sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Alta do dólar vai pressionar a inflação

Andrea Vialli
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A valorização do dólar nos últimos dias - especialmente ontem, quando a moeda americana subiu 3,3% e fechou o dia valendo R$ 1,93 - já traz o risco de impacto sobre os indicadores de custo de vida do País e conseqüente pressão sobre a inflação em 2008. Ontem, na máxima do dia, a moeda americana chegou a valer R$ 1,96. Ao longo do mês de setembro, o dólar acumula alta de 18,2%, e chegou ao maior valor desde setembro de 2007.

“A alta do dólar traz dois impactos importantes: um é a pressão sobre os preços livres, como o dos itens importados, por exemplo. O outro impacto é sobre os preços administrados por índices de inflação como o IGP, que são referenciais de preços de contratos como aluguéis,seguros e tarifas públicas”, explica o economista Márcio Nakane, coordenador técnico da Tendências Consultoria.

Segundo ele, os dois tipos de impacto têm pesos semelhantes sobre a inflação - em média, a cada 10% de elevação do dólar, existe um impacto de 1% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Ou seja, primeiro ocorre uma pressão sobre os preços no atacado, no IGP, que depois é repassada para o varejo”, afirma Nakane.

No entanto, ele avisa que esse cálculo é uma simulação e não leva em consideração outras forças em atuação na economia. “Há muitas coisas acontecendo. Ao mesmo tempo que o dólar sobe, há fatores que podem amenizar o impacto inflacionário, como a queda das commodities e a elevação dos juros”, observa.

De acordo com Nakane, ainda é cedo, no entanto, para prever o comportamento da moeda americana nos próximos dias e seu impacto efetivo sobre a inflação. “A pressão vai existir sim, mas é muito difícil prever o quanto neste momento. O dólar a R$ 1,90 é reflexo dos acontecimentos da semana.”

Para Luiz Jurandir Simões Araújo, professor de finanças da FEA/USP, é provável que o dólar se mantenha entre R$ 1,85 e R$ 2,00 nas próximas semanas. “Mas isso não deve nos prejudicar muito porque os fundamentos da economia brasileira não mudaram. Nosso navio não tem furo no casco.”

Segundo o professor, a alta do dólar deve pressionar a inflação, mas é uma oportunidade para as empresas exportadoras venderem mais. “Os exportadores podem aproveitar esse momento para vender mais. Mesmo se os países ricos importarem menos, os emergentes estão em expansão.”

Nenhum comentário: