O Globo
Vistos como profetas da catástrofe, os
ambientalistas se revelaram clarividentes
A crise climática está aí. O país vive a
maior seca em mais de meio século, dois mil municípios estão em condições de
risco e cidades são tomadas pela fumaça dos incêndios. No Dia da Amazônia,
soube-se que, em agosto, a região teve 38 mil focos de queimadas, um número
superior aos anos de Bolsonaro. A ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva, disse no Senado que o bioma do Pantanal pode desaparecer até o
fim deste século.
Os ambientalistas tinham razão. Vistos como
profetas da catástrofe, revelaram-se clarividentes. E agora? O pior cenário
seria a continuação do que acontece há décadas. Os defensores do meio ambiente
reclamam, nada acontece (ou faz-se uma lei) e as coisas continuam na mesma. A
orquestra toca a partitura errada e alguns instrumentos não tocam como deviam.
Antes da posse de Lula, circulou a proposta de se cuidar do meio ambiente por meio de uma política de transversalidade. Por trás dessa palavra que pode dizer muito, ou nada, o problema ambiental seria enfrentado por uma agência, fosse o que fosse, prevalecendo sobre as burocracias dos ministérios.
Enquanto o novo governo era uma arca de
sonhos, essa proposta inteligente ganhou destaque. Com a posse, veio a vida
real. Mobilizaram-se burocratas que não queriam compartilhar o poder de seu
quadrado e parlamentares que defendem os interesses dos agrotrogloditas. A
ideia da transversalidade foi queimada no escurinho de Brasília.
Não há receita visível para se resolver o
problema, mas está diante de todos a evidência de que as coisas não funcionam
mantendo-se a máquina que existe. É como querer que um caminhão voe.
No seu novo patamar, a crise ambiental pede
que se comece a discutir o formato da peça que implementará a transversalidade.
Do jeito que estão as coisas, a ministra Marina Silva vai ao Senado e diz o
seguinte:
— Nós estamos vivendo sob um novo normal que
vai exigir do poder público capacidade de dar resposta que nem sabemos como vão
se desdobrar daqui para a frente. (...) Somos cobrados para que se faça
investimentos que são retroalimentadores do fogo.
Lindas palavras, mas a ministra é parte do
que chama de “poder público”. Além disso, se investimentos alimentam o fogo,
cabe ao “poder público” expor a questão, até porque investimento não põe fogo
em nada. Quem queima são iniciativas e barrá-las, expondo-as, é o que se
precisa.
Em novembro de 2025 instala-se em Belém a 30ª
Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, a COP 30. O governo está tratando
do assunto como se ele fosse mais um evento, procurando brechas para lustrar
biografias.
Má ideia, pois o Lula que foi à COP 27 em
2022, no Egito, vestia o manto da proteção ambiental. Em Belém precisará
mostrar resultados e ações.
Litigâncias gerais
Vêm aí milhares de litígios, sobretudo nas
regiões do Sul afetadas por enchentes. São devedores contra bancos, empresários
contra fornecedores, fornecedores contra empresários e, acima de tudo, pessoas
ou negócios prejudicados pela má gestão do poder público.
Algumas já chegaram à Justiça e calcula-se
que a enxurrada seja de tal proporção que será necessário criar uma protocolo
para lidar com ela.
Serviço bem feito
Até agora, Lula conduziu com habilidade o
comportamento do governo na disputa pela presidência da Câmara, coisa que
acontecerá no início do ano que vem.
Não repetiu o erro de Dilma Rousseff em 2014.
O PT resolveu peitar Eduardo Cunha, perdeu e cavou o seu impedimento da
presidente.
Estimulando o que diz ser um nome de
consenso, tirou o PT da vitrine e mandou a bola para o Centrão.
Manobra banal, a menos que o deputado Hugo
Motta fosse há tempo um coringa guardado no banco de reservas. Nesse caso,
teria sido coisa de mestre.
De qualquer maneira, Lula baixou a bola da
voracidade petista. No início do mandato, essa voracidade assustava aliados.
Agora, são os aliados que se comem.
