O Estado de S. Paulo
Se o País normalizar situações assim, quantos Marçais aparecerão na próxima temporada?
No momento em que o Brasil pega fogo,
candidatos à Prefeitura de São Paulo têm protagonizado um espetáculo deprimente
em debates na TV, com xingamentos, berros e até cadeiras voando no estúdio.
Vale a lógica do algoritmo, o meme, o recorte para as redes sociais. E os
problemas da maior cidade da América Latina que esperem a providência divina.
O influenciador Pablo Marçal (PRTB) chegou na
manhã de ontem para o debate da RedeTV!/UOL com a mão direita enfaixada, mas
deixando de fora o reluzente anel dourado com o símbolo M.
Com domínio da comunicação digital, Marçal chamou várias vezes de “orangotango” o apresentador José Luiz Datena (PSDB), que lhe deu uma cadeirada no domingo, após acalorada discussão na TV Cultura.
Enquanto o ex-coach tentava concatenar lé com
cré, seus apoiadores postavam uma imagem do bicho nas redes, que, nestes tempos
bicudos, viraram a segunda tela dos debates.
Marçal se recusou a beber a água que lhe foi
oferecida. O motivo? Temia ser envenenado. Aliás, qualquer semelhança com o
ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem tenta se aproximar, não é mera
coincidência.
Antes das eleições de 2018, quando ainda era
deputado, Bolsonaro foi visto tomando água direto da torneira, no banheiro
situado ao fundo do plenário da Câmara. Abordado por um colega, disse que não
aceitava copo de qualquer lugar, nem mesmo do seu local de trabalho por 27
anos. Achava que podia ser envenenado com substância mortal.
Os confrontos dos últimos dias mostram,
porém, que contaminados estão os eleitores, com tanto lixo tóxico vindo dos
debates. Pior: desde a campanha de 2018, a violência política só aumenta. No
Congresso, vira e mexe um bate-boca termina em tapa, sopapo e bofetão.
Diante deste cenário em que as fake news
viralizam e destroem reputações, a Justiça Eleitoral já avalia como lidar com a
próxima crise contratada: a disputa de 2026 pela cadeira do presidente Lula.
Até lá, as emissoras bem que poderiam adotar
a checagem dos fatos em tempo real, como ocorreu há oito dias nos EUA, durante
o duelo entre Kamala Harris e Donald Trump.
No Brasil, ninguém aguenta mais tanto
“debate” sobre baboseira enquanto o número de adultos e crianças que vivem nas
ruas só cresce na capital paulista. Além disso, ninguém suporta mais discussões
intermináveis sobre indulto para quem atacou a democracia quando nossas
florestas são consumidas por incêndios.
Se o País continuar normalizando situações
surreais como essas, sem nada fazer, quantos Marçais aparecerão na próxima
temporada?
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