segunda-feira, 29 de junho de 2009

Lula em obras: cuidado!

Fernando de Barros e Silva
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Lula degrada a discussão pública no país. Segundo ele, a imprensa (mas só a "burguesa") vive do "denuncismo desvairado". E a nação, diz, "precisa de boas notícias". Sua fala banaliza os escândalos do Senado, pondo sob suspeição aqueles que os revelaram. Na prática, o ataque retórico ao jornalismo serve para dar um verniz de legitimidade à opção pelo indefensável. Lula se alia aos senadores do PFL para salvar Sarney e sua camarilha. Mais uma vez, entre a esquerda e a direita, fica com o atraso.

O pouco caso diante do quadro de descalabro no Senado serve para qualificar o uso que Lula faz da sua popularidade, além de explicitar seu desapego pela moralidade.

Na mesma sexta-feira, o presidente ainda disse que "o país foi feito para não funcionar". Alegou que a "máquina de fiscalização" do Estado "é muito mais eficiente que a máquina de execução".

Ou seja, o país que Lula reclama é aquele que tem uma imprensa chapa-branca e um Estado caixa-preta. O Brasil talvez esteja mais próximo dessa utopia obscurantista do que os "desabafos" do presidente fazem supor.

"Deixa o homem trabalhar": o conteúdo latente do bordão da campanha de 2006 vem à tona no exercício do mandato. Com Collor também foi assim: o slogan "caçador de Marajás" embutia, como um sentido oculto, a destruição do Estado que seu governo levaria a cabo.

Agora, o que se vê é a apropriação laboriosa do Estado pelos amigos do rei. Quando gritam "a Petrobras é nossa!", os petistas sintetizam numa fórmula o espírito de uma época. Lula faz um governo neopatrimonialista de comunhão nacional: do PR ao PMDB, dos usineiros às empreiteiras, dos banqueiros à CUT, todos só querem "trabalhar". O lulismo é uma forma de degradação dos valores da República.


Este colunista ficará afastado de suas atividades profissionais pelos próximos três meses, para um período de estudos. Até a volta.

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