Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Engana-se quem acha que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, tirou o PMDB das alternativas de que dispõe para 2010. Na última conversa que teve com o deputado Michel Temer, presidente do partido, e o ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, o tucano mineiro tratou de deixar as portas abertas. Bem abertas.
"Se o Serra me atropelar...", ainda ironizou, ao se despedir, referindo-se ao governador de São Paulo, José Serra, e à fama do tucano de passar por cima dos adversários.
Entre os tucanos é corrente a avaliação segundo a qual Aécio será candidato em 2010, seja pelo PSDB ou PMDB.
Por quê? Em outra oportunidade as condições talvez não sejam mais tão boas quanto as atuais, quando o governador encerra seu segundo mandato com uma aprovação que beira a casa dos 80%. Um piparote da Executiva Nacional resolve a questão da resolução que pemedebistas mineiros aprovaram para dificultar a filiação de Aécio ao partido.
A questão é saber se o PMDB terá a mínima vontade de ter um candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A não ser como o candidato de um PSDB coeso, hipótese, no momento, considerada improvável, não haveria melhor cenário para Aécio.
Resta saber se falará mais alto a lógica regional pemedebista e mais uma vez o partido ficará sem candidato, o que ocorre sistematicamente desde 1994, quando Orestes Quércia teve participação melancólica na eleição.
Se Aécio não for para o PMDB, parece evidente hoje para tucanos que este partido, sem candidato, se alia à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ou ao governador de São Paulo, José Serra. Isso, se não se dividir entre os dois, uma prática usual entre os pemedebistas.
Aécio passaria então a ser um outsider numa eleição em que poderia reunir - como se acredita no PSDB - um amplo espectro que vai do centro para a direita, e que ainda não se julga representado nas eleições de 2010. Deve ir com Serra contrariado, se não tiver opção mais digerível.
Mas Aécio também tem dificuldades no próprio terreiro. O governador perdeu a aposta que fez na parceria do PSDB com o PT, chegou a resmungar contra Lula logo após as eleições municipais e terá um problema a mais para resolver em Minas, o terceiro maior colégio eleitoral do país: Dilma Rousseff - cuja candidatura Lula já disse até para os tucanos que é pra valer -, é mineira.
É com Dilma que devem ficar os ministros os mineiros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Luiz Dulci (Secretaria Geral), por exemplo, dividindo um território que até a eleição municipal parecia blindado pelo popular Aécio - aliás, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), aliado eventual do governador na eleição passada, também promete compor com a força-tarefa de Dilma no Estado.
Aécio tem sido aconselhado até por pemedebistas a não se filiar ao partido, se pensa em concorrer à Presidência em 2010. A margem de segurança é pequena, como o PMDB já demonstrou em situações anteriores, quando deixou a pé o ex-presidente Itamar Franco e o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, convidado para a integrar a sigla justamente para ser candidato na eleição de 2006.
No momento, o PMDB é um partido mais inclinado a indicar um candidato a vice-presidente na chapa governista. Mas não descarta a possibilidade de ter um candidato próprio, ainda mais se esse candidato é um governador jovem, bem avaliado e neto de Tancredo Neves, cujo centenário será comemorado justamente em 2010, o ano da eleição.
Até a definição dos partidos, no entanto, o Congresso precisa correr com algumas decisões. Como vai ficar a questão da fidelidade, por exemplo.
O Congresso tende a abrir uma janela para permitir a troca de partidos - o que interessa diretamente a Aécio Neves.
Mas a mudança terá de ser feita por emenda constitucional, para não correr o risco de cair nos tribunais. Mudanças na Constituição requerem quórum qualificado e tempo - e por se tratar de regras eleitorais, precisam ser aprovadas até o início de outubro. O que não deve constituir tarefa fácil, devido aos interesses em jogo.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Engana-se quem acha que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, tirou o PMDB das alternativas de que dispõe para 2010. Na última conversa que teve com o deputado Michel Temer, presidente do partido, e o ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional, o tucano mineiro tratou de deixar as portas abertas. Bem abertas.
"Se o Serra me atropelar...", ainda ironizou, ao se despedir, referindo-se ao governador de São Paulo, José Serra, e à fama do tucano de passar por cima dos adversários.
Entre os tucanos é corrente a avaliação segundo a qual Aécio será candidato em 2010, seja pelo PSDB ou PMDB.
Por quê? Em outra oportunidade as condições talvez não sejam mais tão boas quanto as atuais, quando o governador encerra seu segundo mandato com uma aprovação que beira a casa dos 80%. Um piparote da Executiva Nacional resolve a questão da resolução que pemedebistas mineiros aprovaram para dificultar a filiação de Aécio ao partido.
A questão é saber se o PMDB terá a mínima vontade de ter um candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A não ser como o candidato de um PSDB coeso, hipótese, no momento, considerada improvável, não haveria melhor cenário para Aécio.
Resta saber se falará mais alto a lógica regional pemedebista e mais uma vez o partido ficará sem candidato, o que ocorre sistematicamente desde 1994, quando Orestes Quércia teve participação melancólica na eleição.
Se Aécio não for para o PMDB, parece evidente hoje para tucanos que este partido, sem candidato, se alia à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ou ao governador de São Paulo, José Serra. Isso, se não se dividir entre os dois, uma prática usual entre os pemedebistas.
Aécio passaria então a ser um outsider numa eleição em que poderia reunir - como se acredita no PSDB - um amplo espectro que vai do centro para a direita, e que ainda não se julga representado nas eleições de 2010. Deve ir com Serra contrariado, se não tiver opção mais digerível.
Mas Aécio também tem dificuldades no próprio terreiro. O governador perdeu a aposta que fez na parceria do PSDB com o PT, chegou a resmungar contra Lula logo após as eleições municipais e terá um problema a mais para resolver em Minas, o terceiro maior colégio eleitoral do país: Dilma Rousseff - cuja candidatura Lula já disse até para os tucanos que é pra valer -, é mineira.
É com Dilma que devem ficar os ministros os mineiros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Luiz Dulci (Secretaria Geral), por exemplo, dividindo um território que até a eleição municipal parecia blindado pelo popular Aécio - aliás, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), aliado eventual do governador na eleição passada, também promete compor com a força-tarefa de Dilma no Estado.
Aécio tem sido aconselhado até por pemedebistas a não se filiar ao partido, se pensa em concorrer à Presidência em 2010. A margem de segurança é pequena, como o PMDB já demonstrou em situações anteriores, quando deixou a pé o ex-presidente Itamar Franco e o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, convidado para a integrar a sigla justamente para ser candidato na eleição de 2006.
No momento, o PMDB é um partido mais inclinado a indicar um candidato a vice-presidente na chapa governista. Mas não descarta a possibilidade de ter um candidato próprio, ainda mais se esse candidato é um governador jovem, bem avaliado e neto de Tancredo Neves, cujo centenário será comemorado justamente em 2010, o ano da eleição.
Até a definição dos partidos, no entanto, o Congresso precisa correr com algumas decisões. Como vai ficar a questão da fidelidade, por exemplo.
O Congresso tende a abrir uma janela para permitir a troca de partidos - o que interessa diretamente a Aécio Neves.
Mas a mudança terá de ser feita por emenda constitucional, para não correr o risco de cair nos tribunais. Mudanças na Constituição requerem quórum qualificado e tempo - e por se tratar de regras eleitorais, precisam ser aprovadas até o início de outubro. O que não deve constituir tarefa fácil, devido aos interesses em jogo.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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