DIRETAS-JÁ / 25 ANOS DEPOIS
Fernando Barros Mello e José Alberto Bombig
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Em 25 de janeiro de 1984, 300 mil pessoas foram a comício histórico na praça da Sé
Fernando Barros Mello e José Alberto Bombig
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Em 25 de janeiro de 1984, 300 mil pessoas foram a comício histórico na praça da Sé
Para estudiosos, dados da pesquisa Datafolha indicam consolidação da democracia após cinco eleições com voto direto para presidente
Transcorridos 25 anos do ápice do movimento pelas Diretas-Já, pesquisa Datafolha revela que a aprovação do brasileiro à democracia atingiu seu mais alto patamar. Simultaneamente, é a primeira vez desde que o instituto iniciou a série de levantamentos que a maior parte da população defende a obrigatoriedade do voto.
De acordo com o Datafolha, 53% são favoráveis ao voto obrigatório, contra 42% de 1994, a primeira vez que o instituto pesquisou o tema.
Outro recorde é o apoio à democracia. O levantamento revela que 61% acham que ela é a melhor forma de governo. A série histórica começou em 1989, quando os brasileiros voltaram a votar para presidente. O índice era de 43% e oscilaria para 42% três anos depois, sua menor marca, no fim da gestão de Fernando Collor de Mello.
Para estudiosos e personalidades, os números revelam a consolidação da democracia, mas ainda existem riscos ao sistema e é preciso aperfeiçoar o controle do financiamento de campanhas, alvo de grandes escândalos após 1984, quando, há exatos 25 anos, no 430º aniversário de São Paulo, uma multidão estimada em 300 mil pessoas lotou a praça da Sé pelo direito de votar para presidente.
"A população se deu conta de que a democracia política pode gerar democracia social", diz o historiador José Murilo de Carvalho, autor de "Cidadania no Brasil - O Longo Caminho".O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, aponta a relação entre os índices de popularidade do presidente Lula e os resultados do levantamento. "A defesa da democracia ou da ditadura quase sempre costuma seguir a avaliação do governante."
Outro aspecto destacado por Paulino é a relação com o momento econômico: "Em geral, quando o bolso vai bem, a avaliação que se faz do governante também tende a ser melhor".
Em dezembro do ano passado, no início da atual crise econômica mundial, o mesmo Datafolha apontou que 70% dos brasileiros consideravam o governo Lula ótimo ou bom.
Para este mais recente levantamento, o Datafolha ouviu 3.486 brasileiros, entre os dias 25 e 28 de novembro de 2008, em 180 municípios. A margem de erro máxima da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
São mais favoráveis ao voto obrigatório as mulheres (57%), os mais jovens (59%), os que possuem ensino fundamental (58%) e aqueles que têm renda de até dois salários mínimos (60%), os que não são economicamente ativos (57%) e os que avaliam o governo Lula como ótimo ou bom (57%).
Para o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, não há uma relação direta entre apoio ao voto obrigatório e aumento do apreço à democracia. Segundo ele, no atual estágio, a sociedade pode debater se a medida deve ser mantida.
"Mas acho que o voto obrigatório no Brasil ajudou nessa revolução cívica", diz.A maior evolução no apoio à democracia está entre os que possuem ensino fundamental (de 49% para 56%) e entre os que têm renda de até cinco salários mínimos (de 53% para 61%).
"Os pobres estão percebendo que o voto pode alterar positivamente a política pública e não apenas gerar vantagens individuais", diz Carvalho.
Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o bem-estar econômico ajuda. "A população sentiu que através da democracia foi possível melhorar a vida. O que não quer dizer que havendo dificuldade econômica todos vão contra a democracia", afirma FHC.
Autor de "História do Voto no Brasil", o cientista político Jairo Nicolau diz que o principal desafio no futuro é a questão do financiamento e da falta de transparência nas contas. "O desafio que afeta a democracia é o controle de gastos, o papel do dinheiro na política. E há uma visão reducionista de que a única alternativa seria o financiamento público exclusivo", afirma Nicolau.
Nos últimos anos, grandes escândalos tiveram vinculação direta ou indireta com o financiamento das campanhas, entre eles o impeachment de Collor e o mensalão, em 2005, quando o presidente Lula insinuou que o caixa dois eleitoral ocorre "sistematicamente".
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