Editorial
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO(PE)
Desde que morreu, em julho de 1934, o padre Cícero Romão Batista, de Juazeiro do Ceará, virou padroeiro dos políticos, cabo eleitoral predileto em todas as campanhas municipais. Fotos do candidato ao lado do padre, santinhos recorrendo ao apoio dele eram indispensáveis, assim como calendários com a foto do mais carismático religioso dos sertões nordestinos, associado ao pretendente do cargo público. Na eleição municipal deste ano, porém, os políticos têm um novo padroeiro: no lugar do padre cearense, o pernambucano presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. É impressionante a multiplicação da foto de Lula sorridente, majestático em sua pose de presidente da República, ao lado de candidatos de todas as tendências. Da mais tradicional direita à mais aguerrida esquerda, exceto, claro, seus arquiinimigos Psol e PSTU. Até candidatos do partido de Maluf – aparentemente incompatível com a idéia de um presidente do PT – disputam o direito de se apresentar como prefeito, ou vereador, de Lula.
Se não havia estudos bem fundamentados para mensurar em votos o peso da foto do Padre Cícero, nas eleições municipais deste ano dá para fazer algumas aproximações e associar o crescimento de candidatos na mesma proporção de sua identificação com o presidente da República. O caso do Recife é emblemático. O atual prefeito seguramente tem boa aceitação, o governador, idem, mas é o padroeiro Lula que parece fazer a balança pesar mais para um lado, assim como vem acontecendo em todos os municípios onde o lugar do Padre Cícero foi ocupado por Lula. Fica faltando, porém, avaliar o que representa de transformação essa troca de santinhos. Se nos 70 anos em que foi apresentado como patrono de candidatos a prefeitos ou vereadores nenhum avanço substancial pode ser associado ao patrocínio do Padre Cícero, é interessante se questionar o que pode mudar com a troca.
O que parece é que nada aponta para avanços no gerenciamento municipal da quase totalidade dos municípios. Aqui em Pernambuco, por exemplo, o que aconteceu de significativo está sendo a definição de grandes pólos econômicos a partir da iniciativa privada impulsionada pelos poderes públicos estadual e federal, como é o caso do complexo industrial-portuário de Suape, que transforma Ipojuca num dos cinco maiores, mais dinâmicos e como maior economia do Estado, o pólo de confecções, que dá a Caruaru um perfil de capital do Agreste, os grandes empreendimentos do agronegócio que fazem de Petrolina a capital do Sertão, ou, em processo de instalação, o grupo da Perdigão/Batavo, levando para Bom Conselho e vizinhanças uma pujança nunca imaginada.
Tudo isso a partir do capital privado que se instala com ânimo e gera mudanças substanciais, como nunca sonhou qualquer gerente da coisa pública municipal, mesmo quando há potencial, porque sua ação se esgota em quatro, no máximo oito anos, faltando alguns componentes fundamentais, como a continuidade da obra, a busca de projetos estruturadores, a capacidade de articulação microrregional para a identificação de vocações econômicas. Atitudes que não acompanha, sequer como manifestação de boa intenção, a propaganda dos candidatos locais ao lado do presidente da República. Não há explicação para a presença do padroeiro, a não ser o fato de ser ele o realizador do mais bem sucedido programa de transferência de renda da história do Brasil, o Bolsa-Família.
E é aí onde se explica o “milagre” do santo Lula, destronando o Padre Cícero do Juazeiro: o Bolsa-Família chega onde nunca chegou qualquer programa de governo: os excluídos na mais rigorosa expressão do termo, porque estavam fora inteiramente do mercado de consumo. Com o programa – que no vulgo é tratado como “o dinheiro de Lula” – passa a haver renda, consumo, e a inevitável dependência, o medo mesmo, de que não votando em Lula, ou contra ele, também desapareça o benefício. O problema que permanece, porém, é que essa renda não é suficiente para ativar a economia local de forma a gerar a atração de investimentos que, aí sim, mudariam o perfil das comunidades onde as coisas continuam como no tempo em que o principal padroeiro era o Padre Cícero.
