A PASSEATA DOS SEM-VOTO
Villas-Bôas Corrêa
Como ainda teremos a ventura de acompanhar e, em casos mais raros, participar da campanha municipal para a eleição de prefeitos e vereadores nos dois meses e cinco dias de patriótico fervor democrático até as urnas de 5 de outubro, é possível que queime a língua com a precipitação do singelo registro de que nunca assisti a tão chocha e desenxabida caça ao voto esquivo da maioria absoluta do eleitorado, que não está nem aí para o espetáculo das passeatas dos que se oferecem para o sacrifício de salvar a pátria.
As pesquisas ainda escassas não autorizam afirmações categóricas. Mas salta aos olhos que o escasso interesse pelas tendências do eleitorado pega carona nas especulações sobre as eleições para valer de 2010 para presidente da República, governadores, senadores e deputados federais. E ainda assim, nem a perspectiva de uma polarização entre governo e oposição que esquente a gelada indiferença da população parece provável a esta distância, com tempo de sobra para cambalhotas que virem as tendências ou fustiguem a disparada dos favoritos.
Cada cidade vive o seu momento de expectativa. E é evidente que as rivalidades municipais dos que são a favor ou contra o prefeito retocam os quadros com a intensidade das paixões locais.
Não é este o foco das análises dos especialistas do ramo, de militantes a curiosos ou os teóricos que se debruçam sobre a decadência ética de uma atividade cada vez mais atraente com a disparada dos subsídios parlamentares em todos os níveis, confeitados com as mordomias, as vantagens, as verbas indenizatórias, os gabinetes individuais com dezenas de assessores de livre nomeação do titular, das passagens para o fim de semana na base, no aconchego da família e na ronda aos eleitores que garantem mais um mandato para um dos melhores empregos do mundo.
Do vereador, que já foi um dignificante exercício da cidadania, com todas as honras e sem remuneração, ao senador – mesmo dos senadores de garupa, sem um único voto, arrastados pelo galope do titular – o mandato ao mesmo tempo em que perde prestígio e o respeito da sociedade, incha com a atração de um emprego, que precisa ser confirmado em cada eleição, mas que enriquece a quem sabe aproveitar o vento a favor para garantir o alto nível de vida até a eternidade.
É desalentadora a seca e isenta constatação de evidências. E da abúlica indiferença de partidos que não têm nada a propor ou idéias a defender, do Congresso e do governo que têm sempre a intenção de propor ao debate uma reforma política que não reforme nada e deixe as coisas correrem na cadência da tapeação.
O eleitor ainda pode despertar para a importância do seu voto, que é a sua arma para participar de uma batalha que de algum modo influirá no seu destino e no de todos nós.
O voto nulo é uma tolice que não leva a coisa nenhuma. Só uma mobilização nacional que reúna multidões nas ruas e praças para defender o protesto do voto nulo, poderia mexer na indiferença dos donos do poder.
Depois, francamente, é uma frustrante birra o eleitor perder um domingo, enfrentar fila para fingir que vota com o voto nulo. A cartilha do eleitor consciente aconselha outras formas mais lúcidas de protesto. Repito a receita: mantenha acesa a chama da raiva, da indignação, do protesto. E decida por um dos atalhos da encruzilhada: ou vote no candidato da sua cuidadosa escolha pessoal ou, para começo de faxina, vote no novo, no estreante que demonstre a disposição e assuma o compromisso público de lutar pela reforma política.
A reforma moral, a varredura do lixo, a limpeza do entulho que tresanda à distância.
Villas-Bôas Corrêa
Como ainda teremos a ventura de acompanhar e, em casos mais raros, participar da campanha municipal para a eleição de prefeitos e vereadores nos dois meses e cinco dias de patriótico fervor democrático até as urnas de 5 de outubro, é possível que queime a língua com a precipitação do singelo registro de que nunca assisti a tão chocha e desenxabida caça ao voto esquivo da maioria absoluta do eleitorado, que não está nem aí para o espetáculo das passeatas dos que se oferecem para o sacrifício de salvar a pátria.
As pesquisas ainda escassas não autorizam afirmações categóricas. Mas salta aos olhos que o escasso interesse pelas tendências do eleitorado pega carona nas especulações sobre as eleições para valer de 2010 para presidente da República, governadores, senadores e deputados federais. E ainda assim, nem a perspectiva de uma polarização entre governo e oposição que esquente a gelada indiferença da população parece provável a esta distância, com tempo de sobra para cambalhotas que virem as tendências ou fustiguem a disparada dos favoritos.
Cada cidade vive o seu momento de expectativa. E é evidente que as rivalidades municipais dos que são a favor ou contra o prefeito retocam os quadros com a intensidade das paixões locais.
Não é este o foco das análises dos especialistas do ramo, de militantes a curiosos ou os teóricos que se debruçam sobre a decadência ética de uma atividade cada vez mais atraente com a disparada dos subsídios parlamentares em todos os níveis, confeitados com as mordomias, as vantagens, as verbas indenizatórias, os gabinetes individuais com dezenas de assessores de livre nomeação do titular, das passagens para o fim de semana na base, no aconchego da família e na ronda aos eleitores que garantem mais um mandato para um dos melhores empregos do mundo.
Do vereador, que já foi um dignificante exercício da cidadania, com todas as honras e sem remuneração, ao senador – mesmo dos senadores de garupa, sem um único voto, arrastados pelo galope do titular – o mandato ao mesmo tempo em que perde prestígio e o respeito da sociedade, incha com a atração de um emprego, que precisa ser confirmado em cada eleição, mas que enriquece a quem sabe aproveitar o vento a favor para garantir o alto nível de vida até a eternidade.
É desalentadora a seca e isenta constatação de evidências. E da abúlica indiferença de partidos que não têm nada a propor ou idéias a defender, do Congresso e do governo que têm sempre a intenção de propor ao debate uma reforma política que não reforme nada e deixe as coisas correrem na cadência da tapeação.
O eleitor ainda pode despertar para a importância do seu voto, que é a sua arma para participar de uma batalha que de algum modo influirá no seu destino e no de todos nós.
O voto nulo é uma tolice que não leva a coisa nenhuma. Só uma mobilização nacional que reúna multidões nas ruas e praças para defender o protesto do voto nulo, poderia mexer na indiferença dos donos do poder.
Depois, francamente, é uma frustrante birra o eleitor perder um domingo, enfrentar fila para fingir que vota com o voto nulo. A cartilha do eleitor consciente aconselha outras formas mais lúcidas de protesto. Repito a receita: mantenha acesa a chama da raiva, da indignação, do protesto. E decida por um dos atalhos da encruzilhada: ou vote no candidato da sua cuidadosa escolha pessoal ou, para começo de faxina, vote no novo, no estreante que demonstre a disposição e assuma o compromisso público de lutar pela reforma política.
A reforma moral, a varredura do lixo, a limpeza do entulho que tresanda à distância.
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