LULA E O DELEGADO
Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do instituto vox populi
E as “férias” do diretor-geral da Polícia Federal? Em que lugar, no governo ou no setor privado, alguém tira férias em plena crise?
Os mais recentes atos da novela Daniel Dantas chegam a ser patéticos. Se alguém do Palácio do Planalto pedisse a um consultor de imagem, a um especialista em “gestão de crises”, sugestões de como proceder, a última, provavelmente, seria fazer como estão fazendo.
O afastamento “voluntário” do delegado Protógenes Queiroz, encarregado do inquérito, continua gozando de menos credibilidade que uma nota de três reais, mesmo depois da divulgação de trechos das conversas ocorridas na célebre reunião em que teria sido decidido. Faz tão pouco sentido, pelo que se conhece de seu comportamento e pelo que se pode generalizar sobre como as pessoas costumam reagir, que as suspeitas permanecem. Agora, quando ele próprio denuncia que seu trabalho foi dificultado, fica ainda mais improvável.
E a saída dos delegados auxiliares de Queiroz? Apenas ela bastava para deixar a tese insustentável, pois, sem o titular do inquérito, seria lógico que permanecessem, pelo menos por algum tempo, enquanto uma nova equipe não se familiarizasse com um trabalho de anos. É tão evidente que a notícia mais recente é que se está pedindo a ambos que reconsiderem a decisão. Por que a teriam tomado?
E as “férias” do diretor-geral da Polícia Federal? Em que lugar, no governo ou no setor privado, alguém tira férias em plena crise, vai descansar, quando a casa está pegando fogo? Na maioria das empresas, um diretor que pedisse férias em uma hora dessas poderia até recebê-las, mas seria avisado de que, ao cabo delas, não precisava voltar.
O juiz e o promotor encarregados do caso nada sabiam das intenções do delegado? No cotidiano das investigações, na intensa convivência profissional que um trabalho como esse enseja, Protógenes nunca disse a eles que iria se afastar uma semana depois da decretação da (primeira) prisão de Dantas? É crível que tenha agido assim ou são ambos hábeis atores, apenas fingindo surpresa?
As manifestações de outros delegados, de juízes federais e promotores, que apoiaram a investigação do delegado e se insurgiram contra seu afastamento, foram todas ingênuas? Quem conhece a Polícia Federal como eles, tem, certamente, motivos para não confundir um afastamento por opção com algo que justifica suas reações.
E para onde vai a imagem que parte da mídia pintou do delegado, o “perseguidor implacável” e um tanto “desvairado”? Se ele estava mesmo disposto a abandonar seu esforço de tanto tempo para cumprir as exigências burocráticas de sua carreira, pode ser tudo, menos alguém que se vê como “santo guerreiro na luta contra o dragão do mal”.
E a reunião no Planalto entre Lula, Tarso Genro e o ministro Gilmar Mendes, na qual parecia que um acordo tinha sido fechado, depois das farpas de lado a lado? Foi mera coincidência que tivesse ocorrido nas vésperas do anúncio da saída do delegado?
E todas as informações que a mídia levantou sobre o episódio, no trabalho de reportagem de diversos veículos? Tudo que colheram, todas as fontes ouvidas, tudo estava errado, confundiram uma mera banalidade com coisas mais significativas?
Mas o mais difícil de entender, a esta altura do affair, é a atitude de Lula. Depois de suas declarações no Timor, quando falou como deveria falar o presidente que a população elegeu, o que aconteceu? Lá, longe de casa, parecia o Lula de antigamente, direto, verdadeiro, até bravo. Foi só voltar, que tudo mudou.
Quem sugeriu a ele a desastrada atitude de “exigir” que o delegado permanecesse à frente do inquérito? Como fica a autoridade presidencial, quando um presidente manda recados por meio da imprensa a um funcionário público, que ninguém leva em consideração? O que fez o ministro da Justiça, o diretor (interino) da Polícia Federal, o superior hierárquico do delegado e o próprio, depois das declarações de Lula? Nada, todos as ignoraram.
O caso Dantas é tão cheio de mistérios que traz à lembrança uma frase de Jean Giono: “Quando os mistérios são cheios de maldade, eles se escondem em plena luz”.
Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do instituto vox populi
E as “férias” do diretor-geral da Polícia Federal? Em que lugar, no governo ou no setor privado, alguém tira férias em plena crise?
Os mais recentes atos da novela Daniel Dantas chegam a ser patéticos. Se alguém do Palácio do Planalto pedisse a um consultor de imagem, a um especialista em “gestão de crises”, sugestões de como proceder, a última, provavelmente, seria fazer como estão fazendo.
O afastamento “voluntário” do delegado Protógenes Queiroz, encarregado do inquérito, continua gozando de menos credibilidade que uma nota de três reais, mesmo depois da divulgação de trechos das conversas ocorridas na célebre reunião em que teria sido decidido. Faz tão pouco sentido, pelo que se conhece de seu comportamento e pelo que se pode generalizar sobre como as pessoas costumam reagir, que as suspeitas permanecem. Agora, quando ele próprio denuncia que seu trabalho foi dificultado, fica ainda mais improvável.
E a saída dos delegados auxiliares de Queiroz? Apenas ela bastava para deixar a tese insustentável, pois, sem o titular do inquérito, seria lógico que permanecessem, pelo menos por algum tempo, enquanto uma nova equipe não se familiarizasse com um trabalho de anos. É tão evidente que a notícia mais recente é que se está pedindo a ambos que reconsiderem a decisão. Por que a teriam tomado?
E as “férias” do diretor-geral da Polícia Federal? Em que lugar, no governo ou no setor privado, alguém tira férias em plena crise, vai descansar, quando a casa está pegando fogo? Na maioria das empresas, um diretor que pedisse férias em uma hora dessas poderia até recebê-las, mas seria avisado de que, ao cabo delas, não precisava voltar.
O juiz e o promotor encarregados do caso nada sabiam das intenções do delegado? No cotidiano das investigações, na intensa convivência profissional que um trabalho como esse enseja, Protógenes nunca disse a eles que iria se afastar uma semana depois da decretação da (primeira) prisão de Dantas? É crível que tenha agido assim ou são ambos hábeis atores, apenas fingindo surpresa?
As manifestações de outros delegados, de juízes federais e promotores, que apoiaram a investigação do delegado e se insurgiram contra seu afastamento, foram todas ingênuas? Quem conhece a Polícia Federal como eles, tem, certamente, motivos para não confundir um afastamento por opção com algo que justifica suas reações.
E para onde vai a imagem que parte da mídia pintou do delegado, o “perseguidor implacável” e um tanto “desvairado”? Se ele estava mesmo disposto a abandonar seu esforço de tanto tempo para cumprir as exigências burocráticas de sua carreira, pode ser tudo, menos alguém que se vê como “santo guerreiro na luta contra o dragão do mal”.
E a reunião no Planalto entre Lula, Tarso Genro e o ministro Gilmar Mendes, na qual parecia que um acordo tinha sido fechado, depois das farpas de lado a lado? Foi mera coincidência que tivesse ocorrido nas vésperas do anúncio da saída do delegado?
E todas as informações que a mídia levantou sobre o episódio, no trabalho de reportagem de diversos veículos? Tudo que colheram, todas as fontes ouvidas, tudo estava errado, confundiram uma mera banalidade com coisas mais significativas?
Mas o mais difícil de entender, a esta altura do affair, é a atitude de Lula. Depois de suas declarações no Timor, quando falou como deveria falar o presidente que a população elegeu, o que aconteceu? Lá, longe de casa, parecia o Lula de antigamente, direto, verdadeiro, até bravo. Foi só voltar, que tudo mudou.
Quem sugeriu a ele a desastrada atitude de “exigir” que o delegado permanecesse à frente do inquérito? Como fica a autoridade presidencial, quando um presidente manda recados por meio da imprensa a um funcionário público, que ninguém leva em consideração? O que fez o ministro da Justiça, o diretor (interino) da Polícia Federal, o superior hierárquico do delegado e o próprio, depois das declarações de Lula? Nada, todos as ignoraram.
O caso Dantas é tão cheio de mistérios que traz à lembrança uma frase de Jean Giono: “Quando os mistérios são cheios de maldade, eles se escondem em plena luz”.
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