Folha de S. Paulo
Interpretação dos números requer mais do que
palpites
Três institutos de pesquisa de opinião
registraram queda na
aprovação do governo do presidente Lula.
Os resultados são inquestionáveis; já sua interpretação requer mais do que
palpites, ainda quando bem-informados. Sendo as sondagens —vá lá o chavão—
retrato dos humores do momento, convém apreciá-las na sequência de outros
levantamentos ao longo do tempo e cotejá-los com avaliações similares de
governantes de outras democracias.
É o que sustentou o sociólogo Antonio
Lavareda, tarimbado analista da matéria, no podcast "O Assunto É", no
ar desde a semana passada sob o comando da jornalista Natuza Neri.
Baseado em estudo do Ipespe Analítica, ele apontou que, em conjunto, os 37 levantamentos de diferentes institutos desde fins de janeiro de 2023 revelam oscilações em torno dos 50% de aprovação, indicando ser bastante estável a atitude dos brasileiros em relação ao governo. E, por retratar a opinião da população adulta, é de fato superior à margem de votos com os quais Lula venceu Bolsonaro em 2022.
O professor Lavareda lembra ainda que o
mandatário brasileiro está em situação invejável quando comparado a outros
governantes democráticos das mais diferentes orientações políticas.
O centrista Emmanuel Macron é aprovado por
pouco menos de 25% dos franceses; o primeiro-ministro britânico, o conservador
Rishi Sunak, por 27% dos ingleses; o social-democrata Pedro Sanchez por 38% dos
espanhóis; o americano Joe Biden, por 37% dos seus concidadãos; e só 20% dos
alemães batem palmas para o chefe de governo Olaf Scholz, social-democrata (mas
presidindo a chamada Grande Coalizão).
Ainda segundo Lavareda, a percepção dos
brasileiros de sua situação econômica é o alicerce que dá arrimo e estabilidade
à atitude positiva face ao governo.
Já as oscilações não são de fácil leitura —o
que delas faz terreno fértil para hipóteses divergentes, cujo acerto é
impossível comprovar com os dados à mão. A oposição as atribui aos tropeços
retóricos do presidente e aos desacertos da ação governamental. Já o governo, à
inadequada comunicação do muito de bom que acredita estar fazendo.
É próprio das democracias esse desencontro
que, só nelas, se dá à vista de todos, graças à diversidade dos centros de
informação e à liberdade de expressar opiniões. Parece ser típico delas,
também, as oscilações da opinião pública que as pesquisas retratam, as forças
políticas interpretam a seu gosto e submetem a seus propósitos e os governos
levam em conta, ou tentando informar melhor o que fazem ou buscando sintonia
mais fina com os temores e aspirações das maiorias.
Um comentário:
Pois é.
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