Empreendedor brasileiro tem muito a ganhar com IA
Por O Globo
País não tem chance de disputar liderança na
nova tecnologia, mas ela abrirá inúmeras oportunidades
As empresas na vanguarda da inteligência artificial (IA) — todas americanas — investiram em 2025 cerca de US$ 400 bilhões. Isso equivale ao quádruplo do que a Petrobras, maior empresa do Brasil, pretende investir nos próximos cinco anos. Na briga para tentar desenvolver um modelo de IA capaz de superar a maioria dos seres humanos em várias tarefas, gigantes como OpenAI, Anthropic ou Google não param de captar capital e aplicá-lo na construção da infraestrutura necessária para desenvolver modelos mais e mais poderosos. Vislumbra-se um impacto transformador em praticamente toda a economia global.
O único país capaz de disputar a liderança
com os Estados Unidos é a China. Europa, Japão e Rússia estão fora do páreo.
Brasil, nem se fala. Apesar disso, os brasileiros podem obter benefícios se as
previsões de uma nova revolução tecnológica se confirmarem.
Mesmo quem não desenvolve modelos de IA
avançados tem muito a ganhar com a tecnologia. A adoção de ferramentas de IA é,
já no estágio atual, capaz de melhorar o desempenho da mão de obra em
diferentes setores. O Brasil já é o terceiro maior mercado em usuários de IA.
Os produtos serão, portanto, influenciados por demandas e especificidades dos
brasileiros.
De 1980 para cá, os brasileiros têm se
afastado dos americanos em renda, enquanto asiáticos ou europeus orientais têm
encurtado a distância. A principal causa é a estagnação da produtividade. Há 45
anos, eram necessários dois brasileiros para fazer o trabalho de um americano.
Agora são quatro ou cinco. Um fator determinante para o atraso é o nível baixo
na adoção de novas tecnologias. A IA traz a oportunidade de uma virada.
Há motivo para otimismo. Numa pesquisa
realizada pela consultoria BCG em 11 países, incluindo Alemanha, Estados
Unidos, França, Índia e Japão, o Brasil aparece em primeiro lugar na adoção no
local de trabalho de ferramentas “digitais inteligentes capazes de aprender,
raciocinar e lidar com tarefas complexas de forma independente”. No mesmo
levantamento, os brasileiros são os que menos temem o sumiço do emprego nos
próximos dez anos. A predisposição para encarar a nova tecnologia de maneira
positiva deve ajudar na sua popularização.
Há oportunidade para empresas brasileiras
adaptarem modelos desenvolvidos pelos pioneiros da IA e criarem novos produtos
e serviços. A maior parte do lucro certamente ficará com as gigantes do setor,
mas há espaço para explorar adaptações voltadas a países emergentes. Como o
desenvolvimento de IA consome quantidades gigantescas de energia elétrica, o
Brasil também pode atrair investimento de empresas estrangeiras de data center
interessadas numa matriz renovável. Para que os sonhos despertados pela IA se
concretizem, duas condições são essenciais: os empreendedores precisam estar
atentos às oportunidades e, acima de tudo, o governo não pode atrapalhar.
Episódios de intolerância religiosa se chocam
com imagem do Brasil
Por O Globo
Convívio entre crenças não é belicoso como
noutros países, mas registros de incidentes e agressões têm crescido
As imagens das praias cheias de gente vestida
de branco, pulando sete ondas e oferecendo flores a Iemanjá no réveillon podem
transmitir uma impressão enganosa. Elas sugerem um país de maioria católica que
convive bem com crenças de matriz africana e outras religiões. E é verdade que,
na comparação com outros países, o Brasil tem retrospecto positivo na harmonia
entre diversas crenças. Na prática, porém, têm sido registrados episódios
frequentes de intolerância.
A tensão fica evidente no inquérito civil que
o Ministério Público Federal instaurou para investigar suspeita de
discriminação religiosa na organização do réveillon de 2025 pela Prefeitura do
Rio, depois da queixa de que a programação priorizou atrações para o público
evangélico em detrimento de outras religiões. Além de criticar o palco gospel,
sob o argumento de que os evangélicos foram favorecidos, representantes das
religiões de matriz africana alegam que os terreiros foram pioneiros na festa
de fim de ano na praia.
