Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Se o governo federal fracassar, a crise também vai atingir os governos estaduais e prefeituras, principalmente os municípios de mais dinamismo econômico e/ou adensamento urbano
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se equilibra, pela segunda vez desde que chegou ao Palácio do Planalto, numa corda bamba. A primeira foi durante a o caso do mensalão, no primeiro mandato, a mais grave crise política de seu governo; a segunda, agora, é a crise econômica que chegou ao Brasil como uma marolinha e foi subindo, subindo, como uma onda de maré que vai arrastando chinelos, toalhas, bolsas, barracas e cadeiras de praia. Na primeira, Lula se saiu muito bem como o “eu não sabia” e o hábil afastamento do governo de todos os envolvidos no escândalo. Na segunda, administra a situação com doses calculadas de baluartismo e otimismo. Ao mesmo tempo, mantém-se a distância segura dos responsáveis pela gestão da crise.
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Se o governo federal fracassar, a crise também vai atingir os governos estaduais e prefeituras, principalmente os municípios de mais dinamismo econômico e/ou adensamento urbano
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se equilibra, pela segunda vez desde que chegou ao Palácio do Planalto, numa corda bamba. A primeira foi durante a o caso do mensalão, no primeiro mandato, a mais grave crise política de seu governo; a segunda, agora, é a crise econômica que chegou ao Brasil como uma marolinha e foi subindo, subindo, como uma onda de maré que vai arrastando chinelos, toalhas, bolsas, barracas e cadeiras de praia. Na primeira, Lula se saiu muito bem como o “eu não sabia” e o hábil afastamento do governo de todos os envolvidos no escândalo. Na segunda, administra a situação com doses calculadas de baluartismo e otimismo. Ao mesmo tempo, mantém-se a distância segura dos responsáveis pela gestão da crise.
O mar
A marolinha arrasou o crédito, o investimento e o consumo. São pilares da expansão da economia. Além do ataque especulativo dos investidores estrangeiros à Bolsa de São Paulo, sinais de retração da economia vêm de todos os lados. Pequenos bancos e cooperativas de crédito de trabalhadores (a maioria controladas pelos sindicatos) estão na lona, alguns dos quais metidos em operações de risco. O governo socorreu as construtoras com ações na Bovespa, mas há 50 mil construtoras não-atendidas pelo crédito oficial ameaçadas. A Rússia começa a mandar de volta navios carregados de alimentos. A construção naval está perdendo encomendas. Montadoras deram férias coletivas aos funcionários. A Vale do Rio Doce fechou unidades no Brasil, França, Indonésia e China. Esse mar não está pra peixe.
Após a crise de 1929, graças à Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, de John M. Keynes, que veio à luz sete anos após a Grande Depressão, a intervenção regulatória do Estado na economia sempre foi capaz de mitigar os efeitos da recessão e da depressão. Até os anos 1970, a teoria keynesiana ajudou muitos países a encontrar o caminho do crescimento. Porém, a partir dos anos 1980, foi substituída pelas idéias “neoliberais” de Milton Friedman (1912-2006), Prêmio Nobel de Economia de 1976, e Friedrich A. Von Hayek (1899-1992), que preconizaram o afastamento completo do Estado das ações econômicas reguladoras. O sistema, segundo eles, seria mais eficiente se o mercado fosse livre e soberano. Durante 30 anos a tese funcionou, até que os americanos meteram o pé na jaca e a crise começou.
Para entendê-la, é preciso considerar que a acumulação capitalista aumenta as rendas do capital e da propriedade (lucros, juros e aluguéis) em ritmo sempre maior que o aumento das rendas do trabalho (salários), responsável pela demanda da grande parte do que é produzido. A solução para garantir a demanda e manter o crescimento da produção é o crédito. Graças a isso, o sistema financeiro se impôs cada vez mais ao processo produtivo e gerou uma ciranda de papéis pintados, que vão do dinheiro propriamente dito aos chamados subprimes das hipotecas americanas. Quando a casa caiu, os governos socorreram o sistema bancário para salvaguardar a moeda e restabelecer o crédito. Querem evitar outra grande depressão como a de 1929. Nesse aspecto, é impossível separar o que está ocorrendo lá fora do que acontece aqui no Brasil. O problema é que o crédito exagerado garante o consumo imediato, mas ao mesmo tempo inviabiliza o consumo futuro. A recessão se torna inevitável, apenas pode ser abrandada. Esse é o busílis da crise.
O barco
A expansão da economia brasileira teve dois pilares: um foi a exportação de commodities (minérios, placas de ferro, papel e celulose e produtos agrícolas, etc); outro, a expansão do crédito pessoal, que ampliou o mercado interno e proporcionou a expansão de nossa indústria. No segundo mandato, Lula resolveu apostar na ampliação dos investimentos públicos em infra-estrutura econômica e urbana para alavancar ainda mais o crescimento, além da ampliação dos gastos sociais e das despesas com o funcionalismo. Vem daí a crença de que o crescimento do mercado interno nos bastaria.
A envergadura da crise mundial, com a retração do comércio internacional e o colapso do crédito privado, colocou em xeque essa estratégia. Diante disso, a oposição aposta na débâcle do governo Lula, de olho nas eleições 2010. Será o caminho mais seguro? Não. Se o governo federal fracassar, a crise também atingirá governos estaduais e prefeituras, principalmente os estados e municípios de mais dinamismo econômico e/ou adensamento urbano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), portanto, estão no mesmo barco. O que os separa é a posição de cada um na embarcação, o grau de responsabilidade perante os problemas e a postura diante da adversidade. Não é a existência da crise mundial e a evidência de que chegou por aqui. Fenômeno objetivo, a crise também pode levar a todos de roldão e favorecer o surgimento de um “salvador da pátria”. Já vimos esse filme.
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