sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Para OMC, crise afetará saldo comercial do País

Jamil Chade, GENEBRA
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Estagnação da UE e dos EUA reduzirá exportações

A crise mundial deverá afetar diretamente a capacidade do Brasil de manter o superávit comercial, avaliam economistas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Eles já estão até reduzindo a estimativa de expansão das exportações e importações brasileiras em 2008.

Com a Europa entrando em recessão e os Estados Unidos em situação difícil, a perspectiva é de que comprem menos. Mais de 45% das exportações brasileiras são para esses dois mercados. Ao mesmo tempo, as importações não dão sinais de queda brusca, pelo menos por enquanto.

Para completar, a crise deve ainda reduzir os preços internacionais de minérios. No setor agrícola, a OMC prevê uma safra positiva em muitos mercados, o que deve também reduzir os preços internacionais. Dados da OMC confirmam que, em 2007, a alta nos preços foi fundamental para a balança comercial do País.

Michael Finger, economista da OMC, confirma que o crescimento de 4,5% previsto no início do ano para o comércio mundial será reavaliado. “Já estamos fazendo esse trabalho, com base nos novos dados de crescimento do PIB para o ano.” O secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Comércio (Unctad), Supachai Panitchpakdi, confirma. “A crise financeira pode se transformar em crise de comércio. O sistema comercial mundial será duramente afetado, como já começamos a ver. O comércio precisa ser financiado.”

Dados da União Européia (UE) indicam que o comércio com os Estados Unidos e o Japão foi reduzido nos seis primeiros meses do ano diante da desaceleração em Washington e Tóquio. Para o mercado americano, as exportações européias caíram 4%, mesmo índice das vendas para o Japão.

Os 27 países da UE tiveram déficit somado de 21,5 bilhões em julho, ante 13,6 bilhões no mesmo mês de 2007. O buraco não é maior graças aos países emergentes, cuja economia continua crescendo. Em parte, o crescimento do Brasil explicaria a ameaça ao superávit. O País incrementou em 12% as exportações para a Europa nos seis primeiros meses do ano, com 17 bilhões de euros. As importações aumentaram 20%.

A China se distanciou dos Estados Unidos e hoje é a maior fornecedora de bens para o mercado europeu. Entre janeiro e junho, Pequim exportou 111 bilhões para a UE, um aumento de 15% em relação ao ano anterior. Já os europeus exportaram 16% mais para os chineses neste ano, ante 24% mais para a Rússia.

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