Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Políticas de apoio à economia e safras seguram o emprego, que ainda segue no ritmo da pior recessão em 17 anos
MAIS DE 100 mil empregos é um número que soa bem quando o ambiente está poluído por palavras como "recessão" ou "pior crise em décadas". Descontando as demissões das contratações, sobraram em abril 106 mil empregos com carteira assinada no país: esse foi o "saldo do emprego formal". Houve melhora em relação ao saldo do emprego no primeiro trimestre, quando se perderam 58 mil empregos. Isto posto, pode-se dizer apenas e outra vez que a economia engatinha depois de um tombo violento -apenas despiora. A taxa de desemprego, a ser divulgada pelo IBGE nesta semana, deve subir.
Note-se que o saldo de empregos formais é uma estatística diferente: é um registro nacional de contratações e demissões formalizadas (chamado Caged). A taxa do IBGE mede quantas pessoas à procura de emprego não o conseguiram, em seis regiões metropolitanas. E o IBGE não capta o desemprego em regiões afetadas pelo tombo da indústria frigorífica (Centro-Oeste, Sul), da indústria mecânica ou de calçados (interior de São Paulo) e siderúrgica e extrativa (Rio, Minas, Pará etc.).
Para dar perspectiva ao número do Caged, observe-se que em abril de 2008 o saldo de empregos formais foi de 294.522 -em abril de 2009, foram 82.557 trabalhos a menos. O saldo de empregos no primeiro quadrimestre de 2009 foi equivalente a apenas 16% do registrado em 2001 ou 2003, anos ruins para o emprego e de estagnação econômica.
Depois de cinco meses, a indústria parou de cortar vagas (o saldo foi de 183 vagas). Bom. Mas de janeiro a abril de 2008, o saldo da indústria foi de 229 mil empregos; no fraco de 2005, foram mais 131 mil empregos. No primeiro quadrimestre de 2009, a indústria cortou 147 mil vagas.
Pontualmente, note-se que a safra da cana, entre outras culturas, deve ter incrementado o número de empregos, em especial em São Paulo. Em abril, a indústria paulista teve saldo de 19 mil contratações, segundo dados da Fiesp. O saldo foi positivo porque as usinas contrataram 28 mil trabalhadores; os demais setores demitiram 9.000 trabalhadores.
Agropecuária, serviços e governo evitaram alta maior do desemprego formal (o comércio dá pequeno sinal de recuperação). Aumentos do mínimo, transferências sociais, subsídios ao consumo de carros, material de construção e eletrodomésticos parecem ter ajudado a manter o nível de renda e evitado o pior.
Mas a indústria ainda se recupera lentamente. Em abril, deve ter encolhido cerca de 14% em relação a abril de 2008. Ainda apanha devido à queda forte da exportação de manufaturas e da melhora ainda apenas discreta do crédito. A lentidão industrial e a taxa de desemprego provavelmente crescente (eliminando salários e reduzindo outros) não são bons sinais para o nível geral de renda no país. Outro sinal de lerdeza, nos primeiros quatro meses do ano, a receita federal de impostos foi 7% menor que a de 2008 -as empresas não lucram ou atrasam o pagamento de impostos, por falta de caixa.
Parece que escapamos de um desastre. Mas ainda caminhamos para a pior recessão em 17 anos. Com uma recuperação mais rápida, talvez; com uma distribuição de renda um pouco melhor, o que alivia o sofrimento. Mas ainda recessão.
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Políticas de apoio à economia e safras seguram o emprego, que ainda segue no ritmo da pior recessão em 17 anos
MAIS DE 100 mil empregos é um número que soa bem quando o ambiente está poluído por palavras como "recessão" ou "pior crise em décadas". Descontando as demissões das contratações, sobraram em abril 106 mil empregos com carteira assinada no país: esse foi o "saldo do emprego formal". Houve melhora em relação ao saldo do emprego no primeiro trimestre, quando se perderam 58 mil empregos. Isto posto, pode-se dizer apenas e outra vez que a economia engatinha depois de um tombo violento -apenas despiora. A taxa de desemprego, a ser divulgada pelo IBGE nesta semana, deve subir.
Note-se que o saldo de empregos formais é uma estatística diferente: é um registro nacional de contratações e demissões formalizadas (chamado Caged). A taxa do IBGE mede quantas pessoas à procura de emprego não o conseguiram, em seis regiões metropolitanas. E o IBGE não capta o desemprego em regiões afetadas pelo tombo da indústria frigorífica (Centro-Oeste, Sul), da indústria mecânica ou de calçados (interior de São Paulo) e siderúrgica e extrativa (Rio, Minas, Pará etc.).
Para dar perspectiva ao número do Caged, observe-se que em abril de 2008 o saldo de empregos formais foi de 294.522 -em abril de 2009, foram 82.557 trabalhos a menos. O saldo de empregos no primeiro quadrimestre de 2009 foi equivalente a apenas 16% do registrado em 2001 ou 2003, anos ruins para o emprego e de estagnação econômica.
Depois de cinco meses, a indústria parou de cortar vagas (o saldo foi de 183 vagas). Bom. Mas de janeiro a abril de 2008, o saldo da indústria foi de 229 mil empregos; no fraco de 2005, foram mais 131 mil empregos. No primeiro quadrimestre de 2009, a indústria cortou 147 mil vagas.
Pontualmente, note-se que a safra da cana, entre outras culturas, deve ter incrementado o número de empregos, em especial em São Paulo. Em abril, a indústria paulista teve saldo de 19 mil contratações, segundo dados da Fiesp. O saldo foi positivo porque as usinas contrataram 28 mil trabalhadores; os demais setores demitiram 9.000 trabalhadores.
Agropecuária, serviços e governo evitaram alta maior do desemprego formal (o comércio dá pequeno sinal de recuperação). Aumentos do mínimo, transferências sociais, subsídios ao consumo de carros, material de construção e eletrodomésticos parecem ter ajudado a manter o nível de renda e evitado o pior.
Mas a indústria ainda se recupera lentamente. Em abril, deve ter encolhido cerca de 14% em relação a abril de 2008. Ainda apanha devido à queda forte da exportação de manufaturas e da melhora ainda apenas discreta do crédito. A lentidão industrial e a taxa de desemprego provavelmente crescente (eliminando salários e reduzindo outros) não são bons sinais para o nível geral de renda no país. Outro sinal de lerdeza, nos primeiros quatro meses do ano, a receita federal de impostos foi 7% menor que a de 2008 -as empresas não lucram ou atrasam o pagamento de impostos, por falta de caixa.
Parece que escapamos de um desastre. Mas ainda caminhamos para a pior recessão em 17 anos. Com uma recuperação mais rápida, talvez; com uma distribuição de renda um pouco melhor, o que alivia o sofrimento. Mas ainda recessão.
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