Folha de S. Paulo
Baixaria do influenciador e rivais é
vitoriosa na campanha; calmos, candidatos têm pouco a dizer
Após o paroxismo atingido com a cadeirada de
José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB)
no domingo (15), os espectadores do novo encontro entre os candidatos à
Prefeitura de São Paulo dificilmente
veriam algo pior.
O debate
RedeTV!/UOL não chegou lá, mas permitiu algumas conclusões
sobre o atual estado da política brasileira. A principal, a contaminação da
política tradicional pelo fenômeno Marçal, que é uma mutação ainda mais
agressiva e desassombrada do populismo trazido ao poder em 2018 por Jair
Bolsonaro (PL).
Basta ver as inserções de todos os candidatos
no rádio e TV, para não falar na terminologia de delegacia que domina a
retórica de todos. Algo especialmente lamentável em uma campanha em que a
"quebrada" e a periferia, marcadas
por estigmas preconceituosos associados à violência, são o
campo quase único de disputa de votos na propaganda.
Enquanto Guilherme Boulos (PSOL) fazia uma dobradinha com Datena para isolar Marçal, dando ao tucano oportunidade para falar sobre o infame espetáculo no debate de domingo na TV Cultura, Nunes e Marçal foram ao ringue da lama proposto pelo nome do PRTB.
Ambos abraçaram a apoplexia, só para serem
contidos pela mediadora. Nunes precisa atacar Marçal, que lhe rouba votos, mas
arrisca ver sua baixa
rejeição (19%) subir ao fazer o jogo do rival.
Melhor para Boulos, que também foi objeto de
altercação com o prefeito do MDB, que mira o segundo turno já com uma rejeição
alta (37%). Mas quando até Tabata Amaral (PSB) entra na
discussão, ainda que de forma civilizada, o sinal é outro: o marçalismo, se há
tal coisa, já levou toda a campanha de roldão no que diz
respeito ao tom.
A deputada, inclusive, foi levada ao ringue
por Marina Helena, negando uma acusação sobre uso de avião particular. A
monocórdica candidata do Novo estreou no
mundo das denúncias, sem grande efeito —embora a questão
obrigue escrutínio desagradável para quem se vende como vestal, como Tabata.
De resto, as pesquisas diárias por telefone
das campanhas, o chamado tracking, apontaram na segunda (16) que Marçal perdeu
pontos com a confusão do domingo, o que explica as táticas empregadas, restando
ver o que levantamentos
propriamente científicos dirão.
Boulos buscou ignorar o influenciador,
deixando ele se engalfinhar com Nunes, na esperança do tal aumento de rejeição
do prefeito ou, num mundo teoricamente ideal para o psolista, encarar Marçal no
segundo turno. O emedebista percebeu isso, ao estocar Boulos com mais
intensidade.
A dura realidade é que o cenário não melhorou
quando o debate acalmou. Pesquisa da
semana passada do Datafolha mostrou
que 54% dos paulistanos dão alta relevância a esses encontros para decidir seu
voto.
Pois bem, quando a baixaria explícita é
deixada de lado, os candidatos acabam por demonstrar certa pasteurização
moldada por décadas de poder do marketing político. Nunes falou genericamente
de projetos, Tabata até encaixou uma boa resposta sobre por que votar numa
lanterninha da disputa.
Até Marçal, abandonando
por um momento a vitimização, conseguiu articular algo sobre
Bolsa Família, assunto exógeno a este pleito de todo modo, retomando a sua
bem-sucedida retórica motivacional. O que fica é a ciclotimia: sem a confusão,
há platitudes soníferas. Não deixa de ser uma outra face da moeda da crise da
política tradicional.
Ao fim, pelo menos os parafusos das
cadeiras permaneceram em seu lugar no estúdio.
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