O Estado de S. Paulo
O brasileiro está ficando cada vez mais
velho, sem ter deixado de ser pobre. Que a população brasileira estava
envelhecendo já se sabia. O que não se sabia e acaba de ser revelado pelo IBGE
é que, além de antecipado, esse processo está sendo acelerado.
É cada vez menos gente nascendo e cada vez
mais gente esticando a expectativa de vida, graças aos avanços da medicina e
melhor entendimento do que seja vida saudável. Há 20 anos, se alguém morria aos
60, diziam: “viveu muito!”. Hoje, quem passou dos 80 se pergunta se não pode
passar dos 100.
Em 2070, entre cada 100 brasileiros, cerca de
40 já serão sexagenários e 11 terão mais de 80.
Hoje, 15,6% da população tem mais de 60 anos, em 2070, a proporção será de 37,8%.
As tensões que se impõem sobre esses
imperativos demográficos vêm sendo apontadas: perspectiva de quebra da
Previdência Social, se nada se fizer para reduzir o rombo crescente; menos
gente a pagar impostos e mais a exigir despesas públicas; e impacto sobre as
políticas de saúde, porque aumentarão as doenças do avanço da idade.
É preciso certo cuidado com projeções
catastrofistas nessa matéria, porque muita coisa pode mudar. O economista
britânico Thomas Malthus notou, no século 19, que a população crescia a
proporções geométricas enquanto a produção de recursos (alimentos e matérias-primas)
crescia apenas a proporções aritméticas. Ele previa futuro lúgubre para a
humanidade. Depois, muita coisa virou essa sina: veio a revolução verde, que
multiplicou a produção de alimentos; a reciclagem dos materiais; vieram os
enormes avanços tecnológicos; a globalização e, para o bem ou para o mal, veio
a macrocefalia do mercado financeiro.
A queda da fecundidade e o envelhecimento
impõem a perda do chamado bônus demográfico, que são as condições ideais que
garantem crescimento econômico robusto.
É possível que a quebra da disponibilidade de
mão de obra tenha como consequência o avanço do período de atividade do
trabalhador. Ou seja, talvez os cinquentões não estarão tão sujeitos a
demissões como agora.
Mas vão se delineando novas necessidades da
política econômica. O País poderá necessitar de mais lares de velhinhos e de
menos escolas. Aumentará a procura de cuidadores e de personal trainers
especializados em exercícios para idosos. O SUS terá de adaptar-se para lidar
mais com doenças degenerativas. As habitações deverão prever melhores
condições.
Mas o impacto maior poderá deslocar-se para a
política. Uma população predominantemente de coroas tende a ser mais
conservadora do que uma população mais jovem. E isso deverá ter consequências
eleitorais e outras mais.
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