Folha de S. Paulo
Plano de expurgo e concentração de poder é
peça-chave para republicano governar como um autocrata
John McEntee chegou à Casa Branca em 2017
como o sujeito que carregava a pasta de Donald Trump.
Tinha a confiança do presidente e uma mesa na antessala do Salão Oval. Era uma
versão civil e turbinada de Mauro Cid,
o notório ajudante de Jair Bolsonaro. Guardava segredos e seguia as ordens do
chefe.
O auxiliar foi ganhando influência. Segundo a revista The Atlantic, McEntee fazia reuniões com advogados que trabalhavam para melar as eleições de 2020, coisa que alguns assessores se recusavam a fazer. Às vésperas da invasão do Capitólio, ele enviou ao gabinete do vice-presidente um documento que o incentivava a declarar a vitória de Trump —um tipo de minuta do golpe.
McEntee conhece um aspecto central dos planos
de Trump para um segundo mandato em caso de
vitória na terça-feira (5). Na reta final do primeiro governo, o
assessor era o responsável por vigiar funcionários e expulsar dissidentes.
Agora, ele integra o Projeto 2025,
grupo que criou um pacote radical com a previsão de um expurgo na administração
pública, para reduzir os limites aos poderes do presidente.
A plataforma de Trump tem como pressupostos
uma guinada autoritária, a desfiguração de leis, a construção de um círculo de
lealdade absoluta e a asfixia de agentes capazes de resistir a suas ideias. São
todas ferramentas essenciais para planos de deportação em massa, perseguição de
adversários e, eventualmente, o prolongamento de sua permanência no poder.
Em seu primeiro mandato, Trump enfrentou mais
obstáculos internos do que gostaria. O secretário de Defesa recusou um pedido
para atirar contra
manifestantes, o secretário de Justiça abandonou a
conspiração para reverter a derrota do republicano em 2020, e o
vice-presidente ignorou
pressões para roubar aquela eleição. Trump trabalha para evitar
que isso se repita.
O ex-presidente não esconde seus desejos.
Fala abertamente em eliminar o que chama de "Estado profundo",
promete distorcer leis antigas para perseguir imigrantes e sugere usar a força
do governo para punir seus rivais. Se vencer, provavelmente dirá que
obteve o aval das urnas para governar como um autocrata.
Um comentário:
Excelente análise! No mandato de Trump, "o secretário de Defesa recusou um pedido para atirar contra manifestantes, o secretário de Justiça abandonou a conspiração para reverter a derrota do republicano em 2020, e o vice-presidente ignorou pressões para roubar aquela eleição."
Se isto já aconteceu, o que pode PIORAR num segundo e mais violento mandato?
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