Merval Pereira
DEU EM O GLOBO
NOVA YORK. O que mais se destaca das escolhas já anunciadas pelo presidente eleito, Barack Obama, para seu Ministério é a certeza que demonstra de que conseguirá fazer com que todo esse time de experientes servidores públicos trabalhará em conjunto sob sua liderança, sem temer que o prestígio próprio de cada um inviabilize a equipe. O caso mais notório é o da senadora Hillary Clinton, cuja nomeação para o Departamento de Estado deve ser oficializada na próxima semana, mas também na equipe econômica anunciada ontem há experientes servidores, e não necessariamente uma liderança inconteste.
Todos são "crias" de Robert Rubin, ex- secretário do Tesouro do governo Clinton. O futuro secretário do Tesouro, e atual presidente do Banco Central de Nova York, Timothy Geithner, já exerceu o cargo de subsecretário do Tesouro tanto de Rubin quanto de Lawrence Summers, nomeado diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca.
A única "outsider" do grupo é a economista Christina Romer, uma especialista em recessão, nomeada para o Conselho de Assessores Econômicos. Professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, ela chefiará um grupo de três pessoas, indicadas pelo presidente, mas aprovadas pelo Senado, que têm uma série de funções já institucionalizadas, como a publicação de relatório anual, reuniões rotineiras, aconselhamento técnico.
É uma função bastante prestigiosa, mas quase acadêmica. Os integrantes desse conselho preocupam-se muito mais em ser imparciais, embora seu diretor seja sempre um republicano ou um democrata, dependendo do presidente eleito. Mas a idéia é que seja mais um órgão de assessoria econômica do que de assessoramento político.
A posição de Larry Summers, de assessor direto, é mais influente, embora tenha menos apoio institucional. Provavelmente pesou na escolha do cargo o fato de que Summers teria dificuldades de ser aprovado pelo Senado para alguma função ministerial devido à pressão dos organismos feministas, devido aos comentários que fez sobre uma suposta incapacidade das mulheres com a matemática e a ciência, o que o levou a renunciar ao cargo de reitor da Universidade Harvard. O atual chefe do Escritório de Orçamento do Congresso, Peter Orszag, o novo diretor do Escritório da Casa Branca de Gerenciamento e Orçamento, é outro burocrata ligado ao Partido Democrata com experiência de governo, pois trabalhou como economista na equipe de Clinton na Casa Branca.
Na opinião de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central brasileiro e amigo de Tim Geithner, a escolha não poderia ter sido melhor. "Excelente, experiente, craque, sujeito de primeira mesmo", é assim que Armínio o define, ressaltando o fato de que ele entrará no cargo já com conhecimento de causa, pois vem participando da formulação de medidas para conter a crise econômica.
O "Wall Street Journal" publicou recentemente uma série de reportagens contando que ele foi contra a decisão de não salvar o Lehmann Brothers, por exemplo. Ele saúda a participação de Larry Summers em um posto de coordenação mais ampla, que ajudará a formular outras políticas como a do comércio exterior e tributária, além de ajudar também na política geral de regulação dos mercados, o que, segundo Armínio, é importante para dar uma perspectiva de futuro.
O ex-presidente do Banco Central brasileiro acha que, além das medidas de expansão de gasto público que já faziam parte do discurso do candidato Barack Obama, de forma alavancar o nível de atividade de maneira mais focada, está fazendo falta reforçar uma visão de longo prazo de como essas coisas todas na área financeira vão evoluir.
"Acho que eles têm que casar isso com uma agenda mais completa de crescimento de longo prazo", que seria o papel importante de Larry Summers.
O economista Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor da área internacional do Banco Central e atualmente atuando na área financeira em Nova York, festeja o fato de que "há muito tempo não tinha no Tesouro um burocrata, Geithner basicamente sempre trabalhou no setor público, e isso é positivo, ele tem mais afinidade com esse tipo de trabalho, é um gerenciador de projetos".
Ele ressalta que já existem vários planos aprovados e sendo executados, dos quais ele participou como presidente do Banco Central de Nova York, e vão surgir vários debates e sugestões sobre como desenvolver as novas medidas. "Ainda estamos em situação de crise, e o Geithner tem a fama de ser bom nessas horas, ele ouve muito".
Vieira da Cunha considera elogiável que Obama esteja pegando uma equipe muito experiente, onde a maioria está fazendo o que já vinha fazendo em administrações anteriores. Com exceção de Summers, que é um formulador mais personalista, todos os demais integrantes da equipe são pragmáticos e acostumados a trabalhar em equipe, o que será essencial nesse momento.
Para ele, muita coisa ainda está para acontecer no sistema financeiro, com possíveis custos associados a essa reestruturação, e a questão é saber quanto mais de dinheiro será necessário, a cada dia abre-se uma nova brecha, como agora o salvamento do Citigroup, ou novas garantias do governo, que podem criar "esqueletos dentro do armário" que mais adiante terão que ser revistos.
Para Armínio Fraga, o último trimestre deste ano e o primeiro do ano que vem "estão com uma cara muito ruim, os Estados Unidos já está em recessão". Para ele, é "impressionante" uma desaceleração sincronizada como a que estamos vivendo, que nunca aconteceu antes desde a Depressão, e vem "assustando os mercados, afetando a confiança do consumidor e os planos de investimentos".
Para Armínio, a situação que vão ter que enfrentar é muito difícil, não dá para esperar nenhum milagre, "mas uma equipe melhor do que essa é difícil encontrar".
