O Globo
Em sua primeira entrevista após assumir,
Paulo Gonet revelou quais serão as suas prioridades do biênio à frente do
Ministério Público
O procurador-geral da República, Paulo Gonet,
revelou que vai propor como meta ao Conselho Nacional do Ministério Público “o
combate ao crime organizado” porque o país não pode ter “um estado paralelo”.
Disse que o Ministério
Público tem lições a aprender com os erros da Lava-Jato, mas
não pode deixar de combater a corrupção. “Uma sociedade que feche os olhos para
a corrupção é uma sociedade que está perdida.” Ele falou que vai reanalisar os
casos denunciados pela CPI da Covid. A
respeito das investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro serão
levadas às últimas consequências, garante.
— Há muita gente que não percebe que o crime não acontece apenas quando alguém furta o seu celular, entra na sua casa e faz os habitantes de reféns. O crime existe também quando se atenta contra o regime que propicia uma boa vida para as pessoas e esse regime é o regime democrático, é o regime republicano. Quando alguém se insurge de modo violento contra esse regime e essa conduta se encaixa numa hipótese de punição prevista pelo povo, na hora que ele edita a lei, nós somos obrigados a aplicar essa lei.
Na primeira entrevista que concedeu desde que
assumiu, Paulo Gonet me
disse como pretende ser seu biênio, quais são as suas prioridades e respondeu
às críticas que o rotulavam como “conservador”. A entrevista foi ao ar no meu
programa na GloboNews e a íntegra está no Globoplay. Na gestão anterior, todas
as denúncias levadas ao Ministério Público pela CPI da Covid contra o
ex-presidente Jair Bolsonaro foram arquivadas. Isso será revisto.
— Nós temos, inclusive, dados da CPI para
serem avaliados, decisões do Supremo mandando para a Procuradoria, elementos,
achados que foram feitos no Congresso durante esse período. Vamos reanalisar
aquilo que for possível realizar ainda em termos de análise e de repercussão
jurídica do que foi feito, e do que deixou de ser feito.
O nome de Gonet foi muito criticado no PT por
ser considerado “conservador”. Perguntei como ele se define. O procurador disse
que não gosta de rótulos, porque são reducionistas.
— Não gosto dessas definições conservador e
progressista. Não conheço ninguém que seja sempre conservador, nem ninguém que
seja sempre progressista. Eu não consigo raciocinar em termos desses rótulos
progressistas ou conservadores. As nossas tradições têm qualidades que devem
ser preservadas e nós também temos sempre que progredir. Eu não faço esses
rótulos porque são redutores. E tudo que é redutor é ruim, é contrário à
dignidade.
Gonet contou que na conversa — que ele
definiu como “muito republicana” — com o presidente Lula sobre o cargo, foi
perguntado como via o papel de um PGR.
— Ele perguntou o que eu achava que era o
papel do procurador-geral. Eu disse: o título diz tudo. É procurador-geral da
República. Não é um representante sindical da carreira, não é procurador-geral
de um partido, não é o procurador-geral de um governo. Ele é um
procurador-geral da República. O que é a República? É o conjunto dos melhores
valores de convivência que a civilização consegue nos oferecer neste momento e
que estão todos eles ali translúcidos na Constituição. Fiquei feliz de
constatar que era exatamente o pensamento do presidente da República.
Gonet diz que é preciso ir além dos executores
dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 nas medidas punitivas.
— Não adianta ficar apenas com o executor e
deixar outras pessoas que contribuíram de forma decisiva para os mal feitos
fora do espectro da nossa atuação. Há muitas medidas em andamento que ainda
estão sob sigilo. O que eu posso dizer é que o propósito de todos os envolvidos
na apuração desses fatos é de ir às últimas consequências. É como eu disse,
atuar de modo republicano. Quem tem o que explicar vai precisar explicar. Nós
não vamos fazer prejulgamentos e dizer: ‘olha, você deve ter cometido isso. Então
nós vamos punir’. Não, é atuar sempre de acordo com os parâmetros da
Constituição, com respeito ao devido processo legal, o respeito da eficiência
da administração que, muitas vezes, impõe a necessidade de sigilos, o respeito
ao direito de defesa. Tudo isso vai ser levado em consideração nas nossas
atuações. Mas a nossa atuação vai procurar ser a mais completa que os fatos lhe
permitirem. (Com Ana Carolina Diniz)
*Eu vou morrer de saudade desse espaço nos próximos 30 dias em que estarei de férias. O blog ficará com as competentes Ana Carolina Diniz e Luciana Casemiro.
Um comentário:
Boas férias.
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