Luciana Rodrigues e Bruno Rosa
DEU EM O GLOBO
País emprestou US$10 bi ao FMI. Emissões na moeda somam R$17 bi
DEU EM O GLOBO
País emprestou US$10 bi ao FMI. Emissões na moeda somam R$17 bi
No ano em que completa uma década e meia, o real brilhou como nunca no mercado internacional. A moeda debutou no Fundo Monetário Internacional (FMI) e chegou até o Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Em meio à maior crise econômica da História recente, o Brasil emprestou US$10 bilhões ao Fundo, participou de operação de troca de moedas com o Fed e foi um dos poucos países do mundo a verem suas reservas internacionais crescerem nos últimos meses. Numa prova da confiança de investidores internacionais na nossa moeda, empresas e governo brasileiro já fizeram R$17 bilhões em emissões de títulos em reais no exterior desde 2004. Segundo analistas, essas são demonstrações simbólicas da força do real no mundo.
- Isso tudo só foi possível porque o Brasil melhorou muito suas contas externas nos últimos cinco anos. Historicamente, o país sempre teve uma fragilidade nessa área, a crise cambial sempre esteve na nossa esquina. Dessa vez, não, resistimos bem à crise - afirma Luiz Carlos Prado, professor do Instituto de Economia da UFRJ.
País quer ampliar trocas comerciais em moedas locais
O real também ganha espaço nas trocas comerciais. Hoje, o Brasil já fecha suas importações e exportações com a Argentina nas moedas locais. E quer ampliar o sistema para os demais parceiros do Mercosul e outros países da região. Busca o mesmo com a China.
- Além de a moeda ser aceita no Mercosul, existe o projeto de trocas comerciais com a China em reais. Isso é muito importante. Nesse momento, o Brasil será, ao lado da China, uma das poucas nações que terão recuperação neste segundo trimestre - avalia Alfredo Coutiño, economista sênior da Moody"s Economy.com.
Segundo Coutiño, são poucas as moedas de países emergentes atraentes no mercado internacional. No caso dos títulos emitidos em moedas nacionais, além do real, há os papéis de China, Índia e Turquia. As emissões de empresas e do Tesouro Nacional em reais tiveram início em 2004 e ganharam fôlego até 2007. Ao comprar um título denominado em real, o investidor internacional dá um voto de confiança na economia brasileira, porque assume o risco cambial do país. Ou seja, em caso de crise econômica, se o real perder valor, o investidor terá prejuízo. Por isso, a emissão em moeda nacional é tão emblemática.
Com a crise financeira internacional, as captações em reais foram suspensas. Porém, para especialistas, a janela deve se abrir a partir do fim deste ano. O pontapé inicial se dará com o Tesouro Nacional, que pretende fazer nova emissão até dezembro. No mercado, há rumores de que grandes empresas estariam preparando captações em reais. Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, ao longo dos últimos 15 anos, o real passou a ser uma moeda forte:
- Isso é um processo. À medida que o país ganhou mais fundamentos, os investidores passaram a demandar os bônus porque a moeda já não tinha tanta volatilidade. Além das reservas, a situação fiscal foi importante, já que a relação dívida/PIB passou de 53%, em 2002, para 36% em 2008.
Em comparação aos países da América Latina, o Brasil tem posição de destaque. Segundo economistas, Colômbia, Peru e México fizeram algumas emissões de títulos em suas moedas, mas sem o sucesso do Brasil. O principal trunfo do país, dizem analistas, são suas elevadas reservas internacionais: - É o reflexo de um trabalho feito ao longo de dois governos (Fernando Henrique e Lula). E também de uma política bem-sucedida do Banco Central de acumulação de reservas. A crise mostrou que essa estratégia deu certo - avalia Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex).
Brasil foi um dos poucos a não precisar de linha do Fed
Ribeiro lembra que a última grande crise externa que o Brasil atravessou foi a que desencadeou a maxidesvalorização do real, há dez anos. Hoje, o cenário é completamente diferente.
- O arcabouço de metas de inflação, câmbio flutuante e autoridade monetária responsável nos dá respaldo. Entre os emergentes, o Brasil foi o destaque. Isso fica evidente na recente recuperação dos mercados. Na queda, todo mundo foi junto. Agora, uns voltaram antes de outros. É emblemático que, nos últimos meses, o Brasil, em vez de queimar reservas, tenha acumulado ainda mais - afirma Mariam Dayoub, estrategista-chefe da Arsenal Investimentos.
Não por acaso, no auge da crise, o Brasil foi um dos poucos países emergentes a participarem de uma operação de troca de moedas com o Fed. A linha de crédito, de US$30 bilhões (para os quais o Brasil deixou à disposição o equivalente em reais), no entanto, não precisou ser acionada. Outros bancos centrais - como o europeu e o suíço - usaram a linha do Fed. Segundo Mariam, isso sinalizou para os mercados quem estava em melhor situação.
O empréstimo de US$10 bilhões ao FMI, fechado este mês, coroou a trajetória de resistência do real à crise.
Luiz Chrysostomo, da Neo Investimentos, ressalta que a estabilização da economia permitiu ao real ter reserva de valor e, assim, maior aceitação internacional. Ele lembra ainda que o país foi beneficiado pelo boom de commodities (matérias-primas) a partir de 2003.
Para Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), daqui para frente os investimentos para exploração de petróleo no pré-sal darão maior sustentabilidade ao real.
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