Privilégios a grupos específicos podem e
devem ser questionados. A Prefeitura deveria ter se preocupado em oferecer
espaço também a outras manifestações, como a cultura afro. O próprio prefeito
Eduardo Paes reconheceu isso implicitamente ao afirmar que “o réveillon da
Praia de Copacabana é de todos” e que “alguns ajustes terão de ser feitos no
próximo ano”. Mas, ainda que o réveillon à beira-mar seja tradição da umbanda e
do candomblé, os evangélicos também devem ter direito a comemorar no espaço
público.
As críticas ao palco gospel ocorrem num
momento de escalada preocupante dos ataques de evangélicos radicais a
umbandistas e candomblecistas. Num conjunto de 511 terreiros, 80% afirmaram ter
sofrido, ao menos uma vez em dois anos, agressão verbal, xingamentos, ataques
diretos ou abordagem policial discriminatória, situações identificadas pela
expressão “racismo religioso”. É o que revela a pesquisa “Respeite o meu
terreiro”, cujos resultados foram apresentados no início de dezembro em reunião
da Organização das Nações Unidas na Suíça. O levantamento — idealizado pela
Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde e pelo terreiro Ilê Omolu
Oxum, em parceria com o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania — revelou
que 76% foram alvo de diversas formas de violência, e 74% foram ameaçados,
depredados ou destruídos.
São dados alarmantes, mas nem por isso
surpreendentes. O Disque Direitos Humanos (Disque 100) registra agravamento do
problema: houve 2.472 denúncias de casos de intolerância religiosa em 2024,
alta de 66,8% em relação às denúncias em 2023 (1.481). Se considerados os dados
registrados entre 2021 e 2024, as denúncias de violações cresceram 323,29%.
Autoridades precisam estar atentas e punir ataques à fé alheia exemplarmente, na forma da lei. O Brasil não pode ser leniente com a intolerância religiosa. Não importa de que campo político venha. Num Estado laico, a liberdade de culto garantida pela Constituição é sagrada.
Embates entre Poderes marcaram 2025
Por Folha de S. Paulo
Parlamentares minam Orçamento, STF mantém
inquéritos opacos e lulistas chamam Congresso de inimigo do povo
Não se trata de alguma ameaça à democracia,
como sob Jair Bolsonaro, mas de erros e excessos capazes de prejudicar seu
funcionamento
O ano de 2025 se encerra com um panorama
político e institucional conturbado por passos temerários dados por Executivo,
Legislativo e Judiciário. Não se trata de alguma ameaça à democracia, como
sob Jair
Bolsonaro (PL), mas de erros e
excessos capazes de prejudicar seu funcionamento.
Parte dos embates deriva da mudança na
correlação de forças entre Palácio do Planalto e Congresso, num processo que já
tem mais de uma década.
No arranjo inicial da redemocratização, dois
instrumentos permitiam ao presidente da República impor sua agenda aos
parlamentares: as prerrogativas de editar medidas provisórias com grande
facilidade e de decidir se pagaria ou não as emendas por eles incluídas no
Orçamento.
Assim se governava e se negociavam apoios com
dificuldades menores num Congresso Nacional fragmentado em múltiplos partidos
—no que ficou conhecido
como presidencialismo de coalizão.
No entanto mudanças no trâmite das MPs e das
emendas mudaram o cenário. Medidas não aprovadas no prazo legal passaram a
perder validade, e a execução de grande parte das emendas tornou-se
obrigatória. O valor a elas destinado se multiplicou até os R$ 60 bilhões
incluídos na lei orçamentária de 2026, montante sem paralelo conhecido nas
principais democracias.
O Supremo Tribunal Federal, com destaque para
o ministro Flávio Dino, interveio corretamente na questão ao impor normas
mínimas de transparência e moralidade na execução das despesas —as quais os
congressistas insistem em desrespeitar.
Mas também o STF, que teve
membros envolvidos em situações sombrias de conflito de interesses, tratou de
hipertrofiar seus poderes. O que começou como reação necessária às afrontas do
bolsonarismo se perpetuou na forma de inquéritos opacos e intermináveis.
Decisões voluntaristas, ademais, com frequência invadem a seara do Legislativo.
No caso mais recente, o ministro Gilmar
Mendes achou por bem blindar a si e aos colegas mudando com
uma canetada a lei do impeachment, de 1950 —recuando parcialmente
depois.
Luiz Inácio Lula da
Silva (PT),
embora ciente do novo cenário, escolheu governar como há duas décadas,
concedendo apenas postos secundários aos partidos aliados. A diferença é que
agora busca se amparar sempre que possível no Supremo, para o qual tem indicado
apenas nomes de sua estrita confiança, em detrimento do mérito jurídico.
