Valor Econômico
Reforço do governador na campanha à reeleição
de Ricardo Nunes é visto como um ponto de inflexão na sua trajetória política
Aliados interessados em futuras parcerias e
adversários acompanham com atenção as movimentações do governador de São Paulo,
Tarcísio de Freitas, no pleito municipal. Seu reforço na campanha à reeleição
do prefeito da capital do Estado, Ricardo Nunes (MDB), é visto como um ponto de
inflexão na sua trajetória política.
Há dois aspectos em jogo. O primeiro é uma demonstração de como o amplo arco de alianças que ele, filiado ao Republicanos, ajudou Nunes a construir. Onze partidos asseguram ao prefeito um grande tempo de propaganda em rádio e televisão, um instrumento que, na visão de aliados do emedebista, tem sido eficaz na neutralização de ataques feitos nas redes sociais. Na opinião de uma fonte ligada à campanha, esta disputa pode ser vista como uma espécie de “laboratório” para 2026.
O segundo aspecto é a possibilidade de
Tarcísio, do Republicanos, consolidar-se como a liderança à direita com o maior
potencial de aglutinar os partidos de centro e de centro-direita em uma
eventual disputa contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na próxima
eleição nacional.
Carioca e com carreira profissional conduzida
principalmente em Brasília, Tarcísio venceu a eleição para governador de São
Paulo em 2022 sob o condão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O antipetismo
que vigora em parte considerável do Estado, com o qual nunca teve grandes
conexões durante a vida, foi também determinante.
No início do mandato, foi chamado de
“tecnocrata” por alguns que hoje se surpreendem positivamente com a sua
desenvoltura na campanha de Nunes. A classificação, feita de forma crítica,
vinha de quem o considerava um engenheiro mais preocupado com assuntos
administrativos do que um gestor que reconhecia a necessidade de colocar a
política em sua agenda diária.
É fato que Tarcísio delegou parte
considerável da articulação política a auxiliares. Conseguiu, dessa forma,
construir uma rede de aliados ampla. No entanto, alguns aliados nunca
esconderam a insatisfação com o que consideravam uma falta de envolvimento do
governador com temas de interesse do seu próprio partido e de siglas da base no
Estado.
A disputa pela prefeitura da capital tem
alterado essa imagem. Nas palavras de um interlocutor, o engajamento do
governador está “movendo o ponteiro” das pesquisas de intenção de voto e tem
tudo para ajudar a decidir a eleição de São Paulo em favor de Nunes.
Isso se deve ao cálculo pragmático, segundo o
qual a administração estadual e a prefeitura precisam muito uma da outra para
destravar iniciativas estratégicas.
Um exemplo é a questão da segurança pública:
não há operação policial na capital bem-sucedida sem uma articulação
institucional e das forças policiais locais. É um tema fundamental para o
eleitor.
A revitalização do centro da cidade, a qual
depende da presença do poder público em áreas hoje degradadas, é outro exemplo.
Assim como o fim das cracolândias. Além disso, a privatização da Sabesp não
ocorreria sem apoio de Nunes.
Ter um oposicionista na Prefeitura de São
Paulo seria, do ponto de vista administrativo, muito ruim para o governador.
Sob a ótica política também.
Uma vitória do deputado federal Guilherme
Boulos (Psol) seria um inegável triunfo do presidente Lula, que bancou a
candidatura do aliado, a despeito das resistências do PT, e também construiu o
retorno de Marta Suplicy ao partido para ocupar a vice. Já uma eventual eleição
do influenciador Pablo Marçal (PRTB) representaria uma grande incógnita do
ponto de vista da gestão e uma fonte de instabilidade política. O ex-coach tem
lançado frequentes críticas a Tarcísio durante a campanha.
Quanto a Nunes, Tarcísio teria a garantia da
manutenção de uma boa relação pessoal e prosseguimento da parceria
administrativa. Isso não quer dizer que o MDB como um todo fará parte do
projeto do governador em 2026. Lideranças de peso da sigla defendem uma aliança
com Lula, em um movimento que poderia assegurar a vaga de vice-presidente ao
partido.
A postura de Tarcísio, contudo, tem chamado a
atenção de líderes das outras siglas que integram a chapa anabolizada de
Ricardo Nunes. Um assunto que está presente em conversas além das fronteiras do
Estado de São Paulo.
Essas lideranças, que mantêm influência no
Congresso e na Esplanada dos Ministérios, reconhecem que o governador enfrentou
muitas pressões para abandonar Nunes no meio do caminho, mas, mesmo assim,
manteve a palavra e mergulhou na campanha para impulsionar a candidatura do
aliado. É algo relevante para quem cogita afastar-se do PT para robustecer uma
candidatura rival em 2026.
Adversários de Tarcísio relativizam. Dizem
que ele não tinha opção e precisou mergulhar de cabeça na campanha por “uma
questão de sobrevivência”. Em outras palavras, para evitar que uma vitória de
Pablo Marçal interdite o resto do seu mandato.
Interlocutores de Bolsonaro, por sua vez,
dizem que Tarcísio dificilmente será alçado candidato a presidente do grupo que
deixou o Planalto em 2022. Asseguram que hoje a escolha seria o deputado
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-mandatário, ou a ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro. Mas o que parece haver consenso é que a eleição municipal
tende a ser um divisor de águas na trajetória política de Tarcísio de Freitas.
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