Os crachás do PT
Aos 46 anos, o PT tomou gosto pela concessão
de condecorações e medalhas. É coisa da idade.
A caça aos crachás vigorou no Império, caiu
em desuso com a República e reviveu nas ditaduras.
A baixo custo, afaga egos.
O filósofo francês Raymond Aron (1905-1983)
resolveu essa questão, tratando das condecorações: “Jamais as peça, jamais as
recuse e jamais as use.”
Essa frase é atribuída a Winston Churchill,
que tinha 32 patacas.
A PGR terá que decidir
Tendo completado dois mil dias na mesa do
ministro Alexandre de Moraes, o inquérito das fake news, está com os dias
contados.
Passando-o à Procuradoria-Geral da República,
Moraes livra-se do peso e ele vai para o doutor Paulo Gonet. A PGR deverá
decidir o destino dos incriminados.
Kamala x Trump
Terça-feira Kamala Harris e Donald Trump
terão seu primeiro debate.
Kamala entrará como favorita, até porque o
ex-presidente está zonzo.
Por mais que se torça pela senhora, não se
deve esquecer que ela foi pedestre no discurso diante da convenção dos
democratas e na sua primeira entrevista.
Cantanhêde disse tudo
Eliane Cantanhêde disse tudo há duas semanas:
“Dois fantasmas da era do PT pairam sobre o
3º mandato: fundos de pensão e agências reguladoras.”
Em agosto, os fundos queriam mais liberdade
para orientar seus investimentos.
O aviso perdeu-se. Agora os fundos de pensão
das estatais querem que o Conselho Monetário Nacional alivie as punições dos
gestores que arruinaram os patrimônios que administravam durante o primeiro
consulado petista.
Era o tempo em que o fundo da Caixa Econômica
investia num tamborete paulista e seu gestor defendia a operação com a
naturalidade de um banqueiro inglês.
Duas vagas no STJ
Está aberta a temporada para a captura de
duas vagas no Superior Tribunal de Justiça. Os escolhidos deverão sair de duas
listas, cada uma com três nomes.
Como ocorre há alguns anos, pelo menos quatro
ministros do Supremo têm candidatos.
Voltará à disputa o desembargador Ney Bello,
do Maranhão. Durante o governo passado, Jair Bolsonaro chegou a informá-lo de
que estava escolhido. O desembargador foi abatido em voo pelo ministro Kassio
Nunes Marques, que vetou-o no escurinho do Alvorada.
A desfeita sofrida por Bello provocou o
rompimento de seu padrinho, Gilmar Mendes, com Bolsonaro.
A conversa dos dois foi dura e, pelo lado do
então presidente, constrangedora.
Bater boca é o jogo de Milei
Bater boca com Javier Milei é fazer o seu
jogo. Quando a Argentina precisa, pede ao Brasil que cuide de sua embaixada em
Caracas.
Deixá-lo falar sozinho é o melhor remédio.
Avisar que o Itamaraty cancelará reuniões é coisa de pirracento.
Na diplomacia profissional, pode-se até ir à reunião, desde que os negociadores sejam instruídos a adiar a discussão de todos os assuntos que interessam aos hermanos.
3 comentários:
Boa análise sobre a questão ambiental. Os agrotrogloditas há décadas botam fogo nas nossas vegetações, nos anos Bolsonaro com a cumplicidade do criminoso ministro Ricardo Salles do Meio Ambiente. Marina Silva tem boa vontade e dedicação, mas não está conseguindo combater tantos crimes ambientais espalhados por todo o país. A seca extraordinária complica ainda mais a baixa eficiência dos órgãos ambientais.
" Em novembro de 2025 instala-se em Belém a 30ª Conferência da ONU para Mudanças Climáticas, a COP 30. O governo está tratando do assunto como se ele fosse mais um evento, procurando brechas para lustrar biografias.
Má ideia, pois o Lula que foi à COP 27 em 2022, no Egito, vestia o manto da proteção ambiental. Em Belém precisará mostrar resultados e ações. "
😏😏😏
O pior é saber que os incêndios acontecem à revelia,claro,da boa gestão de Marina Silva.
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