Depois de muitas derrotas legislativas,
ademais, os petistas adotaram a estratégia populista e antipolítica de carimbar
o Congresso como "inimigo do povo", acirrando as tensões.
Não estamos diante de impasses insolúveis ou
de uma crise terminal do presidencialismo. O sistema segue em funcionamento e
está em evolução, mas será necessário que lideranças e autoridades cheguem a um
entendimento para conter a balbúrdia.
A quem servem os Correios
Por Folha de S. Paulo
Estatal abriga indicações políticas e destina
dois terços de gasto corrente a quadro de pessoal inchado
Plano de recuperação, com R$ 12 bi garantidos
pelo contribuinte e promessa de fechar 1.000 agências, visa manter um negócio
obsoleto
Os Correios empregam
cerca de 85 mil pessoas, com um dos maiores quadros do país. Embora a empresa
estatal esteja em situação falimentar e recorrendo a um socorro bilionário
garantido pelos contribuintes brasileiros, seus funcionários —representados por
nada menos que 36 entidades sindicais em todos os estados— estão em greve por
aumento de salários.
Pagamentos de remunerações e benefícios são
estimados em R$ 15,1 bilhões neste ano, equivalentes a cerca de dois terços das
despesas correntes da companhia. Os benefícios incluem gratificação de 70% nas
férias, mais que o dobro dos 33,3% exigidos pela Constituição,
generosas horas-extras nos fins de semana e um plano de saúde hoje considerado
insustentável, entre outros.
Funcionários de estatais são regidos pela CLT
e, em teoria, não gozam da estabilidade no emprego que é garantida no Brasil,
de forma anômala no mundo, à grande maioria dos servidores públicos. Na
prática, porém, a Justiça brasileira cria todo tipo de obstáculo a demissões
tentadas por essas empresas.
Por isso, o recém-anunciado plano de
recuperação dos Correios prevê um programa de demissões incentivadas (PDV) para
tentar convencer 15 mil empregados a sair com a oferta de vantagens diversas
—que, de início ao menos, elevarão custos.
É nesse paquiderme do corporativismo,
dirigido por indicações políticas e com prejuízo acumulado de R$ 6,1 bilhões de
janeiro a setembro, que o governo Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) está
injetando R$ 12 bilhões, obtidos por empréstimo graças à garantia do
Tesouro.
Na segunda-feira (29), ao discorrer sobre as
prometidas medidas de ajuste, o presidente da empresa, Emmanoel Rondon, adiantou
que precisará de mais R$ 8 bilhões em 2026 —que, por sua
declaração, poderão vir diretamente dos cofres públicos, sem a fachada do
crédito bancário.
Acredite quem quiser que compromissos como
fechar 1.000 agências deficitárias, de um total de cerca de 6.000 unidades
próprias, serão levados adiante e conterão a sangria na estatal, mesmo porque
nem mesmo se pode garantir que Lula será reeleito e o próximo governo dará
continuidade à empreitada.
Fato é que todo esse esforço inglório, à custa dos pagadores de impostos, tem o objetivo de manter em funcionamento um negócio obsoleto que poderia ser vendido ou, na falta de interessados, fechado para contenção de danos para a sociedade. Apenas apaniguados políticos e sindicatos teriam perdas irreparáveis.
O verdadeiro ‘novo’ na política
Por O Estado de S. Paulo
Em ano eleitoral como 2026, é preciso lembrar
que a renovação de que o Brasil precisa não nasce da antipolítica, mas de
instituições fortes, lideranças responsáveis e modernização gradual
Há algo de profundamente equivocado na ideia
do “novo na política” que ganhou força no Brasil desde as chamadas Jornadas de
Junho de 2013, a série de mobilizações em massa que ocorreram por todo o País
naquele ano, que abriram caminho para o arrefecimento do lulopetismo à época e
escancararam as portas para o bolsonarismo no ciclo seguinte. O adjetivo, que
deveria evocar aprimoramento e modernização da política e das instituições
brasileiras, acabou sequestrado por uma retórica de terra arrasada, cujo princípio
básico era negar a própria política – e, portanto, a própria democracia, tal
como a conhecemos – como forma de organização da vida nacional.
