Marcos Nobre
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O CONTROLE da agenda da eleição presidencial de 2010 já anda há algum tempo nas mãos da oposição. Porque tem dois candidatos fortes, com certeza.
Porque está muito mais bem posicionada na montagem dos palanques estaduais do que a aliança governista, sem dúvida. Mas também porque conta com uma impressionante convergência de apoio na indústria, nos bancos, nos partidos, na mídia, nos dez por cento mais ricos da população.
A Lula interessa que a próxima eleição seja um referendo sobre seu governo. Mas dificilmente vai conseguir convencer: não é reeleição, já houve alternância no poder.
Além disso, essa é uma polarização que não interessa à oposição. A pauta da eleição deverá estar dirigida para a frente, e não para trás.
Esse é um dos dilemas da candidatura de Dilma Rousseff. Depende em boa medida da transferência de votos de Lula -mesmo que se saiba ainda bem pouco se e em que medida isso vai realmente acontecer. De outro lado, é alto o risco de ficar falando sozinha se continuar a insistir em se apresentar apenas como defensora do legado da era Lula.
O que leva a um outro dilema. Para tornar viável a sua candidatura, Dilma avalia que precisa das máquinas municipais do PMDB. Não do partido, porque partido não há -o PMDB é de há muito uma guilda do comércio político.
Nessa estratégia, a formalidade de uma aliança lhe permitiria chegar pelo menos aos prefeitos, já que, nos palanques estaduais, o PMDB deverá estar comprometido com candidaturas de oposição na grande maioria dos casos. Ocorre que a formalidade de uma aliança jamais constrangeu o PMDB a apoiar a candidatura presidencial mais conveniente às circunstâncias e interesses locais. Que o diga o candidato tucano em 2002, José Serra. Nada mais cômodo para o PMDB do que indicar o vice da chapa de Dilma. E depois fazer o que bem entender.
Para complicar ainda mais, a equação conta com um elemento decisivo e sistematicamente ignorado pela campanha governista: Ciro Gomes. Esnobar Ciro não é só algo bem pouco prudente. É um grave equívoco de avaliação.
Porque Ciro é o candidato ideal para polarizar com a candidatura tucana. Ao contrário de Dilma, não está obrigado a defender o governo Lula em todos os seus aspectos. E pode olhar para frente com muito mais desenvoltura do que a ministra candidata.
A perseverar na mesma estratégia, Dilma se arrisca a perder tanto a disputa da agenda da eleição como a vaga em um eventual segundo turno. A menos que faça a aposta ainda mais arriscada de oferecer a Ciro a posição de vice em sua chapa.
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O CONTROLE da agenda da eleição presidencial de 2010 já anda há algum tempo nas mãos da oposição. Porque tem dois candidatos fortes, com certeza.
Porque está muito mais bem posicionada na montagem dos palanques estaduais do que a aliança governista, sem dúvida. Mas também porque conta com uma impressionante convergência de apoio na indústria, nos bancos, nos partidos, na mídia, nos dez por cento mais ricos da população.
A Lula interessa que a próxima eleição seja um referendo sobre seu governo. Mas dificilmente vai conseguir convencer: não é reeleição, já houve alternância no poder.
Além disso, essa é uma polarização que não interessa à oposição. A pauta da eleição deverá estar dirigida para a frente, e não para trás.
Esse é um dos dilemas da candidatura de Dilma Rousseff. Depende em boa medida da transferência de votos de Lula -mesmo que se saiba ainda bem pouco se e em que medida isso vai realmente acontecer. De outro lado, é alto o risco de ficar falando sozinha se continuar a insistir em se apresentar apenas como defensora do legado da era Lula.
O que leva a um outro dilema. Para tornar viável a sua candidatura, Dilma avalia que precisa das máquinas municipais do PMDB. Não do partido, porque partido não há -o PMDB é de há muito uma guilda do comércio político.
Nessa estratégia, a formalidade de uma aliança lhe permitiria chegar pelo menos aos prefeitos, já que, nos palanques estaduais, o PMDB deverá estar comprometido com candidaturas de oposição na grande maioria dos casos. Ocorre que a formalidade de uma aliança jamais constrangeu o PMDB a apoiar a candidatura presidencial mais conveniente às circunstâncias e interesses locais. Que o diga o candidato tucano em 2002, José Serra. Nada mais cômodo para o PMDB do que indicar o vice da chapa de Dilma. E depois fazer o que bem entender.
Para complicar ainda mais, a equação conta com um elemento decisivo e sistematicamente ignorado pela campanha governista: Ciro Gomes. Esnobar Ciro não é só algo bem pouco prudente. É um grave equívoco de avaliação.
Porque Ciro é o candidato ideal para polarizar com a candidatura tucana. Ao contrário de Dilma, não está obrigado a defender o governo Lula em todos os seus aspectos. E pode olhar para frente com muito mais desenvoltura do que a ministra candidata.
A perseverar na mesma estratégia, Dilma se arrisca a perder tanto a disputa da agenda da eleição como a vaga em um eventual segundo turno. A menos que faça a aposta ainda mais arriscada de oferecer a Ciro a posição de vice em sua chapa.
Marcos Nobre escreve às terças-feiras nesta coluna.
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