Valor Econômico
Se no calendário faltam seis meses para a eleição do sucessor de Arthur Lira na presidência da Câmara, na prática essa conta reduz-se a três por causa das eleições municipais
Na política, a aritmética não é exata. Não
raro, o placar do plenário subtrai os votos contabilizados nas planilhas dos
líderes, e, nas eleições para as Mesas Diretoras, os votos até se multiplicam.
Quem não se lembra da eleição para presidente do Senado em 2019, quando
surgiram 82 votos na urna de apenas 81 senadores?
Nessa toada, na tabuada da política, seis podem ser três. Se no calendário faltam seis meses para a eleição do sucessor de Arthur Lira na presidência da Câmara dos Deputados, na prática essa conta reduz-se a três por causa das eleições municipais. Uma arritmia temporal que esfria mais rápido o café do chefe do Legislativo.
Nas coxias, os postulantes à cadeira do
alagoano já estão em ritmo frenético de pré-campanha, promovendo festas para os
deputados e fazendo corpo a corpo nos bastidores. Há pressa, porque de agosto a
outubro, a Casa estará vazia com os parlamentares em campanha em suas bases. A
partir de novembro, serão cortejados em troca de votos.
Em entrevista aos repórteres Marcelo Ribeiro
e Fernando Exman, publicada nessa quinta-feira no Valor, Lira confirmou
que pretende anunciar o nome do candidato que terá o seu apoio em agosto. “A
gente tem que organizar a sucessão, [vai ser] não pensando em um nome, mas na
manutenção de tudo que o Legislativo conquistou”, justificou.
Todavia, há uma confusão de sentimentos entre
deputados sobre o candidato que terá o apoio de Lira. A percepção é de que o
escolhido por ele será o favorito. O receio, porém, é que esse escolhido dê
continuidade ao “modus operandi” do parlamentar do PP, considerado, por alguns,
incisivo demais.
Essas queixas partem de deputados do baixo
claro e até mesmo de presidentes das comissões temáticas. Esses colegiados
acabaram esvaziados pelos ritos estabelecidos por Lira para projetos
relevantes, de modo que as propostas passam apenas por uma comissão especial e
depois seguem ao plenário. Na recente regulamentação da reforma tributária, o
projeto foi submetido a um grupo de trabalho de sete deputados, e depois levado
ao plenário.
Em síntese, sob Lira, as comissões
permanentes e, até mesmo, as comissões temporárias, como as das medidas
provisórias - que deixaram de ser instaladas - perderam relevância, reduzindo
os poderes dos deputados e os espaços de debates.
Na semana passada, Arthur Lira saiu para o
recesso mais uma vez vitorioso com a aprovação de um dos projetos de lei
complementar da reforma tributária. Entretanto, o estilo considerado açodado
para debater um item complexo e de amplo interesse público não agradou a todos.
Um deputado influente ouvido pela coluna
lembrou que uma semana antes Lira reuniu na residência oficial alguns líderes
de bancadas para discutir o rito e o cronograma de votação da reforma
tributária. Foram convocados apenas cinco líderes, mas cujas bancadas somam
mais de 400 deputados. Nessa reunião, ficou acordado que os parlamentares não
apresentariam destaques ao texto principal, ou seja, não haveria votações
separadas de dispositivos, para acelerar o ritmo dos trabalhos.
No dia seguinte à aprovação da proposta, em
entrevista ao Valor, o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), mencionou
esse acordo em resposta às críticas da oposição de que a gestão Lula teria
tentado atrapalhar a inclusão da carne com isenção fiscal na cesta básica.
Guimarães ponderou que havia o acordo com Lira para não emendar o texto-base,
mas o PL rompeu o acordado apresentando um destaque sobre a matéria que foi
aprovado.
Ao fim, na fotografia, o PL saiu-se como
“herói” da carne mais barata junto à população, enquanto o PT amargou a pecha
de derrotado em um tema sensível para o governo.
Poucos verbalizam a insatisfação com o estilo
Lira de conduzir os trabalhos. Em dezembro, gerou mal estar no plenário a
discussão entre o deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) e o presidente da Casa.
Na votação do projeto de marco legal de crédito de carbono, Van Hattem reclamou
que a proposta teria sido incluída na pauta com poucos deputados presentes e
sem acordo. O ex-líder do Novo teve o microfone cortado, e chamou Lira de
“tirano”. Em reação, Lira advertiu que as “brincadeiras no plenário” iriam acabar.
A coluna procurou o líder do União Brasil,
Elmar Nascimento (BA), um dos mais próximos de Lira, e que vem sendo apontado
nos bastidores como o favorito dele para a sucessão. Ele não quis falar, mas um
de seus interlocutores comentou que Lira tem acertado muito diante do volume de
entregas, sendo a reforma tributária a mais expressiva. Mas ressalvou que Elmar
tem ouvido os deputados e estaria disposto a “melhorar o que já está dando
certo”.
Lira tem compromisso, também, com o 1º
vice-presidente da Casa e presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), que
em 2023 retirou sua candidatura para apoiar a recondução do alagoano ao cargo e
evitar a disputa. Desta vez, entretanto, Pereira tem enfatizado aos aliados que
não vai recuar. Na pré-campanha, tem dito que é apenas “um entre os 513”
deputados, e que iria mudar o estilo de condução dos trabalhos da Casa.
Ao Valor, Lira reforçou que atuará para
que haja apenas um candidato: “Nós não temos três ou quatro vagas de presidente
da Câmara, nós só temos uma. Ou vai ser polarizada, ou vai ser debatida, ou vai
ser acordada”, frisou.
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