Na época, a bancada mineira
na câmara federal era conhecida como carneirada, por votar em bloco, tinha
fortes conflitos no seu seio. Os grupos políticos eram obrigados a negociar
acordos que envolviam as candidaturas nos níveis municipais, estaduais e federais.
As fontes históricas da
Primeira República mostram que adversários de uma mesma localidade chegaram a
acordos várias vezes. Esses pactos contemplavam candidaturas municipais e
estaduais, evitando assim os conflitos políticos.
Hoje em pleno 2024, vemos a ausência do vivere civile. A ausência de polarização política ilustra a força do nosso Riobaldo de Guimarães Rosa ao dizer que “uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias... Tanta gente – dá susto de saber – nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza…”[1]
É neste mundo concreto do
personagem que vemos as nuvens reais e densas de fumaça fruto das queimadas que
assolam nosso país.
Em Contagem e no Rio de
Janeiro vemos candidaturas, cada uma à sua maneira, com propostas palpáveis,
pautadas no centro político democrático, com diálogo com o mundo evangélico.
A prefeita de Contagem,
Marília Campos (PT), conta com uma quantidade significativa de aprovação do seu
primeiro mandato, acima de 70%, um indicativo de que vencerá no primeiro turno.
Essa bem poderia ser a de Dirceu, já compreendeu que suas lutas passam pelo
mundo de Riobaldo, e que assim como ele que esteve com os conjuradores,
precisará se ater à construção de uma política de distribuição fiscal de
republicana de novo tipo compatível com a grave crise das Minas Gerais, uma vez
que, a atual em e breve encontrará seu fim via STF e o desiderato da reforma
tributária.
Em cidades como Juiz de Fora
e Muriaé, Margarida Salomão (PT) e Marcos Guarino (PSB), podem seguir o bom
exemplo de Contagem e fazer uma campanha benfazeja, para onde seus opositores
não constroem alternativas viáveis. Entretanto, na experiência de Juiz de Fora,
se reeleita a prefeita terá que fazer aggiornamentos.
Parafraseando Tancredo
Neves: “Só há pátria com democracia.” E em ambas é necessária a negociação
política. Aos poucos, a realidade corrige o curso de todos distinguindo entre o
útil e o mal compreendido no dizer de Tocqueville,
Para isso, será necessário
não perdermos mais oportunidades de fortalecer a Frente Democrática vitoriosa
em 2022, o que ficou evidente nas negociações que deram origem às chapas para
concorrerem à prefeitura de Belo Horizonte.
Teremos uma nova chance no
segundo turno. Isso ocorre porque os belo-horizontinos estão rejeitando os dois
candidatos das fantasiosas narrativas alienígenas a Riobaldo. Assim, uma nova
rodada de negociação se abrirá em breve. Tem-se algo que o fiel da balança pode
nos ensinar é que as disputas políticas quando praticadas dentro das regras
republicanas permitem que os adversários de ontem, sejam os aliados de hoje.
Para isso, é necessário que a linha civilizatória seja traçada.
Portanto,
nossa população anseia por cidadania, mesmo se sentindo desorientada em um
mundo sem explicação histórica. Até aqui a atual campanha municipal tem deixado
claro a preferência do eleitor por uma prefeitura colada nos seus municípios e
munícipes que sejam capazes de se apresentar como exemplares cuidadores da
saúde, educação e mobilidade urbana.
E para enfrentar o vazio
populista, nossos líderes exemplares para ensinar a cidadania que zelam pelo
povo significa garantir acesso à esses serviços, o que perpassa por fortalecer
a cultura política democrática mineira. Em um país que se move pela emoção e
não somente pela razão, só conseguiremos esses feitos se tocarmos a alma da
mineiridade, tornando nossos municípios garantidores do bem-estar social.
[1] ROSA,
João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Editora Companhia das Letras, 2019.
P.08.
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