DEU EM O GLOBO
NOVA YORK. O que mais se destaca das escolhas já anunciadas pelo presidente eleito, Barack Obama, para seu Ministério é a certeza que demonstra de que conseguirá fazer com que todo esse time de experientes servidores públicos trabalhará em conjunto sob sua liderança, sem temer que o prestígio próprio de cada um inviabilize a equipe. O caso mais notório é o da senadora Hillary Clinton, cuja nomeação para o Departamento de Estado deve ser oficializada na próxima semana, mas também na equipe econômica anunciada ontem há experientes servidores, e não necessariamente uma liderança inconteste.
Todos são "crias" de Robert Rubin, ex- secretário do Tesouro do governo Clinton. O futuro secretário do Tesouro, e atual presidente do Banco Central de Nova York, Timothy Geithner, já exerceu o cargo de subsecretário do Tesouro tanto de Rubin quanto de Lawrence Summers, nomeado diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca.
A única "outsider" do grupo é a economista Christina Romer, uma especialista em recessão, nomeada para o Conselho de Assessores Econômicos. Professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, ela chefiará um grupo de três pessoas, indicadas pelo presidente, mas aprovadas pelo Senado, que têm uma série de funções já institucionalizadas, como a publicação de relatório anual, reuniões rotineiras, aconselhamento técnico.
É uma função bastante prestigiosa, mas quase acadêmica. Os integrantes desse conselho preocupam-se muito mais em ser imparciais, embora seu diretor seja sempre um republicano ou um democrata, dependendo do presidente eleito. Mas a idéia é que seja mais um órgão de assessoria econômica do que de assessoramento político.
A posição de Larry Summers, de assessor direto, é mais influente, embora tenha menos apoio institucional. Provavelmente pesou na escolha do cargo o fato de que Summers teria dificuldades de ser aprovado pelo Senado para alguma função ministerial devido à pressão dos organismos feministas, devido aos comentários que fez sobre uma suposta incapacidade das mulheres com a matemática e a ciência, o que o levou a renunciar ao cargo de reitor da Universidade Harvard. O atual chefe do Escritório de Orçamento do Congresso, Peter Orszag, o novo diretor do Escritório da Casa Branca de Gerenciamento e Orçamento, é outro burocrata ligado ao Partido Democrata com experiência de governo, pois trabalhou como economista na equipe de Clinton na Casa Branca.
Na opinião de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central brasileiro e amigo de Tim Geithner, a escolha não poderia ter sido melhor. "Excelente, experiente, craque, sujeito de primeira mesmo", é assim que Armínio o define, ressaltando o fato de que ele entrará no cargo já com conhecimento de causa, pois vem participando da formulação de medidas para conter a crise econômica.
O "Wall Street Journal" publicou recentemente uma série de reportagens contando que ele foi contra a decisão de não salvar o Lehmann Brothers, por exemplo. Ele saúda a participação de Larry Summers em um posto de coordenação mais ampla, que ajudará a formular outras políticas como a do comércio exterior e tributária, além de ajudar também na política geral de regulação dos mercados, o que, segundo Armínio, é importante para dar uma perspectiva de futuro.
O ex-presidente do Banco Central brasileiro acha que, além das medidas de expansão de gasto público que já faziam parte do discurso do candidato Barack Obama, de forma alavancar o nível de atividade de maneira mais focada, está fazendo falta reforçar uma visão de longo prazo de como essas coisas todas na área financeira vão evoluir.
"Acho que eles têm que casar isso com uma agenda mais completa de crescimento de longo prazo", que seria o papel importante de Larry Summers.
O economista Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor da área internacional do Banco Central e atualmente atuando na área financeira em Nova York, festeja o fato de que "há muito tempo não tinha no Tesouro um burocrata, Geithner basicamente sempre trabalhou no setor público, e isso é positivo, ele tem mais afinidade com esse tipo de trabalho, é um gerenciador de projetos".
Ele ressalta que já existem vários planos aprovados e sendo executados, dos quais ele participou como presidente do Banco Central de Nova York, e vão surgir vários debates e sugestões sobre como desenvolver as novas medidas. "Ainda estamos em situação de crise, e o Geithner tem a fama de ser bom nessas horas, ele ouve muito".
Vieira da Cunha considera elogiável que Obama esteja pegando uma equipe muito experiente, onde a maioria está fazendo o que já vinha fazendo em administrações anteriores. Com exceção de Summers, que é um formulador mais personalista, todos os demais integrantes da equipe são pragmáticos e acostumados a trabalhar em equipe, o que será essencial nesse momento.
Para ele, muita coisa ainda está para acontecer no sistema financeiro, com possíveis custos associados a essa reestruturação, e a questão é saber quanto mais de dinheiro será necessário, a cada dia abre-se uma nova brecha, como agora o salvamento do Citigroup, ou novas garantias do governo, que podem criar "esqueletos dentro do armário" que mais adiante terão que ser revistos.
Para Armínio Fraga, o último trimestre deste ano e o primeiro do ano que vem "estão com uma cara muito ruim, os Estados Unidos já está em recessão". Para ele, é "impressionante" uma desaceleração sincronizada como a que estamos vivendo, que nunca aconteceu antes desde a Depressão, e vem "assustando os mercados, afetando a confiança do consumidor e os planos de investimentos".
Para Armínio, a situação que vão ter que enfrentar é muito difícil, não dá para esperar nenhum milagre, "mas uma equipe melhor do que essa é difícil encontrar".
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