PESQUISAS DE AGORA
Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
"Veja-se o caso das eleições deste ano na cidade de São Paulo. Tomando como base a mais recente pesquisa do Ibope, os quatro principais candidatos reúnem 84% das intenções de voto. Isso vai mudar? Até que ponto?"
Todo mundo sabe que pesquisas de intenção de voto, em eleições municipais, só são capazes de antecipar resultados quando feitas perto do pleito. Temos, já, uma boa experiência com esse tipo de eleição, no Brasil de hoje em dia, e poucos se esquecem disso quando vêem resultados como os que agora estão saindo. O que nem todos se lembram é por quê.
Trata-se de uma regra que comporta exceções, que nos ajudam a entendê-la melhor. Ou seja, embora prevaleçam os casos de pesquisas pouco conclusivas, temos aqueles em que elas conseguem prever o que as urnas vão mostrar, meses depois.
É o que acontece em eleições onde os principais candidatos são bem conhecidos. Nessas, há pouca margem de crescimento para qualquer um, pois as imagens que os eleitores fazem a respeito deles estão formadas e consolidadas. Não há, portanto, lugar para “surpresas”, salvo, é claro, se fatos novos de grande impacto ocorrerem.
Veja-se o caso das eleições deste ano na cidade de São Paulo. Tomando como base a mais recente pesquisa do Ibope, os quatro principais candidatos reúnem 84% das intenções de voto. Isso vai mudar?
Até que ponto?
O que, por exemplo, faria com que uma parte grande dos 34% que pensam votar em Marta trocasse de candidato? Quem tem essa intenção não sabe quem ela é? Não ouviu já as críticas de seus adversários e suas respostas? E será que os 66% que preferem outros nomes não sabem que ela é do PT e que Lula a apóia?
Quanto aos que pretendem votar em Alckmin, por acaso ignoram quem sã o seus oponentes? Falta-lhes alguma informação sobre o ex-governador?
Com Kassab não é a mesma coisa? E Maluf, com seus fiéis 9%, que resistem a tudo que contra ele foi dito? Há alguma denúncia “nova” que os possa escandalizar?
Casos como esse são excepcionais, no entanto. O prefeito atual, dois ex-prefeitos e dois ex-governadores, se enfrentando na mesma eleição, só em São Paulo. Na maior parte das vezes, acontece o inverso, disputas que adquirem suas cores definitivas apenas quando se chega perto do dia da votação.
Alguns casos de pesquisas feitas pela Vox Populi em 2004, de Norte a Sul do país, mostram isso com clareza. São apenas exemplos, parecidos com vários outros.
À mesma distância que estamos hoje da eleição, na segunda quinzena de julho, tínhamos o candidato do PT com grande vantagem em Porto Alegre. Nas pesquisas, Raul Pont chegava a 36%, sendo que nenhum dos outros atingia 10%. No primeiro turno, Pont obteve 35%, mas Fogaça recebeu 27% dos votos. No segundo turno, deu Fogaça.
Algo semelhante ocorreu em Manaus, onde Amazonino Mendes tinha 58% e Serafim Correa, 14%, que se transformaram em 41% e 27%, respectivamente, na eleição. Ao invés de vencer no primeiro turno, Amazonino perdeu no segundo.
Em Belo Horizonte, quem liderava em julho era João Leite, com 35 %, contra Fernando Pimentel, com 28% das intenções estimuladas. Na urna, Pimentel foi a 60% e o candidato do PSDB retrocedeu a 20%.
Tudo isso acontece por uma razão primordial: a quantidade e a intensidade de mídia que nossa legislação concede aos candidatos a prefeito, nas cidades onde existe televisão e rádio. Eles, sozinhos, dividem o precioso tempo de inserções, a única mídia que atinge o universo do eleitorado (pois só assiste ao horário eleitoral quem quer). O mesmo tempo que os candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e estadual têm que compartilhar nas eleições gerais.
Isso muda completamente o quadro de informações do eleitorado, que pode ser apresentado e atraído por nomes novos, que desconhecia poucas semanas antes. Quem tem o que dizer, fala muito e fala rápido. Assim se fazem as “surpresas”.
Podemos ter certeza que, este ano, as teremos de novo. Quem tem juízo, olha com cautela as pesquisas de agora.
Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
"Veja-se o caso das eleições deste ano na cidade de São Paulo. Tomando como base a mais recente pesquisa do Ibope, os quatro principais candidatos reúnem 84% das intenções de voto. Isso vai mudar? Até que ponto?"
Todo mundo sabe que pesquisas de intenção de voto, em eleições municipais, só são capazes de antecipar resultados quando feitas perto do pleito. Temos, já, uma boa experiência com esse tipo de eleição, no Brasil de hoje em dia, e poucos se esquecem disso quando vêem resultados como os que agora estão saindo. O que nem todos se lembram é por quê.
Trata-se de uma regra que comporta exceções, que nos ajudam a entendê-la melhor. Ou seja, embora prevaleçam os casos de pesquisas pouco conclusivas, temos aqueles em que elas conseguem prever o que as urnas vão mostrar, meses depois.
É o que acontece em eleições onde os principais candidatos são bem conhecidos. Nessas, há pouca margem de crescimento para qualquer um, pois as imagens que os eleitores fazem a respeito deles estão formadas e consolidadas. Não há, portanto, lugar para “surpresas”, salvo, é claro, se fatos novos de grande impacto ocorrerem.
Veja-se o caso das eleições deste ano na cidade de São Paulo. Tomando como base a mais recente pesquisa do Ibope, os quatro principais candidatos reúnem 84% das intenções de voto. Isso vai mudar?
Até que ponto?
O que, por exemplo, faria com que uma parte grande dos 34% que pensam votar em Marta trocasse de candidato? Quem tem essa intenção não sabe quem ela é? Não ouviu já as críticas de seus adversários e suas respostas? E será que os 66% que preferem outros nomes não sabem que ela é do PT e que Lula a apóia?
Quanto aos que pretendem votar em Alckmin, por acaso ignoram quem sã o seus oponentes? Falta-lhes alguma informação sobre o ex-governador?
Com Kassab não é a mesma coisa? E Maluf, com seus fiéis 9%, que resistem a tudo que contra ele foi dito? Há alguma denúncia “nova” que os possa escandalizar?
Casos como esse são excepcionais, no entanto. O prefeito atual, dois ex-prefeitos e dois ex-governadores, se enfrentando na mesma eleição, só em São Paulo. Na maior parte das vezes, acontece o inverso, disputas que adquirem suas cores definitivas apenas quando se chega perto do dia da votação.
Alguns casos de pesquisas feitas pela Vox Populi em 2004, de Norte a Sul do país, mostram isso com clareza. São apenas exemplos, parecidos com vários outros.
À mesma distância que estamos hoje da eleição, na segunda quinzena de julho, tínhamos o candidato do PT com grande vantagem em Porto Alegre. Nas pesquisas, Raul Pont chegava a 36%, sendo que nenhum dos outros atingia 10%. No primeiro turno, Pont obteve 35%, mas Fogaça recebeu 27% dos votos. No segundo turno, deu Fogaça.
Algo semelhante ocorreu em Manaus, onde Amazonino Mendes tinha 58% e Serafim Correa, 14%, que se transformaram em 41% e 27%, respectivamente, na eleição. Ao invés de vencer no primeiro turno, Amazonino perdeu no segundo.
Em Belo Horizonte, quem liderava em julho era João Leite, com 35 %, contra Fernando Pimentel, com 28% das intenções estimuladas. Na urna, Pimentel foi a 60% e o candidato do PSDB retrocedeu a 20%.
Tudo isso acontece por uma razão primordial: a quantidade e a intensidade de mídia que nossa legislação concede aos candidatos a prefeito, nas cidades onde existe televisão e rádio. Eles, sozinhos, dividem o precioso tempo de inserções, a única mídia que atinge o universo do eleitorado (pois só assiste ao horário eleitoral quem quer). O mesmo tempo que os candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e estadual têm que compartilhar nas eleições gerais.
Isso muda completamente o quadro de informações do eleitorado, que pode ser apresentado e atraído por nomes novos, que desconhecia poucas semanas antes. Quem tem o que dizer, fala muito e fala rápido. Assim se fazem as “surpresas”.
Podemos ter certeza que, este ano, as teremos de novo. Quem tem juízo, olha com cautela as pesquisas de agora.
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