Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Iinstituto Vox Populi
Sociólogo e presidente do Iinstituto Vox Populi
DEU EM O ESTADO DE MINAS
Resta um PMDB que, no seu conjunto, ficou quase do mesmo tamanho da eleição passada
Nem bem havia terminado o segundo turno das eleições municipais, na noite do domingo passado, e começava um novo enfrentamento. Até aquele dia, a luta era em torno de fatos, quem teria mais votos, quem venceria e quem seria derrotado. De lá, para cá, trava-se outro combate, agora pelas versões.
Em política, os fatos podem ser, às vezes, menos importantes que as versões. Não são muitas as pessoas que têm a paciência de verificar se elas correspondem, mesmo, à realidade. Faz-se um julgamento rápido de um fato, ele se transforma em lugar-comum, todos o repetem e pronto: some o fato, fica a versão.
No jogo de interesses da política, isso não acontece por acaso. Versões são construídas conscientemente, para servirem a determinados propósitos. Elas não surgem do nada. Como se dizia antigamente, jaboti não sobe em árvore, alguém o coloca lá.
É nesse sentido que se pode dizer que estamos em pleno terceiro turno das eleições, agora para saber quem vai ganhar na guerra das interpretações sobre o que aconteceu este ano, no primeiro e no segundo turnos. Quem for competente nele pode até compensar algum percalço que tenha sofrido.
Exemplo maior disso é a tese da “grande vitória do PMDB”, que vem sendo propagada desde domingo. Ela está em toda parte, virou uma obviedade, e começa a gerar conseqüências políticas de grande importância. De um lado, nas especulações sobre 2010, com a imagem de que o partido teria se transformado na “noiva cobiçada” por todos. De outro, em uma questão concreta e premente, que diz respeito ao equilíbrio de forças no Congresso e à disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. Como “grande vitorioso”, o PMDB quer mais do que tem (e que já é muito).
A tese se sustenta em dois fatos, que não justificam a versão. Primeiro, no aumento do número de cidades onde o PMDB elegeu prefeitos. Segundo, em seu desempenho nas capitais.
No conjunto dos municípios brasileiros, o PMDB de fato cresceu, passando de 1.059 prefeitos, em 2004, para 1.203 hoje. Dois comentários: por um lado, com esse crescimento, o PMDB continua menor do que era em 1996 e em 2000, pois, nestas eleições, havia elegido 1295 e 1250 prefeitos, respectivamente.
As 144 prefeituras a mais este ano, por outro lado, estão quase todas na Bahia, onde sim o PMDB teve uma “grande vitória”. De 20, em 2004, foram 114 agora, mais de 65% do crescimento do partido. Ou seja, não houve um fenômeno nacional, mas baiano, com a clara paternidade do ministro Geddel Viera Lima. Tirado o que é dele, resta um PMDB que, no seu conjunto, ficou quase do mesmo tamanho da eleição passada, quando sua tendência de queda histórica viveu mais um capítulo.
Nas cidades médias, o PMDB cresceu em relação ao que era em 2004, mas muito pouco comparado com o tamanho que adquiriu nos últimos três anos. Ou seja, atraindo prefeitos eleitos por outras siglas, ele cresceu mais que nas urnas.
Nas capitais, o PMDB também não teve uma “grande vitória”. Para quem queria conquistar prefeituras país afora, coube-lhe comemorar o acréscimo de apenas uma. No Rio, por mais relevante que seja a cidade, a magra vitória de Eduardo Paes, que teve que mobilizar mundos e fundos, colocando o governador Sérgio Cabral e Lula em seu palanque, para derrotar Gabeira por meio ponto, está longe de ser um resultado extraordinário.
Nas cinco outras capitais em que o PMDB venceu, tivemos a repetição de algo que aconteceu em todo o Brasil, a reeleição dos prefeitos que disputavam no exercício do cargo. Em Salvador, Goiânia, Campo Grande, Porto Alegre e Florianópolis, não foi o PMDB que saiu vitorioso, mas os prefeitos. Como aconteceu com os do PT, do PSDB, do PSB, do PTB, do DEM, do PP e do PCdoB.
Resta o argumento de que cresceu o eleitorado que reside em cidades a serem governadas pelo partido. Ele é certamente maior que no passado, mas daí não decorre nada, se estamos pensando em conseqüências nas eleições presidenciais. Ou alguém acha que a reeleição de João Henrique, em Salvador, afeta a aprovação de Lula na cidade e sua possível influência nas escolhas em 2010?
Se, com resultados reais como esses, o PMDB está tão motivado a ampliar seus espaços de poder em Brasília, imagine-se se tivesse vencido, por exemplo, a eleição em Belo Horizonte. Ia ser difícil conter o apetite de alguns de seus integrantes.
