Vera Rosa
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Quase 31 anos depois de comandar a primeira greve que desafiou o regime militar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se cansa de dizer a quem conversa com ele sobre a crise financeira que, na sua época de sindicalista, tudo era mais difícil. Ainda assim, não esconde a preocupação com o crescente desemprego e incentiva antigos companheiros a pressionar o próprio governo, em busca de saídas para aliviar a crise.
"Vocês têm que cobrar mesmo!", admitiu Lula no encontro com dirigentes de centrais sindicais, há uma semana, no Palácio do Planalto. Na tentativa de animar os colegas, o presidente lembrou, porém, que o movimento sindical passou um bom período negociando ótimos reajustes, antes da crise . "No meu tempo, a gente brigava só para repor a inflação."
Lula fala desse tempo como se ainda estivesse no palanque, quando helicópteros do Exército sobrevoavam o Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. Nesses momentos sua fisionomia se descontrai: dono de memória privilegiada, ele conta histórias com dia, mês e ano e dá risadas. Sabe até hoje de cor nome e apelido de todos os que com ele conviveram, de Ratinho a Bagaço. "Éramos um bando de desaforados", afirma.
Foi na greve da Scania, em maio de 1978, que o torneiro mecânico Lula - então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema - projetou o novo sindicalismo. Irritado com o que chamava de "quirelinha" de reajuste - em geral concedida por decreto presidencial -, Lula propôs que os operários se rebelassem. A paralisação, que começou na Scania, alastrou-se para outras fábricas, culminando, no ano seguinte, com uma greve geral.
"Tive a sorte de nascer no momento mais rico do movimento sindical", diz o presidente. Impressionado com a onda de demissões, Lula agora age para evitar que empresários usem a crise para insistir na flexibilização de direitos trabalhistas.
Em várias reuniões na semana passada, ele prometeu anunciar um pacote de medidas para manter o emprego e o consumo. Haverá desonerações de impostos para os setores mais afetados pela crise e incentivo à venda de carros usados.
"Na minha época, o cara que trabalhava na indústria automobilística estava no céu", recorda Lula, ao demonstrar preocupação com a turbulência que hoje atinge as montadoras. "Era uma categoria valorizada e é exatamente por isso que foi a primeira a fazer greve."
Ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) descreve com saudade aqueles anos bicudos. "Vivíamos um momento quase primitivo", conta Devanir, que conviveu com Lula no sindicato até a intervenção de 1980. "Brigávamos até por papel higiênico. Era mais difícil fazer acordo. Hoje há muita tecnologia, mas não tem tanto emprego."
Sem querer mexer no vespeiro da redução da jornada com corte de salário, o Planalto vai reativar fóruns de negociação entre governo, trabalhadores e empresários. Os grupos seguirão o formato das antigas câmaras setoriais, mas Lula detesta esse rótulo. Motivo: não quer que as reuniões pareçam cópia do modelo adotado na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Coisas da política.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Quase 31 anos depois de comandar a primeira greve que desafiou o regime militar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se cansa de dizer a quem conversa com ele sobre a crise financeira que, na sua época de sindicalista, tudo era mais difícil. Ainda assim, não esconde a preocupação com o crescente desemprego e incentiva antigos companheiros a pressionar o próprio governo, em busca de saídas para aliviar a crise.
"Vocês têm que cobrar mesmo!", admitiu Lula no encontro com dirigentes de centrais sindicais, há uma semana, no Palácio do Planalto. Na tentativa de animar os colegas, o presidente lembrou, porém, que o movimento sindical passou um bom período negociando ótimos reajustes, antes da crise . "No meu tempo, a gente brigava só para repor a inflação."
Lula fala desse tempo como se ainda estivesse no palanque, quando helicópteros do Exército sobrevoavam o Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. Nesses momentos sua fisionomia se descontrai: dono de memória privilegiada, ele conta histórias com dia, mês e ano e dá risadas. Sabe até hoje de cor nome e apelido de todos os que com ele conviveram, de Ratinho a Bagaço. "Éramos um bando de desaforados", afirma.
Foi na greve da Scania, em maio de 1978, que o torneiro mecânico Lula - então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema - projetou o novo sindicalismo. Irritado com o que chamava de "quirelinha" de reajuste - em geral concedida por decreto presidencial -, Lula propôs que os operários se rebelassem. A paralisação, que começou na Scania, alastrou-se para outras fábricas, culminando, no ano seguinte, com uma greve geral.
"Tive a sorte de nascer no momento mais rico do movimento sindical", diz o presidente. Impressionado com a onda de demissões, Lula agora age para evitar que empresários usem a crise para insistir na flexibilização de direitos trabalhistas.
Em várias reuniões na semana passada, ele prometeu anunciar um pacote de medidas para manter o emprego e o consumo. Haverá desonerações de impostos para os setores mais afetados pela crise e incentivo à venda de carros usados.
"Na minha época, o cara que trabalhava na indústria automobilística estava no céu", recorda Lula, ao demonstrar preocupação com a turbulência que hoje atinge as montadoras. "Era uma categoria valorizada e é exatamente por isso que foi a primeira a fazer greve."
Ex-diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) descreve com saudade aqueles anos bicudos. "Vivíamos um momento quase primitivo", conta Devanir, que conviveu com Lula no sindicato até a intervenção de 1980. "Brigávamos até por papel higiênico. Era mais difícil fazer acordo. Hoje há muita tecnologia, mas não tem tanto emprego."
Sem querer mexer no vespeiro da redução da jornada com corte de salário, o Planalto vai reativar fóruns de negociação entre governo, trabalhadores e empresários. Os grupos seguirão o formato das antigas câmaras setoriais, mas Lula detesta esse rótulo. Motivo: não quer que as reuniões pareçam cópia do modelo adotado na gestão de Fernando Henrique Cardoso. Coisas da política.
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