EUA consagrada após o esgotamento do modelo soviético em 1991 ou a perspectiva de um mundo multipolar – processo em andamento, um mundo onde a União Europeia, o Japão, os BRICKS, aqui incluídas a China e a própria Rússia, entre outros países, teriam uma participação mais efetiva na ONU e nos Organismos Multilaterais, construindo uma nova ordem mundial, mais ampla e aberta à cooperação internacional.
Sob qual perspectiva nos colocamos? O que temos a dizer como sociedade brasileira no processo de construção de uma cultura de Paz como caminho da sustentabilidade da própria humanidade?
Os desafios atuais e o futuro
Neste contexto mundial é que devemos avaliar as guerras e os conflitos regionais ora em curso e os impactos das declarações e ações das principais lideranças dos EUA e da Europa, destacando ainda a China, a Rússia e os países diretamente envolvidos
nas guerras e conflitos regionais.
A lógica da guerra, de resolver os conflitos entre os países manu militari, não interessa à maioria da humanidade. Interessa aos complexos industrial e militar historicamente construídos, consolidados nos tempos da guerra fria e que sobrevivem até à atualidade, trazendo aos senhores da guerra lucros fantásticos no processo de destruição e reconstrução dos territórios atingidos pelos conflitos, matando, na maioria das vezes, as crianças, a juventude e a população civil em geral, além de destruição da própria natureza, da arquitetura e da cultura milenar da humanidade.
O imperativo que se coloca é a luta em defesa e ampliação da Democracia como caminho para a construção de novas relações centradas na vida e na preservação da natureza, colocando a cultura e a educação para a Paz como fundamentos de novas relações nacionais, continentais e internacionais.
A pactuação dessa construção, através do diálogo e da cooperação permanentes, constitui um delicado desafio tendo em vista as dificuldades que estamos vivendo no Brasil e em toda a humanidade, acompanhadas em tempo real e espetacularizadas nos meios de comunicação. As guerras na Ucrânia e na Palestina, os conflitos regionais e os impactos das mudanças climáticas desnudam as fragilidades dos sistemas políticos, econômicos e sociais em que vivemos, desafiando a humanidade na perspectiva de construção de novas relações entre si e com a própria natureza.
As realidades das ruas e nas redes sociais trazem, em tempo real para toda a Humanidade, os genocídios, a tragédia social de milhões de pessoas que sobrevivem aos massacres, continuando à margem das conquistas sociais elementares: educação, trabalho, alimentação, moradia, saúde-saneamento básico, mobilidade e uma renda básica, assegurados na Declaração Universal e nas Constituições Nacionais,
inclusive na atual Constituição brasileira.
A tecelagem de uma alternativa democrática às crises política, econômica, social, sanitária e ambiental em que vivemos nos desafia a trabalhar de maneira inadiável a unidade das forças democráticas, dialogando com o mundo do trabalho e da cultura para a mobilização de uma frente política que garanta o Estado de Direito e o exercício da Cidadania no caminho da melhoria de vida da população brasileira e mundial.
Há espaços no Brasil e no mundo para a construção de novas relações políticas, econômicas e sociais, direcionando os investimentos hoje utilizados para a guerra a favor da educação e da ciência & tecnologia no enfrentamento dos reais problemas econômicos, sociais e ambientais da humanidade.
A sustentabilidade política, econômica, social e ambiental planetária estão em pauta. Estamos desafiados à construção de sociedades democráticas no caminho de construção de uma cultura de Paz para o Brasil e toda a humanidade. Portanto, a luta pela Paz é a luta pela Sustentabilidade do Planeta, é a luta pela vida de cada um de nós. A política, a diplomacia e a cidadania devem estar juntas agindo no sentido de resolução dos conflitos militares, dos refugiados ou de qualquer outro conflito social e ambiental. A ONU deve continuar a ser o espaço privilegiado no caminho de resolução dos conflitos militares entre a Rússia e a Ucrânia, entre Israel e a Palestina, e de todos os outros conflitos militares ou de qualquer natureza em curso no planeta. Cada ser humano é importante, independente da sua nacionalidade, da sua pele, opção sexual ou religião.
Assim, como nunca, devemos trabalhar e lutar por uma cultura para a Paz. Afirmar e reafirmar os valores que nos fazem humanidade: a cooperação, a solidariedade, a luta pela igualdade, liberdade e fraternidade; valorizando, defendendo e consolidando a democracia como caminho e instrumento fundamental deste processo.
Os caminhos e as alternativas estão colocadas: as opções entre a democracia e a barbárie continuam postas. É um processo permanente, em construção. A questão democrática, a sustentabilidade e a cultura da paz se colocam como valores para a sociedade contemporânea nas suas relações entre si e com a própria natureza, no caminho de sermos uma melhor humanidade.
Estamos desafiados!
*Professor, Doutor UFBa.
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