sábado, 12 de outubro de 2024

Carlos Alberto Sardenberg - É preciso isolar a direita radical

O Globo

Os lados se embaralham, mas continuo achando que vale a pena separar a direita de seus radicais

Antigamente era mais fácil. Na direita, estavam os liberais. Prezavam as liberdades individuais e a economia de livre mercado. Na esquerda, os socialistas (no sentido europeu). Prezavam os direitos sociais, a intervenção do Estado para distribuir renda, produzir bens e serviços e controlar o capital privado.

Daí resultavam as políticas de governo. No lado liberal, coloquemos Ronald Reagan e Margaret Thatcher. Seus slogans: reduzir impostos; tirem o Estado de nossas costas. No lado socialista, o François Mitterrand do primeiro mandato. Seu slogan: estatizar, de bancos a fábricas de carros.

No Reino Unido, sucedendo a governos trabalhistas que haviam ampliado o setor estatal, Thatcher precisou recorrer às privatizações — tema irrelevante nos Estados Unidos, sempre predominantemente liberais.

Todos os lados prezavam igualmente o Estado de Direito e a liberdade de imprensa.

Cabe ressalvar as diferenças entre Estados Unidos e Europa Ocidental. Nesta, a separação entre direita e esquerda era mais definida. Mas, mesmo nos Estados Unidos, os republicanos queriam cortar impostos e liberar a economia, incluindo sistema financeiro e monopólios, enquanto os democratas aumentavam impostos e gostavam de controlar certos setores econômicos. Nos dois casos, a política andava entre dois partidos, acentuando a clivagem direita x esquerda.

Com o tempo — e dadas as peculiaridades das sociedades mais modernas —, políticos e ideólogos, partindo dos dois polos, se aproximaram do centro. Ainda se separava centro-direita de centro-esquerda, mas havia mais conversa. Temos notórios e bons exemplos de centro-esquerda: Fernando Henrique Cardoso, Tony Blair e Bill Clinton. De centro-direita, para ficar entre nós, poderíamos colocar Tancredo Neves, quando eleito presidente.

Durante bom tempo essas categorias funcionaram. Os extremos dos dois lados não importavam. Estavam confinados a seus quadradinhos. Sim, houve um terrorismo de esquerda que deixou muitas vítimas, mas foi isolado e repudiado pelas sociedades livres.

Considerando todos esses critérios — e chegando ao nosso tempo —, Bolsonaro não estaria naquela direita liberal. Não há lugar ali para quem tenta golpe de Estado, defende a tortura e não acredita no valor da liberdade de imprensa. Muito menos cabe no centro, onde se requer moderação. Trump, com seu desprezo pelas instituições democráticas, também está longe da direita liberal.

Foi preciso, então, recuperar a categoria de extrema direita, ou direita radical, onde, claro, cabem Bolsonaro e boa parte de seus seguidores. Digo boa parte porque muitos de seus companheiros de viagem, que estiveram a seu lado em eleições, aproximam-se mais de uma direita respeitadora das instituições.

Na prática política cotidiana, muitas vezes esses lados se embaralham, mas continuo achando que vale a pena separar a direita de seus radicais. Querem mais uma razão? Pensem nos eleitores. Não se pode dizer que todo eleitor de Bolsonaro quer uma ditadura. Seria catastrófico se fosse assim. Lembremo-nos: o golpe não vingou. Faltou respaldo na sociedade e mesmo entre os militares.

Isolar a extrema direita — eis o que seria bom para o país. Muitos perguntarão: não vai falar da extrema esquerda? Do comunismo? Não precisa. Praticamente não existe. Sei que muitos, lá da extrema direita, consideram Lula um perigoso esquerdista. Bobagem. Ele caberia no figurino da centro-esquerda. É estatizante, interfere na vida das empresas privadas, quer mais controle sobre o capital, mas não tem a menor intenção (nem possibilidade) de socializar a economia.

Em qualquer lado do espectro político, excetuando os extremos, há governos bons e ruins. O de Lula está mais para ruim. E tem alguns desvios graves, como apoiar ditaduras. Tudo considerado, o país estará melhor se isolar a extrema direita, deixando que a disputa política ocorra dentro do campo democrático. Mas, como o Brasil é sempre mais complicado, é preciso acrescentar outras duas categorias: o centro vazio de ideias e o Centrão que vive pendurado no Estado.

Voltaremos ao tema.

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Porque os colunistas não escrevem aquilo que querem dizer???? Não era mais fácil dizer que tudo o que o Senhor Democracia em pessoa, Alexandre de Moraes está fazendo é correto???? Que em nome da democracia, tudo bem rasgar leis rasgar a constituição, fazer o que bem entender e somente pra um lado, porque como o próprio colunista disse, não existe extrema esquerda no Brasil, Boulos é um moderado.....

Anônimo disse...

Concordo com meu Colega que me antecedeu
surpreendeu que o jornalistas Carlos Alberto Sedembergue é um jornalista razoável, e dizer que o Guilherme Boulos é moderado é brincadeira
Ele é radical da extrema esquerda Apoia invasão e depredação de prédios privados e públicos Apoia toda pauta da extrema esquerda ; aborto ,liberação de drogas , desarmamento da polícia Militar , desencarnação em massa ou seja Mais radical impossível
Há um temor de desagradar a esquerda taxando de extremistas , que pode cortar a verba gorda da imprensa , mas é a pura verdade

Anônimo disse...

Guilherme Boulos e seu partido o PSOL, além de alguns partidos satélites, que gravitam em volta do PT, formam a extrema esquerda que o colunista não mencionou.

ADEMAR AMANCIO disse...

Viver na rua sem ter onde morar deve ser muito difícil.