Passado o choque, o Brasil tem a chance de
resgatar o verdadeiro sentido do novo na política. Nada tem a ver com o
exotismo performático de candidatos que se vendem como salvadores, mas que
entregam desordem. Tampouco com a promessa de rupturas impossíveis ou soluções
mágicas, alimentadas pelo legítimo sentimento de frustração popular com a
“classe política”, associada ao desgaste provocado pela polarização tão
virulenta quanto estéril entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro. O novo de que o
País precisa é menos ruidoso, mais trabalhoso e muito mais transformador: um
novo que modernize práticas, racionalize políticas públicas e reinvente, sem
destruir, as relações entre os Poderes. Que reconheça os limites reais do
sistema político, mas trabalhe de forma consequente para aprimorá-lo.
Tal fenômeno não é exclusivamente brasileiro.
A antipolítica floresce quando a representação democrática passa a ser vista
não como instrumento de mediação, mas como fraude permanente. O resultado desse
experimento histórico está à vista: a ascensão de outsiders cuja principal
promessa era “mudar tudo o que está aí”, ainda que isso significasse destruir o
que existe sem colocar nada viável no lugar. O bolsonarismo, com seu populismo
autoritário, foi apenas a expressão mais acabada desse surto antipolítico;
Pablo Marçal e outros epígonos dessa lógica são sua versão caricatural.
No livro Populism: A Very Short Introduction (Populismo: Uma Brevíssima Introdução),
o cientista político holandês Cas Mudde, hoje um dos principais estudiosos do
extremismo e do populismo na Europa e nos EUA, argumenta que o populismo
autoritário ganha força quando lideranças reivindicam representar sozinhas a
vontade do “povo puro” contra uma “elite corrupta”, combinando moralismo,
autoritarismo e exclusão. Populistas autoritários se alimentam das frustrações
reais de sociedades desiguais, mas que retornam ao eleitor apenas ilusões
perigosas: a crença de que um líder forte resolverá questões complexas sem
freios e contrapesos.
Pois o desafio é qualificar a política, não
negá-la. Isso exige reconstruir confiança, fundamento de qualquer projeto
nacional sério. Confiança não nasce do populismo, e sim de instituições
previsíveis, políticas econômicas responsáveis e lideranças capazes de dizer a
verdade ao eleitorado, ainda que ela seja incômoda. A tarefa do verdadeiro novo
na política é justamente canalizar essa insatisfação para projetos concretos de
melhoria incremental, que não desperdicem energia com aventuras e se concentrem
em resolver problemas reais com racionalidade econômica e compromisso
democrático.
A modernização de que precisamos não exige
menos política, e sim mais: mais capacidade técnica, mais transparência, mais
responsabilidade no trato com o dinheiro público. Exige coragem para enfrentar
privilégios arraigados, mas também para explicar ao cidadão que reformas
estruturais não se fazem da noite para o dia. Exige que o Estado seja capaz de
planejar, avaliar e corrigir rumos, e que o País abandone de vez a ideia
infantilizada de que governar é exibir indignação e promover divisões.
Para o Brasil e seus desafios, o novo não
estará em figuras folclóricas nem em slogans de ocasião, muito menos na
repetição de velhos modelos, e sim na disposição de reencontrar a política como
instrumento de construção coletiva. Trata-se de recuperar o valor da
experiência aliada à inovação, da responsabilidade fiscal aliada à sensibilidade
social, do diálogo institucional aliado à firmeza de propósito. Não é pouco. E,
no entanto, é exatamente o que separa sociedades maduras de nações condenadas a
repetir seus erros. Um alerta especialmente importante num ano eleitoral como
2026.
Dificuldade institucional de gerar bem-estar
Por O Estado de S. Paulo
Estudo da Fundação Dom Cabral mostra que as
instituições brasileiras são pouco capazes de criar bem-estar, embora o Brasil
invista mais por habitante do que a média da OCDE
O Centro de Gestão Pública da Fundação Dom
Cabral formulou um indicador, o Índice de Capacidades Institucionais (ICI), que
serve para medir a relação entre as capacidades institucionais do País e a
criação de bem-estar social. E nisso, também, o Brasil vai mal.
Na comparação com uma amostra de 145 países,
o Brasil registra um índice de capacidade (0,484) muito abaixo de grupos como a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que tem
0,672, embora ligeiramente acima da média da América Latina (0,417). Com a
média dos dois grupos agregada (0,520), o Brasil continua atrás. O estudo
evidencia que o País gasta mais por habitante do que os integrantes da rica
OCDE, mas faz uma gestão pior dos recursos.
