Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Quando se especula sobre o efeito político da crise econômica que se materializa por aqui na queda de 3,6% no PIB do último trimestre de 2008, o que se pretende é saber se a popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva sobrevive em ambiente adverso.
Em tese, o grau de resistência tenderia a cair na proporção direta do aumento das dificuldades decorrentes da crise, numa palavra, o desemprego.
Na prática, Lula já enfrentou ao longo desses quase sete anos de governo momentos muito ruins e conseguiu superar todos eles. Nenhum deles, porém, guardou relação com o bolso das pessoas.
Houve crises políticas, há uma crise moral endêmica, mas nunca nada que afetasse a sensação de bem-estar geral traduzida na garantia dos lucros dos mais ricos, no crescimento do poder de compra dos remediados e na sobrevivência assegurada aos mais pobres.
Essa maioria foi indiferente enquanto o jogo disse respeito a valores abstratos. Como se comportará diante do risco de prejuízos objetivos é a questão em torno da qual não há, por ora, nada além de apostas, intenções e adivinhações.
Não por carência de massa crítica com capacidade de análise nem por falta de experiência na área.
Na visão de um ex-presidente da República com larga vivência no assunto, os dados disponíveis ainda são insuficientes. Tanto a crise é inédita, quanto a condição de Lula é específica.
Fernando Henrique Cardoso governou o Brasil por oito anos e enfrentou sete crises econômicas: em 1996, a do México; em 1997, da Ásia; em 1998, da Rússia; em 1999, a do câmbio; em 2001, a do apagão elétrico e a retração pós-11 de setembro nos Estados Unidos; em 2002, a turbulência resultante dos receios a respeito do que faria o PT no poder.
No período, lembra, o PIB oscilou negativamente junto com as crises, apresentando resultados positivos duas vezes, exatamente nos anos de calmaria: 1996 e 2000.
Mas, se os números reagem automaticamente, a reação das pessoas depende de outros fatores. Na opinião de Fernando Henrique, basicamente de dois: a durabilidade da crise e a politização do assunto.
"Se a oposição não falar nada, fica mais fácil o governo administrar o mau humor geral. No meu caso, o PT gritou muito, transformou a adversidade num cenário mais grave do que a realidade." Atributo, analisa, em boa medida ausente no modo de operação dos atuais oposicionistas.
Politicamente, este seria um ponto favorável ao governo. Não o único, na percepção de FH. "Lula tem uma capacidade enorme de se adaptar às situações. Além disso, não em compromisso com a coerência. Diz uma coisa hoje, o contrário amanhã e fica tudo por isso mesmo."
Em outubro, o presidente Lula previa nada mais que uma "marolinha", depois decretou o fim da crise e, com a divulgação dos novos números, já comemora por antecipação o fato de que no Brasil, "ao contrário de outros países", não haverá recessão.
"Para mudar o discurso de novo, não custa." Aliás, Fernando Henrique aposta que, se o quadro se agravar, Lula mudará de estilo. Abandonará o tom ufanista para assumir uma atitude mais sóbria. "Fará o estilo sério."
Quando instado a examinar o cenário do ponto de vista estritamente eleitoral, Fernando Henrique lembra que aí não se fala mais da figura de Lula, mas da candidatura de Dilma Rousseff.
"Como escreveu o Marcos Lisboa (diretor do Unibanco, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda), biografia não se transfere. Na eleição, será Dilma em julgamento. Se o eleitor transferir seu mal-estar para o governo, haverá prejuízo porque ela é o governo."
Então, nessa hipótese, bastaria a oposição aguardar a transferência das expectativas positivas do eleitorado para contar com a vitória em 2010?
Nem por um só instante, Fernando Henrique acha que o PSDB pode esperar ganhar a eleição por gravidade. "Se o partido não for capaz de se apresentar com projeto confiável e consistente não será, necessariamente, visto como a solução."
Essa necessidade de se mostrar como um contraponto, um porto mais seguro, em função do agravamento da situação econômica é um dos motivos pelos quais FH passou a defender a entrada do PSDB no debate eleitoral propriamente dito.
"O outro é que Lula tomou a iniciativa de abrir o jogo."
Até então, o ex-presidente achava que o governador de São Paulo, José Serra, estava certo em adiar a entrada em cena para 2010 e via na proposta do governador Aécio Neves de antecipação do processo de escolha do candidato do PSDB à Presidência uma precipitação indevida.
Sobre as prévias tucanas, FH acha mais prudente se pronunciar só depois da manifestação da Justiça Eleitoral sobre prazos, prevista para hoje.
Mas agora considera que o partido, por meio dos dois pré-candidatos, deve começar a falar. De forma "dura" na responsabilização do governo e de maneira consistente ao apresentar suas credenciais como alternativa de poder.
"Se não fizermos grandes besteiras, ganhamos a eleição."
