quarta-feira, 14 de junho de 2023

Bruno Boghossian - União Brasil contra União Brasil

Folha de S. Paulo

Qualquer proposta de alinhamento será considerada incerta ou terá preço alto demais

Pouca gente apareceu para defender Daniela Carneiro durante a passagem da ministra pela Câmara nesta terça (13). Na Comissão de Turismo, havia mais deputados de oposição do que governistas para a audiência que pode ter sido um de seus atos finais como titular da pasta.

Daniela foi ao Congresso depois de conversar com Lula no Planalto. Prestes a perder o cargo, ela não quis passar recibo: disse que receberia os parlamentares na Esplanada e avisou que o Ministério do Turismo estava de portas abertas para os políticos. Os deputados, porém, já tratavam a convidada como ex-ministra.

A perda de sustentação política de Daniela é a prova final de que Lula calculou mal a escolha para a pasta. O longo processo de fritura da ministra, de outro lado, é uma exibição pública do problema que a União Brasil se tornou para o petista.

Formada a partir de uma fusão artificial entre dois partidos de direita (PSL e DEM), a legenda testou um figurino centrista e flertou com o novo presidente. Mas disputas internas protagonizadas por quatro grupos diferentes fizeram com que qualquer proposta de alinhamento fosse considerada incerta ou assumisse um preço alto demais.

O estopim da queda de Daniela refletiu uma dessas brigas por poder. O grupo da ministra resolveu deixar a União Brasil depois de ser enquadrado pelo presidente da legenda, Luciano Bivar, num embate pelo controle do partido no Rio.

Bivar, por sua vez, tem sua própria disputa. O presidente da União Brasil prometeu a Lula uma adesão da legenda ao governo em aliança com o senador Davi Alcolumbre, mas contra a vontade da bancada na Câmara. Os deputados se recusam a entrar oficialmente na base do petista e querem negociar cargos de forma independente, usando votações para pressionar o governo.

Lula escolheu a partilha de ministérios como ferramenta para formar uma maioria no Congresso. Se depender da União Brasil, atender a todos pode custar quatro vezes mais caro do que o preço de tabela.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Carácoles!