O ICI é calculado por modelos estatísticos
que medem a qualidade de três componentes: instituições, gestão pública e
ambiente de negócios. O índice revela uma dificuldade crônica em transformar
orçamento em serviços públicos eficientes.
Não admira que, diante do cenário atual do
País, a qualidade das instituições tenha despontado com a menor pontuação. Isso
indica, de acordo com o estudo, que o bem-estar que poderia ser gerado com o
nível de renda produzido no País está sendo minado pela baixa capacidade
institucional. Destacam-se, entre os tópicos que compõem o nível de qualidade
institucional, os resultados abaixo da média em controle da corrupção,
qualidade da segurança pública e da regulação.
Em entrevista ao jornal Valor, Humberto Falcão Martins, professor
da Fundação Dom Cabral e um dos especialistas que trabalharam no cálculo do
índice, disse que, apesar do avanço dos órgãos de controle nas duas últimas
décadas, chama a atenção como a corrupção, o mau funcionamento dos níveis de
governo federal, estadual e municipal e o ambiente de negócios agravam a
deteriorada qualidade institucional brasileira.
São temas que deveriam nortear o debate
público a menos de um ano de mais um processo eleitoral para a Presidência da
República e os governos dos Estados. A reforma administrativa, que atravessa um
claudicante percurso no Congresso Nacional e, para muitos analistas, corre alto
risco de não acontecer, é citada por Martins como um fator de capacitação para
fazer com que o Estado use de forma mais eficiente e proveitosa para a
população os recursos públicos.
O ICI aponta que a qualidade da gestão
pública é diretamente proporcional ao desenvolvimento, ou seja, sem uma gestão
pública capaz, não é possível um país se desenvolver e gerar qualidade de vida
à sua população. “Esse país pode até enriquecer, como acontece com alguns
países produtores de commodities, por exemplo, países produtores de petróleo,
mas esse enriquecimento não se traduz em qualidade de vida à sua população”,
ressalta o trabalho. Nesse quesito, a gestão pública do Brasil (0,616) está
ligeiramente acima da média da dos países da América Latina (0,533), mas bem
abaixo do índice médio da OCDE (0,777).
O índice geral reflete uma visão ampla,
baseada em 68 indicadores. Análises comparativas por faixa de renda apontam
para a existência de alguns países que mesmo com um maior ICI não conseguem
alcançar um nível de desenvolvimento condizente. Isso pode confirmar teorias
como a da chamada armadilha da renda média, que, de acordo com os autores do
estudo, aparece de forma muito clara em relação ao Brasil.
O diagnóstico é de que o País precisa avançar
em diversas frentes para alcançar maior desenvolvimento, em particular no
fortalecimento das instituições. Mas há outras batalhas. No componente de
gestão pública, por exemplo, a pior pontuação foi na performance governamental.
Já no que diz respeito ao ambiente de negócios, os itens mais mal avaliados
foram qualidade do crédito, exportações e produtividade da mão de obra. Em
todos, o Brasil é o pior país quando comparado aos de média-alta renda, o que a
esta altura deveria ser inaceitável.
Trump e a tentação do atalho
Por O Estado de S. Paulo
A Ucrânia acena à cessão de território, mas sem garantias a guerra apenas muda de forma
A reunião entre os presidentes dos EUA,
Donald Trump, e da Ucrânia, Volodmir Zelenski, entregou o que se esperava. Não
houve acordo, ruptura ou anúncio decisivo. Houve continuidade. Em um conflito
marcado por ilusões diplomáticas e atalhos retóricos, manter o processo em
movimento já é, paradoxalmente, um resultado.
O encontro expôs a assimetria que estrutura
as negociações. Zelenski não negocia para vencer, mas para evitar a derrota.
Seu objetivo é impedir que a Ucrânia seja coagida a uma paz que apenas congele
o conflito e preserve as condições para uma nova agressão russa. Trump quer
encerrar a guerra, não necessariamente resolvê-la bem. O fim do conflito tem,
para ele, valor político próprio, independentemente da solidez do arranjo que o
sustente.
Essa diferença de incentivos explica por que
a pressão recai sobre Kiev. Para a Casa Branca, a guerra é um estorvo
estratégico; para a Ucrânia, é uma questão existencial. Ainda assim, Kiev deu
um passo relevante ao sinalizar abertura para discutir concessões territoriais
como parte de um cessar-fogo, desde que ancoradas em garantias de segurança
duráveis e juridicamente vinculantes. Ao fazê-lo, voltou a demonstrar que não é
o obstáculo à paz.
