DEU EM O GLOBO
A tentativa de negociação entre os golpistas hondurenhos e o presidente deposto do país aparentemente fracassou, ontem, na Costa Rica. O líder do governo interino do país, Roberto Micheletti, deixou a Costa Rica ontem no fim da tarde sem se reunir pessoalmente com Manuel Zelaya, agravando a crise que isolou Honduras internacionalmente.
— Não houve um encontro cara a cara — disse o portavoz da Presidência da Costa Rica, Pablo Gueren, referindose ao esperado encontro entre Zelaya e Micheletti.
Os dois haviam concordado em negociar uma solução para o impasse, com a mediação do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1987. O palco escolhido para o encontro foi a residência pessoal do costa-riquenho, em San José. Pela manhã, Arias recebeu Zelaya, com quem esteve reunido por uma hora e meia. Depois que o presidente deposto de Honduras foi embora, Micheletti chegou e se reuniu com Arias por três horas. De lá, quebrando o que fora acordado anteriormente com a Costa Rica, ele partiu direto para o aeroporto, onde embarcou de volta para Tegucigalpa.
Insulza teme novos golpes no continente americano Micheletti falou rapidamente com a imprensa reunida do lado de fora da casa de Arias.
— O diálogo foi iniciado e está instalada nossa comissão de trabalho. Eu volto totalmente satisfeito — afirmou Micheletti.
O político confirmou que seu governo interino realizará eleições presidenciais e parlamentares em novembro deste ano. Ontem de manhã, o secretáriogeral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, no entanto, afirmara que a entidade não aceitará a legitimidade de qualquer eleição realizada sem que Zelaya esteja de volta ao poder.
Segundo fontes afirmaram ainda durante o longo encontro entre o presidente Arias e o líder do golpe hondurenho, os dois lados indicariam uma comissão de quatro pessoas para negociar uma saída para a crise. Porém, depois da saída intempestiva de Micheletti, que chegara ao país com uma comitiva de 22 pessoas — inclusive integrantes do Exército, que foi o responsável pela expulsão de Zelaya de Honduras sob a mira de armas — não se sabe se as negociações continuarão.
Assim que deixou sua reunião com Arias, Zelaya frisou que exigia voltar ao poder.
— Cremos que fomos congruentes com a posição de Honduras, que é a restituição do Estado de direito, da democracia e da restituição do presidente eleito pelo povo hondurenho — disse o presidente deposto.
A retirada de Micheletti das negociações ocorreu no dia em que Insulza disse temer que o exemplo hondurenho seja repetido por outros países, e que ocorram novos golpes de Estado no continente americano.
— Não vou mencionar países. Mas os responsáveis são aqueles que começam a pressionar de novo, recorrendo ao Congresso , à imprensa e a outros meios para afirmar que o presidente no poder é alguém que viola a lei e pode ser destituído — disse Insulza. — Mas, estas pessoas não explicam que o presidente que viola a lei está sujeito à Constituição e, naturalmente, pode ser removido de seu cargo.
O líder da OEA frisou que a deportação de Zelaya não pode ser considerada um ato constitucional, pois o Congresso não declarou oficialmente que retirava o presidente do cargo: — Mas vimos que o Congresso (hondurenho) inventou uma renúncia.
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