A vida precedeu em muito o calendário gregoriano. No entanto, há tradições culturais que se impõem à qualquer outra lógica racional. O desenrolar dos fatos se comporta como moto-contínuo. Ainda assim insistimos em quebrar o tempo e enquadra-lo em dias, semanas, meses, anos e séculos. E é como se, na madrugada que separa o 31 de dezembro do primeiro dia de janeiro, mágicas e feitiços determinassem uma verdadeira mudança no curso da História. É uma peculiar forma de sacudir a poeira do pessimismo e renovar a esperança num futuro diferente. Como cantou Belchior “Tenho sangrado demais. Tenho chorado pra cachorro. Ano passado eu morri. Mas esse ano eu não morro”. No ano novo, tudo é possível.
Longe dos arroubos místicos ou da fé nas causas impossíveis, do jogo de búzios e das bolas de cristais, o que é possível visualizar em relação ao cenário mais provável para 2025 no Brasil?
Na
economia, certamente um crescimento menor que os 3,2% de 2023 e do 3,5% de 2024,
alguma coisa entre 1,8% e 2,0%. A inflação deve ceder diante da política
contracionista do Banco Central e fechar em torno de 4%. Isto se as
expectativas dos agentes econômicos se acomodarem e as intervenções pontuais no
câmbio trouxerem o dólar para o patamar médio de R$ 5,80. O desequilíbrio fiscal
deve permanecer no centro da ribalta, já que o ajuste promovido foi claramente
insuficiente. O governo central deve apresentar um déficit primário perto de
0%, quando o necessário para estabilizar a dívida seria um superávit de 2,4%. Ou
seja, nem crescimento chinês, nem inflação argentina, continuaremos a produzir um
horizonte muito aquém de nossas potencialidades.
Na
política, muitos fatos determinantes para a configuração do tabuleiro da
disputa nacional de 2026 serão definidos, principalmente em relação ao futuro
dos dois maiores líderes populares, num quadro ainda de extrema polarização. A
ineligibilidade ou não do ex-presidente Bolsonaro será amadurecida a partir do
desfecho dos diversos inquéritos e processos instalados. Também o quadro de
saúde do presidente Lula ficará mais claro e se irá ou não disputar a reeleição. A
presença ou não de Lula e Bolsonaro é decisiva para a delineação dos contornos da
próxima disputa presidencial e do ritmo da transição geracional na política
brasileira. Muitas fusões e federações partidárias serão processadas em 2025,
reconfigurando o quadro partidário brasileiro, como resposta ao avanço da
cláusula de desempenho eleitoral.
Na
vida social, infelizmente, nenhuma das revoluções
necessárias em questões fundamentais como educação de qualidade, capacidade de inovação
tecnológica, infraestrutura, aumento da produtividade e combate estrutural para
a efetiva superação da pobreza, está presente no horizonte de 2025.
Em
relação à sustentabilidade ambiental, o Brasil poderá ocupar um papel de
vanguarda se quiser e souber. Temos uma das matrizes energética mais limpas do
mundo, uma enorme cobertura florestal, um arcabouço institucional e legal
avançado e uma consciência coletiva crescente. O ponto alto será a COP30 que
será realizada em novembro em Belém do Pará.
Pelo
visto nada de muito espetacular está em perspectiva para o próximo ano no
Brasil. Mas, em se tratando de Brasil, é sempre bom deixar uma brecha de
incerteza para que o destino possa nos surpreender.
Feliz 2025!!!
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