O ditador russo, Vladimir Putin, não estava à
mesa, mas moldou o ambiente da conversa. Sua estratégia segue inalterada:
prolongar a guerra, simular abertura diplomática e explorar fissuras no campo
ocidental. Moscou aposta menos em avanços decisivos no campo de batalha do que
no desgaste do apoio à Ucrânia. Cada rodada inconclusiva, cada ambiguidade ou
sinal de impaciência em Washington são tratados como ativo estratégico.
Trump atua nesse jogo como um mediador pouco
confiável. Sua diplomacia personalista, avessa a detalhes técnicos e sensível à
encenação de força, cria um terreno fértil à manipulação. O risco não está
apenas em concessões explícitas, mas no enquadramento do debate: quando a paz
se torna um fim em si, dissociado das condições que a tornam durável, o
agressor ganha vantagem antes mesmo de negociar.
O nó central se mantém: garantias de
segurança. A viabilidade de qualquer acordo depende menos da extensão das
concessões ucranianas – que já avançaram além do politicamente confortável – do
que da credibilidade dessas garantias e da disposição americana de sustentar a
dissuasão. Cessões territoriais sem proteção efetiva não encerram a guerra; só
a adiam.
As perspectivas são pouco animadoras. O mais
provável é a continuidade de negociações arrastadas, combinadas a uma guerra de
atrito que favorece Moscou. Um segundo cenário é uma “paz suja”: concessões
apressadas, sem garantias críveis, que plantariam as sementes de um conflito
futuro. A solução desejável é, lamentavelmente, a menos provável: uma paz
sustentada por compromissos claros e verificáveis exigiria de Trump um grau de
disciplina estratégica e clareza moral que ele jamais demonstrou.
Encerrar a guerra a qualquer custo é tentador. Mas encerrá-la mal custará mais caro. Uma paz que normalize a agressão e confunda realismo com resignação não estabiliza a Europa nem reduz riscos globais. Só prepara a crise seguinte, provavelmente mais aguda.
Socorro ambiental deve ser prioridade em 2026
Por Correio Braziliense
É dever dos candidatos à Presidência da
República, aos estados e ao Poder Legislativo apresentar um plano de governo
detalhado, com medidas concretas no combate ao aquecimento do planeta
Era novembro de 2023, quando o Brasil recebeu
a conclusão de uma pesquisa que, em condições ideais de temperatura e pressão,
deveria motivar um profundo debate público. Pesquisadores do Centro Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe) identificaram, pela primeira vez na história do
país, uma região árida, no bioma nordestino da Caatinga.
Até então, o Brasil só tinha conhecimento de
regiões semiáridas. A mudança de classificação significa que, na prática,
aquele território tem uma demanda atmosférica superior à chuva que recebe. Isso
representa períodos de seca muito mais agressivos para a população local — como
mostra reportagem publicada no último domingo (28) no jornal britânico The Guardian.
A publicação visitou a cidade de Macururé, de
aproximadamente 10 mil habitantes, no estado da Bahia. Lá, pessoas ouvidas pela
reportagem contam como suas realidades mudaram profundamente nas últimas
décadas. Sem água para agricultura de subsistência, a população é obrigada a
gastar mais dinheiro para conseguir alimentos para si e para a criação de
caprinos, principal modo de ganhar a vida em Macururé. Um decréscimo econômico
que causa fome e mata sonhos.
Realidade parecida foi amplamente dissecada
pelo Estado de Minas na série de reportagens Veredas Mortas, publicada em julho
de 2024. A reportagem percorreu cenários da célebre obra de Guimarães Rosa para
mostrar que onde o autor descrevia "a mais bela" cabeceira de água
não sobra uma gota sequer para matar a sede durante os períodos de estiagem.
Diante disso, o combate às mudanças
climáticas precisa ser tema prioritário nas eleições do próximo ano. É dever
dos candidatos à Presidência da República, aos estados e ao Poder Legislativo
apresentar um plano de governo detalhado, com medidas concretas no combate ao
aquecimento do planeta.
