O Estado de S. Paulo
Basta pensar no modesto valor investido em bens materiais de produção para perceber quão pouco se cuidou, durante tantos anos, do potencial de expansão econômica
Otimismo, hoje, é apostar num crescimento igual ou superior à média mundial, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já se declarou disposto a fazer esse jogo, aumentando a projeção oficial de 2,5% para a vizinhança de 3%. As expectativas têm melhorado também no mercado financeiro, mas a estimativa registrada no último boletim Focus era ainda modesta, 2,23%. O Brasil continua, por esses números, num dos últimos pelotões da economia global, e assim deverá permanecer no futuro próximo, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Não se observam, em todos esses cálculos, sinais de maior dinamismo no horizonte. Os números podem ser um pouco diferentes, mas os cenários são de mediocridade tanto nas projeções do mercado quanto naquelas de instituições multilaterais. A explicação, nada misteriosa, está nas políticas seguidas em Brasília.
O produto mundial deve crescer 3,2% em 2024 e
3,3% em 2025, segundo estimativa recente do FMI. Para as economias emergentes e
em desenvolvimento, as projeções indicam expansão de 4,3% em cada um desses
anos. Os cálculos para o Brasil apontam avanço de 2,1% neste ano e de 2,4% no
próximo. Este número supera algumas projeções – do mercado e de entidades
multilaterais – publicadas nos últimos dez anos. Mas os padrões têm sido muito
parecidos nas séries calculadas por economistas do mercado e de organismos internacionais.
O crescimento esperado para os anos seguintes tem ficado normalmente em torno
de 2%.
O desempenho econômico do Brasil foi um pouco
melhor nos primeiros 18 meses do atual mandato, mas o governo continua devendo
um plano com definição de metas, etapas e instrumentos de operação. O
empresariado tem contribuído para garantir algum dinamismo nos próximos anos.
No segundo trimestre o investimento produtivo foi 3,3% maior que no primeiro e
7,3% superior ao do período correspondente de um ano antes, segundo o Monitor
do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV). Mas a base de comparação é muito baixa,
porque o total investido em máquinas e equipamentos encolheu na maior parte do
ano passado, segundo ressalvou a economista Juliana Trece, coordenadora da
pesquisa.
Além disso, é preciso lembrar um detalhe nem
sempre citado na discussão econômica do dia a dia. O valor investido na
capacidade produtiva foi muito baixo no último quarto de século. A partir de
janeiro do ano 2000, a média das taxas trimestrais de investimento ficou em
17,9% do PIB. Esse número diminui para 16,4% quando se toma como ponto inicial
o mês de janeiro de 2015. Qualquer desses dados fica muito abaixo dos padrões
observados nas décadas finais do século passado, quando a taxa de investimento
foi geralmente superior a 20%.
Com tão pouco dinheiro aplicado em máquinas,
equipamentos, instalações, construções civis e obras públicas, o Brasil
dificilmente poderia escapar de padrões medíocres de crescimento – previstos
para os próximos anos e já observados na maior parte dos últimos 25. Ainda se
poderia lembrar a deficiente formação da força de trabalho, um inegável fator
de baixa produtividade. Mas basta pensar no modesto valor investido em bens
materiais de produção para perceber quão pouco se cuidou, durante tantos anos,
do potencial de expansão econômica.
Sem maior formação de capital produtivo, o
País continuará privado tanto de aumento do produto quanto de expansão de
oportunidades para uma força de trabalho ainda em crescimento. Investimento
maior ou menor faz diferença para a sustentação e a ampliação da atividade,
neste momento e no futuro próximo, e também para a melhora de condições para os
jovens. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem-se esforçado para financiar
programas de apoio aos mais carentes. Poderia empenhar-se mais em ampliar os
caminhos de ascensão econômica para os pobres.
Educação e treinamento são meios obviamente
indispensáveis, mas seus efeitos serão limitados se o investimento produtivo
for insuficiente. Esse investimento – em vias e meios de transporte, por
exemplo, ou em distribuição de energia – nem sempre será voltado de forma
explícita para o desenvolvimento social. Mas a melhora de uma infraestrutura
deficiente pode ser benéfica para todos os grupos, se o conjunto da política
for dirigido para o desenvolvimento no sentido mais amplo. Não bastará educar,
se o jovem continuar carente de oportunidades econômicas. Essa aparente
obviedade é com frequência negligenciada no debate político.
Oportunidades dependerão tanto de ações
voltadas para o desenvolvimento social quanto de políticas desenhadas para o
crescimento econômico. Não bastará rever as prioridades da política pública, se
a expansão da atividade continuar em marcha lenta. O sucesso de uma política
social dependerá também da elevação do investimento, da multiplicação dos
negócios e da ampliação do emprego. É essencial, para o atendimento dos
chamados objetivos sociais, livrar o País da maldição dos 2% de crescimento.
Sem maior dinamismo, a chamada “questão social” continuará motivando muita
retórica e pouco trabalho efetivo de transformação.
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