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Quando se especula sobre o efeito político da crise econômica que se materializa por aqui na queda de 3,6% no PIB do último trimestre de 2008, o que se pretende é saber se a popularidade do presidente Luiz Inácio da Silva sobrevive em ambiente adverso.
Em tese, o grau de resistência tenderia a cair na proporção direta do aumento das dificuldades decorrentes da crise, numa palavra, o desemprego.
Na prática, Lula já enfrentou ao longo desses quase sete anos de governo momentos muito ruins e conseguiu superar todos eles. Nenhum deles, porém, guardou relação com o bolso das pessoas.
Houve crises políticas, há uma crise moral endêmica, mas nunca nada que afetasse a sensação de bem-estar geral traduzida na garantia dos lucros dos mais ricos, no crescimento do poder de compra dos remediados e na sobrevivência assegurada aos mais pobres.
Essa maioria foi indiferente enquanto o jogo disse respeito a valores abstratos. Como se comportará diante do risco de prejuízos objetivos é a questão em torno da qual não há, por ora, nada além de apostas, intenções e adivinhações.
Não por carência de massa crítica com capacidade de análise nem por falta de experiência na área.
Na visão de um ex-presidente da República com larga vivência no assunto, os dados disponíveis ainda são insuficientes. Tanto a crise é inédita, quanto a condição de Lula é específica.
Fernando Henrique Cardoso governou o Brasil por oito anos e enfrentou sete crises econômicas: em 1996, a do México; em 1997, da Ásia; em 1998, da Rússia; em 1999, a do câmbio; em 2001, a do apagão elétrico e a retração pós-11 de setembro nos Estados Unidos; em 2002, a turbulência resultante dos receios a respeito do que faria o PT no poder.
No período, lembra, o PIB oscilou negativamente junto com as crises, apresentando resultados positivos duas vezes, exatamente nos anos de calmaria: 1996 e 2000.
Mas, se os números reagem automaticamente, a reação das pessoas depende de outros fatores. Na opinião de Fernando Henrique, basicamente de dois: a durabilidade da crise e a politização do assunto.
"Se a oposição não falar nada, fica mais fácil o governo administrar o mau humor geral. No meu caso, o PT gritou muito, transformou a adversidade num cenário mais grave do que a realidade." Atributo, analisa, em boa medida ausente no modo de operação dos atuais oposicionistas.
Politicamente, este seria um ponto favorável ao governo. Não o único, na percepção de FH. "Lula tem uma capacidade enorme de se adaptar às situações. Além disso, não em compromisso com a coerência. Diz uma coisa hoje, o contrário amanhã e fica tudo por isso mesmo."
Em outubro, o presidente Lula previa nada mais que uma "marolinha", depois decretou o fim da crise e, com a divulgação dos novos números, já comemora por antecipação o fato de que no Brasil, "ao contrário de outros países", não haverá recessão.
"Para mudar o discurso de novo, não custa." Aliás, Fernando Henrique aposta que, se o quadro se agravar, Lula mudará de estilo. Abandonará o tom ufanista para assumir uma atitude mais sóbria. "Fará o estilo sério."
Quando instado a examinar o cenário do ponto de vista estritamente eleitoral, Fernando Henrique lembra que aí não se fala mais da figura de Lula, mas da candidatura de Dilma Rousseff.
"Como escreveu o Marcos Lisboa (diretor do Unibanco, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda), biografia não se transfere. Na eleição, será Dilma em julgamento. Se o eleitor transferir seu mal-estar para o governo, haverá prejuízo porque ela é o governo."
Então, nessa hipótese, bastaria a oposição aguardar a transferência das expectativas positivas do eleitorado para contar com a vitória em 2010?
Nem por um só instante, Fernando Henrique acha que o PSDB pode esperar ganhar a eleição por gravidade. "Se o partido não for capaz de se apresentar com projeto confiável e consistente não será, necessariamente, visto como a solução."
Essa necessidade de se mostrar como um contraponto, um porto mais seguro, em função do agravamento da situação econômica é um dos motivos pelos quais FH passou a defender a entrada do PSDB no debate eleitoral propriamente dito.
"O outro é que Lula tomou a iniciativa de abrir o jogo."
Até então, o ex-presidente achava que o governador de São Paulo, José Serra, estava certo em adiar a entrada em cena para 2010 e via na proposta do governador Aécio Neves de antecipação do processo de escolha do candidato do PSDB à Presidência uma precipitação indevida.
Sobre as prévias tucanas, FH acha mais prudente se pronunciar só depois da manifestação da Justiça Eleitoral sobre prazos, prevista para hoje.
Mas agora considera que o partido, por meio dos dois pré-candidatos, deve começar a falar. De forma "dura" na responsabilização do governo e de maneira consistente ao apresentar suas credenciais como alternativa de poder.
"Se não fizermos grandes besteiras, ganhamos a eleição."
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