Panorama Econômico :: Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO
Os bancos públicos estão emprestando cada vez mais, enquanto os bancos privados fazem o movimento contrário. A taxa de juros caiu, mas o spread continua alto. A inadimplência de pessoa física se estabilizou em nível alto: mais de 8%. A das empresas aumentou, mas ainda é baixa: 2,6%. “O mercado de crédito está começando a melhorar, mas de forma lenta” diz Altamir Lopes, do BC.
O dinheiro está voltando devagar à economia. Ainda seletivo, mais difícil e muito caro. O ritmo de crescimento da concessão de crédito pelos bancos públicos aumentou fortemente, enquanto o ritmo dos empréstimos do setor privado, nacional e estrangeiro, está desacelerando.
Os bancos públicos ainda têm uma fatia menor do crédito concedido (37,6%), os bancos privados nacionais têm 41,9% e a parcela dos bancos estrangeiros caiu para 20,5%. Mesmo assim, como se vê no gráfico abaixo, o movimento recente é de aceleração da oferta de crédito via bancos públicos, num movimento oposto ao dos bancos privados.
A economista Cassiana Fernandez, da Mauá Investimentos, diz que os dados não permitem dizer que o crédito está normalizado, mas, sim, que está se normalizando.
Ela alerta para esse descompasso: o crédito dos bancos privados caindo na base anual para 12% de crescimento — já foi 30% — e o dos bancos públicos crescendo mais de 30%.
Tudo bem se isso produzir um aumento da competição que reduza a taxa de juros bancária; tudo mal se o crédito for concedido de forma descuidada e seguindo orientação política e, não, técnica. O diretorgerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse, segundo o Valor de ontem, que até os bancos hoje sólidos do Brasil podem ser afetados se a crise for muito prolongada.
Altamir Lopes, do Departamento Econômico do Banco Central, não acredita no risco de os bancos serem afetados.
— O sistema está atento a isso, pelo menos no segmento do crédito livre concedido pelos bancos públicos.
Não se tem esse risco pela história toda da crise dos anos 90. Por isso, a primeira reação de todos os bancos foi elevar o spread e travar o crédito assim que a crise começou, assumindo posição mais conservadora — disse Altamir.
As taxas de juros cobradas pelos bancos voltaram aos níveis pré-crise, mas o spread continua alto, segundo Altamir.
— Os juros baixaram porque caíram muito as taxas de captação, mas o spread médio da pessoa física está em 39,7%, quando em dezembro de 2007 chegou a 31,9%. O da pessoa jurídica é 18%, bem distante dos 10,8%, que foi o menor spread, em junho de 2001.
Parte do aumento do crédito é o BNDES, que entra nos dados de volume, mas não nas estatísticas de taxas de juros. O BNDES tem aumentado as concessões a empresas e setores em dificuldades.
DEU EM O GLOBO
Os bancos públicos estão emprestando cada vez mais, enquanto os bancos privados fazem o movimento contrário. A taxa de juros caiu, mas o spread continua alto. A inadimplência de pessoa física se estabilizou em nível alto: mais de 8%. A das empresas aumentou, mas ainda é baixa: 2,6%. “O mercado de crédito está começando a melhorar, mas de forma lenta” diz Altamir Lopes, do BC.
O dinheiro está voltando devagar à economia. Ainda seletivo, mais difícil e muito caro. O ritmo de crescimento da concessão de crédito pelos bancos públicos aumentou fortemente, enquanto o ritmo dos empréstimos do setor privado, nacional e estrangeiro, está desacelerando.
Os bancos públicos ainda têm uma fatia menor do crédito concedido (37,6%), os bancos privados nacionais têm 41,9% e a parcela dos bancos estrangeiros caiu para 20,5%. Mesmo assim, como se vê no gráfico abaixo, o movimento recente é de aceleração da oferta de crédito via bancos públicos, num movimento oposto ao dos bancos privados.
A economista Cassiana Fernandez, da Mauá Investimentos, diz que os dados não permitem dizer que o crédito está normalizado, mas, sim, que está se normalizando.
Ela alerta para esse descompasso: o crédito dos bancos privados caindo na base anual para 12% de crescimento — já foi 30% — e o dos bancos públicos crescendo mais de 30%.
Tudo bem se isso produzir um aumento da competição que reduza a taxa de juros bancária; tudo mal se o crédito for concedido de forma descuidada e seguindo orientação política e, não, técnica. O diretorgerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse, segundo o Valor de ontem, que até os bancos hoje sólidos do Brasil podem ser afetados se a crise for muito prolongada.
Altamir Lopes, do Departamento Econômico do Banco Central, não acredita no risco de os bancos serem afetados.
— O sistema está atento a isso, pelo menos no segmento do crédito livre concedido pelos bancos públicos.
Não se tem esse risco pela história toda da crise dos anos 90. Por isso, a primeira reação de todos os bancos foi elevar o spread e travar o crédito assim que a crise começou, assumindo posição mais conservadora — disse Altamir.
As taxas de juros cobradas pelos bancos voltaram aos níveis pré-crise, mas o spread continua alto, segundo Altamir.
— Os juros baixaram porque caíram muito as taxas de captação, mas o spread médio da pessoa física está em 39,7%, quando em dezembro de 2007 chegou a 31,9%. O da pessoa jurídica é 18%, bem distante dos 10,8%, que foi o menor spread, em junho de 2001.
Parte do aumento do crédito é o BNDES, que entra nos dados de volume, mas não nas estatísticas de taxas de juros. O BNDES tem aumentado as concessões a empresas e setores em dificuldades.
A retomada da oferta do crédito no segmento comercial é dos grandes bancos emprestando para grandes empresas.
Os bancos médios e pequenos ainda não voltaram ao mercado e são eles que emprestam para as pequenas e médias empresas.
Altamir acha que eles voltarão brevemente a emprestar, porque os novos títulos, os RDBs, aos quais o BC estendeu uma garantia do Fundo Garantidor até o valor de R$ 20 milhões, já conseguiram captar R$ 3,2 bilhões até o dia 21 de abril.
— A nossa expectativa é que isso seja repassado em breve às empresas.
O diretor de economia da Anefac, Andrew Storfer, contou que os bancos aumentaram as exigências para emprestar, diminuíram os prazos dos empréstimos e também reduziram o volume que está sendo concedido.
O dinheiro não voltou completamente, os sinais de aperto continuam. O risco é de o governo tentar apressar esse caminho da volta empurrando os bancos públicos para aventuras que podem nos custar caro. Há sinais assustadores, como a pressão explícita feita sobre esses bancos, com o Banco do Brasil cortando cabeças de presidente e diretores, a Caixa saindo da sua especialidade para emprestar às financeiras de lojas de eletrodomésticos e o BNDES em operações de salvamento de empresas.
O desafio é os bancos públicos produzirem efeito anticíclico, mas sem comprometer a qualidade do crédito, para que amanhã não tenhamos que reabrir os armários de esqueletos.
O governo passado investiu tempo, dinheiro e engenharia financeira para sanear os armários assombrados dos bancos públicos brasileiros.
Esse trabalho de limpeza não pode se perder agora.
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