Folha de S. Paulo
Alberto da Costa e Silva foi diplomata para
desforrar-se de Rio Branco, que barrava os feios
No seu livro "Balão Cativo", Pedro Nava conta
que nos tempos de Rio Branco não havia concurso para ingressar na
"carrière". Era ele próprio, o barão, quem dava a palavra final na
escolha dos futuros diplomatas, em geral pessoas de família influente e
bem-apresentadas. O poeta Antônio Francisco da Costa e Silva, apesar de
candidato dos mais qualificados, não deu nem para a saída.
Na descrição de Nava, a face de Da Costa e Silva "parecia um bolo de miolo de pão com os furos dos olhos, das ventas e da boca". Depois de almoçar com Rio Branco, ele ouviu a sentença antes da sobremesa: "Até gosto dos seus versos e aprecio seu talento. Contra sua pretensão o que está é seu físico. Eu só deixo entrar na carreira homens de talento que sejam também belos homens. A diplomacia exige isso. Desejo-lhe boa sorte em tudo. Agora, no Itamaraty, não! O senhor aqui não entra".
O historiador e africanista Alberto da Costa
e Silva, filho do poeta tão rudemente preterido, tornou-se diplomata para tirar
uma desforra do barão. Numa entrevista, ele me contou mais detalhes da história
familiar: "Nascido no Piauí, meu pai era um mestiço indefinido. Rio Branco
primeiro o elogiou, o considerou inteligente, preparado ao extremo, bom
conversador em francês, conhecedor de inglês, alemão e espanhol. Depois foi
cruel, ao dizer na cara de meu pai que ele era feio e que, lá fora, já chamavam
o Brasil de país dos macaquitos".
Alberto
morreu no domingo (26), aos 92 anos. Ainda me lembro da sua voz
emocionada ao relatar o episódio. Perguntei se Da Costa e Silva era realmente
feio. "Ele tinha mãos bonitas. De perfil, era um homem passável".
Com sua produção historiográfica, Alberto da Costa e Silva explicou, como ninguém antes dele, a importância da África e da diáspora africana para que possamos entender um certo país do outro lado do Atlântico, que continua tão exclusivista como nos tempos do barão
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