O Estado de S. Paulo
Analistas apostam que primeira alta da Selic vai ser gradual, como até avisou o presidente do BC
Que o Copom precisa elevar os juros na
reunião de hoje já é um consenso no mercado. A maioria dos analistas aposta
também que a primeira alta provavelmente vai ser gradual, como até avisou o
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ou seja, um aperto de 0,25
ponto porcentual, para 10,75%. Mas, se esse é o ritmo que as condições exigem
para entregar uma inflação na meta de 3%, isso já é outra história.
Nos cálculos dos economistas mais experientes, levando-se em conta o balanço de riscos atual e os modelos de projeções do BC, o Copom precisaria aumentar a taxa Selic em um total de 1,5 ponto para garantir que a inflação irá convergir para a meta no horizonte relevante de política monetária. Mas, em um cenário com tantas incertezas externas e domésticas, conseguirá o Copom atingir esse objetivo a um ritmo de seis altas de 0,25 ponto da Selic? Ou seria melhor o BC comprar um seguro, acelerando o passo das elevações dos juros para 0,50 ponto em três altas?
É aí que entra outro ponto de grande atenção
no desfecho da reunião do Copom de hoje: o que irá sinalizar o comunicado sobre
os próximos passos da política monetária. Se, por exemplo, o Copom decidir por
uma primeira alta gradual da Selic, de 0,25 ponto, mas deixar em aberto – no
comunicado que acompanhará a decisão – a possibilidade de acelerar o ritmo do
aperto para 0,50 ponto na sua próxima reunião, o mercado ainda assim irá reagir
positivamente. Bastaria o Copom dizer, no documento, que o tamanho da alta de
juros na próxima reunião, em outubro, dependerá dos dados. Ou seja, não
necessariamente outra alta de 0,25 ponto já estaria contratada.
Quem defende uma estratégia gradualista pelo
Copom no ciclo de aperto monetário argumenta que o início dos cortes de juros
nos Estados Unidos pelo Federal Reserve vai tirar a pressão sobre o câmbio e,
por tabela, ajudar os bancos centrais de países emergentes. No curto prazo,
essa ajuda externa vai dar um alívio. Mas o BC deve mirar os vários fatores de
pressão doméstica no médio prazo.
Primeiro, a economia brasileira está aquecida
e operando acima do seu potencial, com a taxa de desemprego muito baixa e a
massa salarial crescendo a um ritmo forte. Essa é uma fonte de pressão sobre os
preços. Depois, a piora na percepção de risco nos gastos públicos, com a baixa
credibilidade do arcabouço fiscal, empurra para cima as expectativas
inflacionárias. Na encruzilhada entre o alívio de curto prazo e as pressões no
médio prazo, faz sentido o Copom comprar um seguro e acelerar o ciclo de alta de
juros.
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