segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Trabalho informal avança

Bruno Rosa
DEU EM O GLOBO

Com crise, país deve ter este ano mais 330 mil sem carteira assinada

Acrise financeira internacional - que secou o crédito, encareceu as taxas de juros e afetou a produção industrial do país - vai aumentar a informalidade no mercado de trabalho. De acordo com projeções de especialistas, o avanço deve chegar a 1,5 ponto percentual, passando dos atuais 32,1% para 33,6% da população ocupada. Ao longo de 2009, serão cerca de 330 mil trabalhadores a mais sem carteira de trabalho somente nas seis principais regiões metropolitanas do país, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre.

Indicadores já mostram que o rendimento médio real dos empregados sem carteira assinada e dos que trabalham por conta própria teve recuo no fim de 2008. Segundo o IBGE, a renda média mensal dos sem carteira caiu de R$822,66, em setembro, para R$792, em novembro de 2008, retração de 3,72%. O ganho dos trabalhadores por conta própria passou de R$1.056,38 para R$1.036,30, queda de 1,9%.

Para economistas, esses dois grupos são os primeiros a sentir os reflexos das incertezas da economia. A tendência, continuam, é de mais retrações nos ganhos mensais até o fim do primeiro semestre deste ano. Segundo o professor José Pastore, da Universidade de São Paulo, são 50 milhões de informais no país.

- Quem sofre primeiro é base da pirâmide, os informais, pois são muito sensíveis aos negócios do dia-a-dia. Com as incertezas, as empresas adiam os investimentos e, assim, as contratações. Aproveitam ainda para demitir e renegociar salários - explica Francisco Barone, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Geração de vagas será a menor desde 2003

Carlos Alberto Lourenço vende livros no Centro do Rio há dez anos e nunca viu um Natal tão fraco como o do ano passado. Ele diz que a crise já afetou em cheio seu rendimento:

- A gente que trabalha na rua sente logo a crise. Somos o termômetro. As pessoas não querem gastar dinheiro.

Segundo Barone, da FGV, a informalidade deve aumentar este ano em empresas terceirizadas e em setores como o de serviços. Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, a alta na informalidade é explicada pela deterioração do trabalho formal. Segundo ele, haverá um milhão de novas vagas com carteira no país, menor número desde 2003, quando foram abertos 645 mil postos. Ontem, O GLOBO informou que o país perdeu cerca de 600 mil empregos formais só em dezembro e que, no trimestre, deverão ser criados cerca de 200 a 250 mil, a metade do registrado um ano antes.

- Com a falta de confiança, ninguém tem ânimo para contratar. Por isso, a participação dos formais entre a população ocupada, que hoje é de 44,5%, pode cair para 43% em 2009.

Luiza Rodrigues, economista do Santander, diz que as demissões e a informalidade já são verificadas marginalmente no país em setores como o exportador e o automobilístico:

- Algumas empresas têm demitido empregados formais e recontratado os mesmos informalmente. Em períodos como o atual, a informalidade aumenta. Neste início de ano vai subir cerca de um ponto percentual. A taxa de desemprego deve chegar a 9% em 2009.

Enquanto a informalidade tende a aumentar, as vagas sem carteira geradas entre setembro e novembro de 2008 apresentaram recuo, passando de 3,035 milhões para 2,955 milhões no período. Segundo Romão, da LCA, o setor de construção civil e o comércio foram os principais responsáveis:

- Sem poder de barganha para negociar, o salário já foi reduzido entre os informais. A tendência é que eles continuem sofrendo.

Segundo os dados do Dieese, que mede a geração de empregos em São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte, Recife e Distrito Federal, a geração de vagas com carteira já desacelerou em 2008: após alta de 2,2% em setembro, houve avanço de apenas 1% em novembro. Os informais passaram de um crescimento de 2,7% para um recuo de 1%.

- A tendência vai continuar. O mercado informal já sente mais os reflexos do menor número de vagas, devido ao encarecimento do crédito para as empresas. Assim, a crise afeta sempre os rendimentos flexíveis - afirma Mario Rodarte, coordenador de pesquisa do Dieese.

Os informais também são os primeiros a sentir os benefícios do crescimento.

- Em 2006 e 2007, os informais ganharam três vezes mais que os formais - diz Rodarte.

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