Folha de S. Paulo
Livro analisa ocaso de regimes autoritários;
maioria termina por meio de golpe
Depois de uma prolífica safra de livros com
títulos na linha de "Como as
Democracias Morrem", chega agora ao mercado "How Tyrants
Fall" (Como Tiranos Caem), de Marcel Dirsus.
O livro tem um aspecto catártico. Devo confessar que meu lado sádico se deleitou ao ler as descrições sobriamente detalhadas do fim que tiveram monstros como Nicolae Ceaucescu, Saddam Hussein e Muammar Gaddafi. Ainda que por um átimo, chegamos a acreditar na falácia do mundo justo.
"How Tyrants..." não é, contudo, um
manual de autoajuda, mas um livro de divulgação em ciência política, o que
significa que ele também traz números e avança hipóteses e explicações
sistemáticas.
O quadro geral é do tipo copo meio cheio,
meio vazio. Ser líder
autocrático é uma profissão de risco moderado: 69% deles ficam
bem após deixar o poder; "apenas" 23% terminam suas carreiras
exilados, presos ou mortos. Mas, quanto mais personalista se torna o regime,
maior o perigo. Quando examinamos o destino de ditadores que concentravam o
poder em suas próprias mãos, aí os números viram: 69% deles foram para exílio,
prisão ou experimentaram o assassinato.
Por vezes, tiranos são depostos por revoltas
populares. E, quando mais de 3,5% da população sai às ruas para protestar, isso
se torna praticamente inevitável. Mas o mais comum é que líderes autoritários
acabem sendo removidos por membros de seu próprio governo (golpe), o que ocorre
em 65% dos casos.
Dirsus consegue um bom equilíbrio entre dados
abstratos e histórias concretas. Também oferece explicações para algumas
constantes, como o fato de ditaduras, em especial as personalistas, tenderem a
ser regimes corruptos e incompetentes. Tiranos precisam recompensar a lealdade,
não a eficiência.
A proposta do autor era escrever um guia de
como destituir tiranos. Conseguiu. Mas é claro que a obra também pode ser lida
por ditadores e funcionar como um guia de como permanecer no poder.
Um comentário:
Cruzes!
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