Ainda que o Brasil tenha uma das matrizes
energéticas mais renováveis do planeta, baseada em usinas hidrelétricas,
solares e eólicas, urge ressaltar que um país continental como o nosso encara
diferentes realidades. A abundância encontrada nas cidades economicamente
desenvolvidas não faz parte da rotina dos sertões espalhados a partir do norte
de Minas até a Região Nordeste, passando também pelo bioma do Cerrado,
amplamente arrasado pelo desmatamento nos anos recentes.
Se a COP30 terminou sem um caminho definido
para os combustíveis fósseis — diante dos desafios de tecnologia, investimento
e de vontade política que se impõem —, a população brasileira precisa cobrar de
quem se coloca nas urnas alguma resposta prática para o problema. Ao menos, um
caminho a ser seguido, com metas claras e gatilhos punitivos para o não
cumprimento delas.
É evidente que tal solução passa por um
compromisso global de combate ao aquecimento do planeta, mas isso não exclui a
necessidade de discutirmos mais seriamente um meio ambiente mais sustentável
internamente.
Sim, o Brasil precisa de apoio de nações mais
ricas para continuar nadando contra a corrente, defronte as feridas abertas
pelo colonialismo, mas quando medidas ambientais foram discutidas seriamente em
debates políticos em nosso país?
É preciso entender que falar de saúde, mobilidade e habitação se torna impossível sem debater sobre a emissão de gases do efeito estufa no cenário atual — apenas para citar três áreas extensivamente disputadas por candidatos e diretamente atingidas pelo problema. Já passou da hora de repensarmos o funcionamento da nossa sociedade em prol de algum futuro — de preferência mais justo, transparente e com oportunidades iguais para todos.
Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo
Por O Povo (CE)
Chegamos ao último dia de 2025, mais um ano
que deixa atrás de si marcas importantes e que apontam para um novo tempo
desafiador no 2026 que começa a ser vivenciado amanhã, 1º de janeiro. Como é
normal que aconteça, o balanço do período aponta avanços e retrocessos, ganhos
e perdas, nos cabendo agora fazer a melhor análise dele para tirar as lições
necessárias já com os olhos voltados para o que está por vir.
A sociedade brasileira foi muito testada nos
últimos 364 dias. Com destaque evidente para o que aconteceu na área política,
diante do momento histórico representado pela esperada conclusão do julgamento,
no Supremo Tribunal Federal (STF), dos núcleos centrais e considerados
decisivos de um movimento que, entre os anos de 2022 e 2023, quase levou ao rompimento
da democracia no País.
Claro que o ambiente ainda é tenso. Seria
ingenuidade dar a situação crítica por superada, completamente, mas o ano finda
com sinais importantes de que temos sido capazes de absorver sem traumas
maiores uma ação muito firme de instâncias como o Ministério Público e o
Judiciário para dar uma resposta à situação no nível grave que ela carrega como
símbolo. A democracia brasileira segue de pé, com suas imperfeições e
problemas.
Gente grande, de ex-presidente da República a
oficiais de alto patente, com responsabilidade comprovada com os fatos graves
daquele período ao longo das investigações receberam as punições devidas e, no
nosso entendimento, justas.
Quem discorda se manifesta de maneira
crítica, muitas vezes até com algum excesso, ocupando espaços parlamentares, na
mídia e onde mais seja possível, como é normal que aconteça no ambiente de
liberdade política que concretamente vivenciamos, apesar da ideia central que
se tenta emplacar de que o direito à opinião estaria sendo tolhido no momento
do País. Há uma realidade que nega isso de maneira límpida.
Outra área seriamente testada no 2025 do qual
nos despedimos nesta quarta foi a segurança pública. Um quadro nacional,
diga-se, embora aqui, no Ceará, o governo conclui o ano pressionado por números
e estatísticas que indicam uma situação muito distante do que poderia
representar aquilo que a população considera aceitável. A resposta à ousadia de
facções criminosas que atuam no Estado com aspectos próprios, e mais graves,
não está sendo suficiente para melhorar a sensação de segurança dos cearenses e
das cearenses.
Foi um ano no qual a economia comportou-se bem, mesmo que ainda distante do que entendemos como ideal, no qual a agricultura beneficiou-se de um inverno regular, em que a educação continuou nos oferecendo motivos de orgulho aos olhos do País, enfim, se encerra uma etapa do calendário que, como dito inicialmente, esteve marcado por boas e más notícias. É aguardar que a nova etapa que amanhã se inicia traga com ela mudanças reais que permitam a prevalência das manchetes positivas quando tivermos que fazer o próximo balanço, daqui a um ano.

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