domingo, 25 de janeiro de 2009

Porto do Rio já registra redução de 55% no movimento de automóveis

Bruno Villas Bôas e Martha Beck
DEU EM O GLOBO


Em Santos, prevê-se recuo de 1,6% em embarques e desembarques este ano

RIO e BRASÍLIA. Termômetro do comércio exterior brasileiro, os portos foram afetados pelo agravamento da crise econômica mundial, com a queda generalizada nos volumes de cargas embarcadas e desembarcadas - sejam granéis sólidos, líquidos, contêineres ou automóveis. É o caso do Porto do Rio de Janeiro, que registrou uma redução de 55% na movimentação de carros já em novembro do ano passado, frente a outubro.

Segundo a Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ), o terminal Multicar, do Porto do Rio, movimentou 12.284 automóveis em outubro, volume que caiu para 5.528 unidades em novembro. Apesar disso, o pátio do terminal continua cheio. Isso porque as montadoras Mercedes-Benz e PSA Peugeot Citroën, que importam de suas fábricas na Argentina, não têm mais onde estocar os carros após a forte queda nas vendas no Brasil.

- Estávamos com uma demanda muito aquecida nas exportações e importações, comandada por carros, produtos siderúrgicos e ferro-gusa. Mas veio a crise e sentimos uma queda grande em diferentes cargas, incluindo contêineres - afirma Adácio Carvalho, superintendente do porto.

A Companhia Docas de São Paulo (Codesp) - que administra o Porto de Santos, responsável por 26% do comércio exterior brasileiro - ainda não fechou os números de 2008. Mas estima recuo de 2,1% nos embarques e desembarques, após forte desaceleração nas commodities nos últimos meses. O volume de embarques a granel de vários líquidos e alimentos pode ter caído em um quarto. Para 2009, prevê retração de 1,6%.

Portos vão embarcar mais em 2009, afirma ministro

Mesmo produtos manufaturados, transportados em contêineres, começam a registrar desaquecimento. Segundo a Associação Brasileira de Terminais de Contêineres de Uso Público (Abratec), os terminais do país devem apresentar este mês uma queda de 5% na movimentação, entre exportações e importações. Segundo o presidente da Abratec, Sérgio Salomão, a queda será generalizada entre as cargas embarcadas nos contêineres.

Exemplo dessa queda vem do setor moveleiro. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Fernandez, afirma que as exportações do setor foram muito prejudicadas pela turbulência no mercado no segundo semestre de 2008. O segmento esperava crescimento de 3% nas vendas para outros países, mas a crise mudou o quadro, e o ano terminou com queda de 1,7%. As exportações de 2008 ficaram em R$990 milhões, contra R$1 bilhão em 2007.

- Até outubro, tudo vinha bem. Mas a crise prejudicou o mercado americano, principal destino dos móveis brasileiros - explica Fernandez, lembrando que os Estados Unidos são destino de 50% da produção moveleira brasileira.

Apesar dos sinais de retração, o governo federal trabalha com cenário de crescimento na movimentação de carga nos portos este ano. O ministro Pedro Brito, da Secretaria Especial de Portos (SEP), disse que devem ser movimentadas cerca de 820 milhões de toneladas, alta de 2,5% sobre as 800 milhões de toneladas estimadas do ano passado.

- Por causa do esfriamento do comércio mundial, o crescimento do volume de carga será um pouco menor em 2009. Mas o dado mais importante é que os investimentos programados não estão subordinados a efeitos de crise - garante o ministro.

Maiores exportadoras de serviços do país, as grandes construtoras encontrarão dificuldades este ano para desenvolver novos empreendimentos no exterior. A avaliação é de Luiz Fernando Santos Reis, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), que representa gigantes como Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. Segundo ele, a razão é a escassez de crédito no mercado internacional, necessário para financiar projetos, principalmente em países emergentes.

- Com o problema de liquidez hoje no mercado de crédito, essas empresas devem sofrer. Até porque essas oportunidades não são em países desenvolvidos, mas emergentes, onde a posição de liquidez é mais complexa - afirma Reis. - As empresas continuarão procurando, mas terão mais dificuldade.

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