segunda-feira, 29 de junho de 2009

Golpe de Estado depõe presidente de Honduras

Reuters, Efe, Ap e Afp, Tegucigalpa
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente de Honduras, Juan Manuel Zelaya, foi destituído ontem do cargo por militares, em cumprimento a uma ordem da Suprema Corte do país. A ação foi uma resposta à insistência de Zelaya em realizar um plebiscito para mudar a Constituição e permitir a sua candidatura à reeleição. Zelaya foi surpreendido em sua residência às 6 horas (9 horas de Brasília) por cerca de 300 militares, que desarmaram seus 10 seguranças e o levaram, ainda de pijamas, para a Costa Rica. Em sessão extraordinária, parlamentares hondurenhos leram uma carta de renúncia atribuída ao presidente deposto e deram posse ao presidente do Congresso, Roberto Micheletti. Porém, ao desembarcar no exílio, Zelaya negou a autoria da carta.

Presidente de Honduras sofre golpe de Estado e é forçado ao exílio

Justiça ordena a destituição de José Manuel Zelaya, que é preso e enviado para a Costa Rica ainda de pijamas

A Suprema Corte de Honduras ordenou ontem que o Exército destituísse o presidente do país, José Manuel Zelaya, em razão de sua insistência em realizar um plebiscito - programado para ontem - para mudar a Constituição, permitindo que ele se candidatasse à reeleição nas eleições gerais, em novembro.

Às 6 horas (9 horas de Brasília), cerca de 300 militares chegaram em caminhões e cercaram a casa de Zelaya, localizada em Tres Caminos, leste da capital Tegucigalpa. Depois de uma troca de tiros - não foram divulgados detalhes sobre mortos ou feridos -, os soldados desarmaram dez seguranças, entraram na residência e prenderam o presidente, ainda de pijamas.

Zelaya foi levado a uma base aérea, de onde embarcou para a Costa Rica. Foi o primeiro golpe de Estado na América Central desde o fim da Guerra Fria e o terceiro na história de Honduras - o país sofreu outros dois, em 1956 e 1982.

O plebiscito proposto por Zelaya, um aliado do presidente venezuelano, Hugo Chávez, foi considerado ilegal pela Justiça do país, pelo Congresso, incluindo membros do próprio partido de Zelaya, e enfrentava oposição também do Exército.

Na semana passada, em resposta à votação, os parlamentares aprovaram uma lei que impedia a realização de consultas populares 180 dias antes e depois das eleições. Zelaya ignorou a lei e manteve o plebiscito.

Na quinta-feira, porém, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Romeo Vázquez, negou-se a dar apoio logístico à votação, argumentando que ela havia sido declarada "ilegal" pelo Congresso. Um dia depois, Zelaya destituiu o general e a crise se agravou.

Após a demissão de Vázquez, o ministro da Defesa, Ángel Orellana, e outros comandantes militares também renunciaram. A situação piorou quando a Justiça acatou dois recursos contra a destituição do general e mandou reconduzi-lo ao cargo. "As Forças Armadas agiram em defesa da lei", afirmou o Judiciário em comunicado lido ontem nas rádios.

Em sessão extraordinária convocada após a saída de Zelaya do país, os deputados hondurenhos leram uma carta atribuída ao presidente em que ele renunciava por causa da crise política e de problemas de saúde. "Em razão de problemas graves de saúde, apresento minha renúncia irrevogável", dizia o texto supostamente escrito pelo presidente.

Assim que desembarcou na Costa Rica, ainda de pijamas, Zelaya deu entrevista à rede de TV venezuelana Telesur negando a autoria da carta. "Jamais renunciei e nunca usarei esse mecanismo. A carta é uma mentira. Cometeram um crime contra a democracia." Zelaya pediu que o povo resista de maneira pacífica ao golpe e afirmou que foi "sequestrado" e "expulso" do país contra sua vontade.

Na mesma sessão extraordinária de ontem, os deputados de Honduras nomearam Roberto Micheletti, líder do Congresso, como novo presidente do país. Em uma de suas primeiras medidas, Micheletti decretou toque de recolher por 48 horas, até amanhã. Em uma coletiva após a posse, ele também afirmou que receberá "com muito gosto" Zelaya se ele desejar voltar a Honduras sem o apoio de Chávez. Micheletti deve permanecer no cargo até 27 de janeiro de 2010 - último dia do mandato de Zelaya.

Repercussão
A destituição de Zelaya recebeu críticas da comunidade internacional, principalmente de seus aliados bolivarianos.

Cronologia
2005: Manuel Zelaya vence eleição presidencial

2009: Zelaya organiza referendo para permitir reeleição. Votação seria realizada ontem

Terça-feira: Parlamento rejeita referendo. Supremo Tribunal Eleitoral e Exército o declaram ilegal

Quarta-feira: Zelaya destitui o general Romeo Vasquez

Quinta-feira: Suprema Corte restitui Vasquez

Sábado: O presidente declara ter o controle da situação

Ontem: Zelaya é detido por volta das 6 horas e enviado à Costa Rica. Do exílio, conclama povo a praticar a "desobediência pacífica"

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