domingo, 8 de setembro de 2024

Celso Rocha de Barros – A Economist e a suspensão do Twitter

Folha de S. Paulo

Em editorial, The Economist ignorou que a origem do conflito está na recusa da rede social em suspender contas que divulgaram desinformação durante a tentativa de golpe

Em sua última edição, a revista britânica The Economist publicou um editorial sobre redes sociais e liberdade de expressão, criticando a suspensão do Twitter no Brasil. O texto tem o mérito de ser uma oportunidade de ouro para uma errata de página inteira.

A revista britânica apoia a ofensiva das instituições francesas contra o Telegram, um aplicativo que se tornou lugar seguro para se traficar drogas, vender contrabando e distribuir pornografia infantil.

Concordo inteiramente com a The Economist: quando alguém entra no Telegram e escreve "vendo pornografia infantil", deve ser suspenso, não pela frase que escreveu, mas pelo que fez ao escrevê-la: ofereceu fotos de crianças abusadas em troca de dinheiro. Não há qualquer opinião cuja liberdade precise ser defendida aqui, porque não é de opiniões que se trata.

A The Economist também defende a suspensão do TikTok nos Estados Unidos. A empresa chinesa tem sede em Pequim, e, por isso, "está vulnerável às manipulações do Partido Comunista Chinês". Seria errado, argumenta o editorial, deixar que essa influência política estrangeira controle o fluxo de informações disponível para o público americano.

Não sei se a China está mesmo usando o TikTok politicamente. Mas concordo com o princípio: uma rede social é um espaço público, que deve ter sua integridade garantida contra a manipulação por estrangeiros defensores de ideologias radicais.

A The Economist se opõe à suspensão do Twitter no Brasil. Segundo o editorialista, o Twitter foi suspenso no Brasil por "se recusar a obedecer ordens judiciais opacas para remover dúzias de contas".

Qualquer coisa é opaca para quem tem preguiça de estudá-la. A The Economist não informou seus leitores que a origem do conflito está na recusa de Elon Musk em suspender contas que divulgaram desinformação durante a tentativa de golpe perpetrada por Jair Bolsonaro em 2022.

A conspiração golpista já foi amplamente demonstrada por uma investigação da Polícia Federal que inclui depoimentos dos chefes do Exército e da Aeronáutica, bem como o conteúdo dos celulares do principal auxiliar de Bolsonaro (Mauro Cid) e de seu candidato a vice-presidente (Braga Netto).

Como os pedófilos do Telegram, os golpistas de Bolsonaro não postavam que a eleição foi roubada para expressar suas opiniões. Faziam isso para radicalizar seus militantes, em articulação com o presidente da república que, enquanto isso, conspirava dentro dos quartéis.

E o que Elon Musk faz no Brasil é o que os americanos temem que o Partido Comunista Chinês faça na América: promove desinformação contra a democracia. Os bolsonaristas sabem que um dos motivos do fracasso do golpe de 2022 foi a falta de apoio do governo Biden. Musk trabalha para que isso não se repita na próxima rodada.

Seria desejável que a The Economist tratasse o problema da incitação ao crime e ao extremismo no Brasil como trata nos casos francês e americano. Quando a revista reúne no mesmo parágrafo a decisão de Moraes e a censura contra mensagens anti-islâmicas na Malásia, confessa que não vai perder tempo aprendendo sobre as democracias do sul global. E o que é mais importante: não está mais ouvindo o alerta que estamos dando às democracias mais ricas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Quando o colunista não quer falar dos temas do momento basicamente um ministro estuprador que ficou um ano no cargo sobre a proteção do PT e da esquerda livre pra cometer todos os tipos de crime contra as mulheres, recicla temas antigos, usando os bordões já conhecidos, esperando o tema passar e continuar sua cruzada pessoal contra a "extrema direita" e capitalismo, enquanto se faz de santo.....

Mais um amador disse...

Ótima coluna.

Daniel disse...

Análise bem feita, sua crítica à The Economist é procedente.