Ricardo Schott
DEU NO JORNAL DO BRASIL / CADERNO B
O diretor Vinicius Reis, brincando, diz que seu filme, Praça Saens Peña, representa uma espécie de anti-Manoel Carlos. É uma piada que ele faz para mostrar que sua produção lida com um universo bastante diferente daquele que o brasileiro está acostumado a observar nas novelas globais. O longa foi o título mais premiado na 13º edição do Festival Audiovisual do Recife (Cine PE), encerrada no domingo – com estatuetas para melhor Direção, Ator e Atriz (para o casal de protagonistas Chico Diaz e Maria Padilha), Atriz coadjuvante (Isabela Meireles) e até o Prêmio Especial da Crítica.
– O filme só tem uma escapada para o Leblon das novelas do Manoel Carlos – diz Reis. – É quando a Teresa, personagem da Maria Padilha, vai tomar uma água de coco na praia à noite. E ainda comenta que acha a praia da Barra da Tijuca muito mais limpa.
Reis, um paulista criado na Tijuca, usou o apartamento em que a avó viveu para criar a moradia dos protagonistas.
– O subtexto do filme é: "Para que irmos à Zona Sul se a gente tem tudo aqui?". Pensei no casal do filme como pessoas do subúrbio que se mudam para a Tijuca, que é como uma Ipanema para eles. É um filme que mostra uma classe média de verdade, para quem uma quantidade pequena de dinheiro faz a diferença.
No vermelho, mas felizes
Praça Saens Peña é ambientado em lugares como a Rua General Roca – onde moram os protagonistas Teresa e Paulo (Chico Diaz), com a filha adolescente Bel (Isabela). Sua história é cotidiana: a de uma família de classe média que luta para viver com um orçamento apertado e cujas ambições entram em choque assim que Paulo, professor de história, é convidado para escrever um livro sobre a história da Tijuca. É nessa hora que, mesmo sendo uma ficção, o filme ganha aspectos documentais graças à presença de personalidades como o poeta Aldir Blanc – que interpreta a si mesmo, sendo entrevistado por Diaz para o livro. Uma crônica carioca (filmada com um orçamento tão apertado quanto o do casal do filme, R$ 800 mil), que Reis acredita ser de fácil identificação.
– Mesmo lá no Recife reparei que o recorte da classe média tocou muita gente. O filme fala da pessoa que fica no vermelho, que faz planilha de gastos, sonha com a casa própria. Mas sem infelicidade – afirma Reis, alegre por ter conseguido os prêmios ainda que Praça Saens Peña fosse prejudicado por falhas na projeção.
– Muita gente disse que teve dificuldades para ver, mas pegou a história. Foi um grave problema, porque o digital ainda é um formato a ser estudado e existem vários tipos de projeção.
Tanto Maria Padilha como Chico Diaz afirmam que um grande diferencial do filme é lidar com a existência do subúrbio do Rio, mas de uma maneira fora dos padrões. Os atores foram importantíssimos para que Praça Saens Peña existisse. Amigos de Reis, ex-ator formado pelo Tablado que se aventurou pelo cinema e dirigira o documentário A cobra fumou (2002, sobre a Segunda Guerra Mundial), sugeriram a ele que partisse para o cinema de ficção.
– Quando Reis me falou que era um filme sobre a Zona Norte, cheguei a pegar os personagens do Nelson Rodrigues para estudar. Mas depois vi que não tinha nada a ver – afirma Maria, conhecida pelas personagens de classe alta que faz em novelas. – Há situações complexas no filme, mas elas se desenvolvem sem grandes tragédias. Não dá para falar de Rio sem falar de violência, mas, ao mesmo tempo, muita gente vive sem ela.
Num tempo em que filmes como Cidade de Deus e Tropa de elite criam grandes épicos sobre problemas urbanos – que são determinantes para as vidas das personagens – Chico Diaz repara no aspecto acima de tudo cotidiano de Praça Saens Peña.
– A função reflexiva existe muito no cinema argentino. Eles sempre olham para si próprios. Nós também podemos fazer isso, reparar no cotidiano da velha esquina, do nosso irmão – explica ele, que passou a frequentar lugares na Tijuca para os quais os personagens iriam. – Eu antes conhecia apenas o Maracanã.
Foi importante conhecer o bairro, até pela reavaliação de sua história.
