sábado, 2 de dezembro de 2023

Oscar Vilhena Vieira* - Censura nunca mais

Folha de S. Paulo

Decisão do STF impõe ao jornalismo o dever de se autocensurar preventivamente

Supremo decidiu nesta semana que os veículos de imprensa poderão ser responsabilizados por declarações feitas por seus entrevistados, caso não tomem o devido cuidado na verificação dos fatos por esses divulgados.

Essa decisão impõe aos meios jornalísticos o dever de se autocensurarem preventivamente. Mais do que ameaçar a liberdade de imprensa, atinge um dos pilares fundamentais do regime democrático, que é a existência de uma ampla e desimpedida esfera de debate público, essencial para que os cidadãos possam formar suas próprias opiniões e exercer de maneira autônoma o direito de escolher e julgar os seus governantes.

Embora a liberdade de imprensa seja um dos temas mais espinhosos do direito constitucional, o Supremo parece ter caído, desnecessariamente, em uma armadilha pueril, ao assumir como premissa de sua decisão a ideia de que "a plena proteção constitucional à liberdade de expressão é consagrada pelo binômio liberdade com responsabilidade". Ao estabelecer uma falsa simetria entre liberdade de expressão e diretos de personalidade (no campo do debate político), constrangeu indevidamente a proteção da liberdade de expressão.

Constituição de 1988 adotou um regime de primazia da liberdade de imprensa ao definir que a "lei não pode estabelecer qualquer embaraço à plena liberdade de informação jornalística". Não pode o Supremo, portanto, obstruir a liberdade da imprensa ou atribuir aos veículos a obrigação de realizar a censura prévia do debate político, sob a pena de serem responsabilizados caso não cumpram essa tarefa.

Nesse sentido, o Supremo cometeu um grave equívoco ao permitir a responsabilização dos veículos de comunicação por eventuais informações falsas prestadas por um entrevistado, sem aferir, no momento da publicação, "indícios concretos da falsidade" ou observar o "dever de cuidado na verificação dos fatos".

Como corretamente afirmou o ministro Barroso logo após o julgamento, o veículo de comunicação só deveria ser responsabilizado quando tivesse agido "com dolo, má-fé ou grave negligência". Infelizmente, a tese aprovada pelo Supremo não incorporou o rigoroso teste articulado por Barroso. O "dever de cuidado" ou a existência de "indícios de falsidade" são parâmetros muito fluidos e tênues, incapazes de assegurar uma proteção robusta à liberdade de imprensa.

Conforme estabelecido pelo canônico caso New York Times v. Sullivan, decidido pela Suprema Corte norte-americana em 1964, a responsabilização do veículo de imprensa apenas deveria ocorrer quando ficasse demonstrado a existência de "malícia" ou "grave negligência" na publicação de fatos falsos e difamatórios divulgados por terceiros.

Dada a centralidade da questão da proteção da liberdade de imprensa para o bom funcionamento da democracia, assim como o compromisso da maioria dos ministros com a nossa Constituição, seria muito positivo que o Supremo reconsiderasse a sua decisão. Na forma como ficou redigida, a tese fixada pelo Supremo servirá apenas para restringir ainda mais a liberdade de expressão e intimidar os veículos de imprensa. A democracia brasileira não precisa nem merece isso.

Essa e outras questões difíceis passarão a fazer parte do cotidiano do ministro Flávio Dino caso sua indicação seja ratificada pelo Senado. Flávio Dino tem não apenas um sólido lastro reputacional como também um amplo domínio das diversas áreas do direito, sedimentado por suas passagens marcantes pelo Judiciário, Legislativo e Executivo. Poucos "juristas de Estado" congregam a experiência e o talento do ministro Flávio Dino para contribuir com uma corte que tem por missão a guarda da Constituição.

*Professor da FGV Direito SP, mestre em direito pela Universidade Columbia (EUA) e doutor em ciência política pela USP. Autor de "Constituição e sua Reserva de Justiça" (Martins Fontes, 2023)

9 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

O PT, Lula, Gleise Hoffmann ; Jair Bolsonaro, seus Filhos::
■■Estes sempre xingaram e orientaram seus menorezinhos a xingar, desmoralizar e desestabilizar a nossa bem séria imprensa e seus jornalistas.

Claro!::
■■O PT e o lulismo e Bolsonaro e o bolsonarismo NENHUM compromisso têm com a democracia. NUNCA tiveram!

Anônimo disse...

Lula, o lulismo, o PT, Jair Bolsonaro e o bolsonarismo, estes são corruptos ou apoiadores de corruptos e são apoiadores de ditaduras e de seus ditadores torturadores.

Estes, do lulismo e do bolsonarismo, estes sempre vão buscar a instabilização da Ordem aqui e lá fora, se articulando com ditadores e com terroristas contra as democracias.

Mas uma intimidação à imprensa vinda do STF eu jamais esperava.

Anônimo disse...

■■■Ocorre que hoje o STF está dominado exatamente por estas duas forças corruptas e populistas:: o lulismo e o bolsonarismo.

■■O mesmo STF que um dia acompanhou exemplarmente a Constitucionalidade de dois escândalos, o "MENSALÃO" e o "PETROLÃO"; o mesmo STF que referendou cada uma das decisões das investigações e dos julgamentos dos corruptos envolvidos nestes escândalos...

...Este mesmo STF deixou que Gilmar Mendes guardasse por três anos...

...■Guardasse por TRÊS ANOS !...

...um processo cuja decisão posterior poderia servir para proteger as delinquência e deixar Lula e a corrupção $Bilionária do esquema do PETROLÃO impunes.

E USARAM este processo para anularem TUDO o que eles mesmos haviam referendado.

Anônimo disse...

■■■Anularam cada medida, anularam cada uma das decisões que levaram à condenação dos corruptos Lula, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Odebrecht...

...Anularam decisões que durante anos eles mesmos, do STF, haviam confirmado cada uma como Constitucionais!

■■■Usaram uma manobra e guardaram um processo específico (deixaram que Gilmar Mendes guardasse) durante TRÊS ANOS para depois usarem este processo para anularem as decisões de condenação de Lula, Sérgio Cabral, Odebrecht, Eduardo Cunha...

Estes corruptos estão todos aí por causa das manobras e "entendimentos" destes caras!

Anônimo disse...

E agora vem essa, de o STF se juntar ao lulismo e ao bolsonarismo para intimidaram a imprensa!

Anônimo disse...

■■E não adianta os bolsonaristas virem gritar que é só o PT e "seus" ministros do STF que ameaçam a democracia e a imprensa e constrangem e xingam jornalistas quando os jornalustas não se submetem ao PT::
=》O bolsonarismo também faz isso!

Anônimo disse...

Aonde está chegando o STF!
■■Eu jamais imaginei que um dia viesse do STF uma ameaça à democracia!

■■■Tudo neste nosso país mudou muito e, hoje, até do STF vem intimidação, proteção a delinquentes e ameaça à imprensa e à democracia.

ADEMAR AMANCIO disse...

Dino só tem há contribuir.