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO(PE)
Desde que morreu, em julho de 1934, o padre Cícero Romão Batista, de Juazeiro do Ceará, virou padroeiro dos políticos, cabo eleitoral predileto em todas as campanhas municipais. Fotos do candidato ao lado do padre, santinhos recorrendo ao apoio dele eram indispensáveis, assim como calendários com a foto do mais carismático religioso dos sertões nordestinos, associado ao pretendente do cargo público. Na eleição municipal deste ano, porém, os políticos têm um novo padroeiro: no lugar do padre cearense, o pernambucano presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. É impressionante a multiplicação da foto de Lula sorridente, majestático em sua pose de presidente da República, ao lado de candidatos de todas as tendências. Da mais tradicional direita à mais aguerrida esquerda, exceto, claro, seus arquiinimigos Psol e PSTU. Até candidatos do partido de Maluf – aparentemente incompatível com a idéia de um presidente do PT – disputam o direito de se apresentar como prefeito, ou vereador, de Lula.
Se não havia estudos bem fundamentados para mensurar em votos o peso da foto do Padre Cícero, nas eleições municipais deste ano dá para fazer algumas aproximações e associar o crescimento de candidatos na mesma proporção de sua identificação com o presidente da República. O caso do Recife é emblemático. O atual prefeito seguramente tem boa aceitação, o governador, idem, mas é o padroeiro Lula que parece fazer a balança pesar mais para um lado, assim como vem acontecendo em todos os municípios onde o lugar do Padre Cícero foi ocupado por Lula. Fica faltando, porém, avaliar o que representa de transformação essa troca de santinhos. Se nos 70 anos em que foi apresentado como patrono de candidatos a prefeitos ou vereadores nenhum avanço substancial pode ser associado ao patrocínio do Padre Cícero, é interessante se questionar o que pode mudar com a troca.
O que parece é que nada aponta para avanços no gerenciamento municipal da quase totalidade dos municípios. Aqui em Pernambuco, por exemplo, o que aconteceu de significativo está sendo a definição de grandes pólos econômicos a partir da iniciativa privada impulsionada pelos poderes públicos estadual e federal, como é o caso do complexo industrial-portuário de Suape, que transforma Ipojuca num dos cinco maiores, mais dinâmicos e como maior economia do Estado, o pólo de confecções, que dá a Caruaru um perfil de capital do Agreste, os grandes empreendimentos do agronegócio que fazem de Petrolina a capital do Sertão, ou, em processo de instalação, o grupo da Perdigão/Batavo, levando para Bom Conselho e vizinhanças uma pujança nunca imaginada.
Tudo isso a partir do capital privado que se instala com ânimo e gera mudanças substanciais, como nunca sonhou qualquer gerente da coisa pública municipal, mesmo quando há potencial, porque sua ação se esgota em quatro, no máximo oito anos, faltando alguns componentes fundamentais, como a continuidade da obra, a busca de projetos estruturadores, a capacidade de articulação microrregional para a identificação de vocações econômicas. Atitudes que não acompanha, sequer como manifestação de boa intenção, a propaganda dos candidatos locais ao lado do presidente da República. Não há explicação para a presença do padroeiro, a não ser o fato de ser ele o realizador do mais bem sucedido programa de transferência de renda da história do Brasil, o Bolsa-Família.
E é aí onde se explica o “milagre” do santo Lula, destronando o Padre Cícero do Juazeiro: o Bolsa-Família chega onde nunca chegou qualquer programa de governo: os excluídos na mais rigorosa expressão do termo, porque estavam fora inteiramente do mercado de consumo. Com o programa – que no vulgo é tratado como “o dinheiro de Lula” – passa a haver renda, consumo, e a inevitável dependência, o medo mesmo, de que não votando em Lula, ou contra ele, também desapareça o benefício. O problema que permanece, porém, é que essa renda não é suficiente para ativar a economia local de forma a gerar a atração de investimentos que, aí sim, mudariam o perfil das comunidades onde as coisas continuam como no tempo em que o principal padroeiro era o Padre Cícero.
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