DEU NO JORNAL DO BRASIL / CADERNO B
O diretor Vinicius Reis, brincando, diz que seu filme, Praça Saens Peña, representa uma espécie de anti-Manoel Carlos. É uma piada que ele faz para mostrar que sua produção lida com um universo bastante diferente daquele que o brasileiro está acostumado a observar nas novelas globais. O longa foi o título mais premiado na 13º edição do Festival Audiovisual do Recife (Cine PE), encerrada no domingo – com estatuetas para melhor Direção, Ator e Atriz (para o casal de protagonistas Chico Diaz e Maria Padilha), Atriz coadjuvante (Isabela Meireles) e até o Prêmio Especial da Crítica.
– O filme só tem uma escapada para o Leblon das novelas do Manoel Carlos – diz Reis. – É quando a Teresa, personagem da Maria Padilha, vai tomar uma água de coco na praia à noite. E ainda comenta que acha a praia da Barra da Tijuca muito mais limpa.
Reis, um paulista criado na Tijuca, usou o apartamento em que a avó viveu para criar a moradia dos protagonistas.
– O subtexto do filme é: "Para que irmos à Zona Sul se a gente tem tudo aqui?". Pensei no casal do filme como pessoas do subúrbio que se mudam para a Tijuca, que é como uma Ipanema para eles. É um filme que mostra uma classe média de verdade, para quem uma quantidade pequena de dinheiro faz a diferença.
No vermelho, mas felizes
Praça Saens Peña é ambientado em lugares como a Rua General Roca – onde moram os protagonistas Teresa e Paulo (Chico Diaz), com a filha adolescente Bel (Isabela). Sua história é cotidiana: a de uma família de classe média que luta para viver com um orçamento apertado e cujas ambições entram em choque assim que Paulo, professor de história, é convidado para escrever um livro sobre a história da Tijuca. É nessa hora que, mesmo sendo uma ficção, o filme ganha aspectos documentais graças à presença de personalidades como o poeta Aldir Blanc – que interpreta a si mesmo, sendo entrevistado por Diaz para o livro. Uma crônica carioca (filmada com um orçamento tão apertado quanto o do casal do filme, R$ 800 mil), que Reis acredita ser de fácil identificação.
– Mesmo lá no Recife reparei que o recorte da classe média tocou muita gente. O filme fala da pessoa que fica no vermelho, que faz planilha de gastos, sonha com a casa própria. Mas sem infelicidade – afirma Reis, alegre por ter conseguido os prêmios ainda que Praça Saens Peña fosse prejudicado por falhas na projeção.
– Muita gente disse que teve dificuldades para ver, mas pegou a história. Foi um grave problema, porque o digital ainda é um formato a ser estudado e existem vários tipos de projeção.
Tanto Maria Padilha como Chico Diaz afirmam que um grande diferencial do filme é lidar com a existência do subúrbio do Rio, mas de uma maneira fora dos padrões. Os atores foram importantíssimos para que Praça Saens Peña existisse. Amigos de Reis, ex-ator formado pelo Tablado que se aventurou pelo cinema e dirigira o documentário A cobra fumou (2002, sobre a Segunda Guerra Mundial), sugeriram a ele que partisse para o cinema de ficção.
– Quando Reis me falou que era um filme sobre a Zona Norte, cheguei a pegar os personagens do Nelson Rodrigues para estudar. Mas depois vi que não tinha nada a ver – afirma Maria, conhecida pelas personagens de classe alta que faz em novelas. – Há situações complexas no filme, mas elas se desenvolvem sem grandes tragédias. Não dá para falar de Rio sem falar de violência, mas, ao mesmo tempo, muita gente vive sem ela.
Num tempo em que filmes como Cidade de Deus e Tropa de elite criam grandes épicos sobre problemas urbanos – que são determinantes para as vidas das personagens – Chico Diaz repara no aspecto acima de tudo cotidiano de Praça Saens Peña.
– A função reflexiva existe muito no cinema argentino. Eles sempre olham para si próprios. Nós também podemos fazer isso, reparar no cotidiano da velha esquina, do nosso irmão – explica ele, que passou a frequentar lugares na Tijuca para os quais os personagens iriam. – Eu antes conhecia apenas o Maracanã.
Foi importante conhecer o bairro, até pela reavaliação de sua história.
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