Resta um PMDB que, no seu conjunto, ficou quase do mesmo tamanho da eleição passada
Nem bem havia terminado o segundo turno das eleições municipais, na noite do domingo passado, e começava um novo enfrentamento. Até aquele dia, a luta era em torno de fatos, quem teria mais votos, quem venceria e quem seria derrotado. De lá, para cá, trava-se outro combate, agora pelas versões.
Em política, os fatos podem ser, às vezes, menos importantes que as versões. Não são muitas as pessoas que têm a paciência de verificar se elas correspondem, mesmo, à realidade. Faz-se um julgamento rápido de um fato, ele se transforma em lugar-comum, todos o repetem e pronto: some o fato, fica a versão.
No jogo de interesses da política, isso não acontece por acaso. Versões são construídas conscientemente, para servirem a determinados propósitos. Elas não surgem do nada. Como se dizia antigamente, jaboti não sobe em árvore, alguém o coloca lá.
É nesse sentido que se pode dizer que estamos em pleno terceiro turno das eleições, agora para saber quem vai ganhar na guerra das interpretações sobre o que aconteceu este ano, no primeiro e no segundo turnos. Quem for competente nele pode até compensar algum percalço que tenha sofrido.
Exemplo maior disso é a tese da “grande vitória do PMDB”, que vem sendo propagada desde domingo. Ela está em toda parte, virou uma obviedade, e começa a gerar conseqüências políticas de grande importância. De um lado, nas especulações sobre 2010, com a imagem de que o partido teria se transformado na “noiva cobiçada” por todos. De outro, em uma questão concreta e premente, que diz respeito ao equilíbrio de forças no Congresso e à disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. Como “grande vitorioso”, o PMDB quer mais do que tem (e que já é muito).
A tese se sustenta em dois fatos, que não justificam a versão. Primeiro, no aumento do número de cidades onde o PMDB elegeu prefeitos. Segundo, em seu desempenho nas capitais.
No conjunto dos municípios brasileiros, o PMDB de fato cresceu, passando de 1.059 prefeitos, em 2004, para 1.203 hoje. Dois comentários: por um lado, com esse crescimento, o PMDB continua menor do que era em 1996 e em 2000, pois, nestas eleições, havia elegido 1295 e 1250 prefeitos, respectivamente.
As 144 prefeituras a mais este ano, por outro lado, estão quase todas na Bahia, onde sim o PMDB teve uma “grande vitória”. De 20, em 2004, foram 114 agora, mais de 65% do crescimento do partido. Ou seja, não houve um fenômeno nacional, mas baiano, com a clara paternidade do ministro Geddel Viera Lima. Tirado o que é dele, resta um PMDB que, no seu conjunto, ficou quase do mesmo tamanho da eleição passada, quando sua tendência de queda histórica viveu mais um capítulo.
Nas cidades médias, o PMDB cresceu em relação ao que era em 2004, mas muito pouco comparado com o tamanho que adquiriu nos últimos três anos. Ou seja, atraindo prefeitos eleitos por outras siglas, ele cresceu mais que nas urnas.
Nas capitais, o PMDB também não teve uma “grande vitória”. Para quem queria conquistar prefeituras país afora, coube-lhe comemorar o acréscimo de apenas uma. No Rio, por mais relevante que seja a cidade, a magra vitória de Eduardo Paes, que teve que mobilizar mundos e fundos, colocando o governador Sérgio Cabral e Lula em seu palanque, para derrotar Gabeira por meio ponto, está longe de ser um resultado extraordinário.
Nas cinco outras capitais em que o PMDB venceu, tivemos a repetição de algo que aconteceu em todo o Brasil, a reeleição dos prefeitos que disputavam no exercício do cargo. Em Salvador, Goiânia, Campo Grande, Porto Alegre e Florianópolis, não foi o PMDB que saiu vitorioso, mas os prefeitos. Como aconteceu com os do PT, do PSDB, do PSB, do PTB, do DEM, do PP e do PCdoB.
Resta o argumento de que cresceu o eleitorado que reside em cidades a serem governadas pelo partido. Ele é certamente maior que no passado, mas daí não decorre nada, se estamos pensando em conseqüências nas eleições presidenciais. Ou alguém acha que a reeleição de João Henrique, em Salvador, afeta a aprovação de Lula na cidade e sua possível influência nas escolhas em 2010?
Se, com resultados reais como esses, o PMDB está tão motivado a ampliar seus espaços de poder em Brasília, imagine-se se tivesse vencido, por exemplo, a eleição em Belo Horizonte. Ia ser difícil conter o apetite de alguns de seus integrantes.
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