Eduardo Scolese
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Sem-terra de 24 Estados pedem o assentamento de 90 mil famílias acampadas e mais recursos para a reforma agrária
Movimento também faz protesto diante de prédios públicos em 13 Estados contra o corte de verbas para os assentamentos
Insatisfeitos com a política de reforma agrária do governo federal, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra invadiram, ontem pela manhã, o Ministério da Fazenda e, pela primeira vez, chamaram o presidente Lula de "traidor".
Para que saíssem, exigiram o agendamento de uma reunião com ministros, o que conseguiram após oito horas e meia. Às 17h45, os sem-terra deixaram o prédio após telefonema do ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral), que confirmou encontro com o MST hoje à tarde.
O MST chegou anteontem a Brasília para sua última grande manifestação na gestão petista -avalia-se que não haverá espaço para isso em ano eleitoral.
Sem-terra de 24 Estados ergueram um acampamento para reivindicar mais recursos para a reforma agrária, atualização dos índices de produtividade de áreas passíveis de desapropriação e o assentamento, neste ano, das 90 mil famílias acampadas do movimento.
A entrada no saguão do ministério ocorreu às 9h10, no momento em que uma marcha com cerca de 5.000 pessoas, segundo a PM, percorria a Esplanada dos Ministérios.
Não houve confronto. Seguranças da Fazenda e policiais militares conseguiram evitar que os sem-terra tivessem acesso aos elevadores e escadas. Dentro do hall, ficaram cerca de 200 sem-terra. Os demais, do lado de fora. Eles entravam e saíam livremente.
"Ô Lula, seu traidor, manda polícia pra bater em trabalhador"; "Lula, a culpa é tua, o povo está na rua; e "Lula, lá, o que aconteceu? Cadê a reforma agrária que você nos prometeu?", gritaram os sem-terra.
"Isso [ataques a Lula] é uma demonstração da [nossa] insatisfação. Por isso é quase que uma obrigação elevarmos o tom para ver o que acontece", disse Marina dos Santos, da coordenação nacional do MST.
Houve ainda manifestações contrárias ao apoio de Lula ao senador José Sarney (PMDB-AP). Numa porta do ministério, um sem-terra escreveu: "Lula, você é o culpado de manter o Sarney no poder". Do carro de som, Sarney e Renan Calheiros foram chamados de "moleque", "safado", "bandido" e "ladrão".
A polícia não precisou cumprir a ordem judicial de reintegração de posse do prédio. O ministro Guido Mantega (Fazenda) não trabalhou no ministério: ao saber da ação, seguiu direto para a sede provisória do Executivo no Centro Cultural Banco do Brasil.
Além da passeata e da invasão no Distrito Federal, militantes do MST e da Via Campesina fizeram ontem protestos em 13 Estados contra o corte de verbas para assentamentos. Foram invadidas as sedes regionais do Ministério da Fazenda (em Mato Grosso, Pará e Paraná) e do Incra (em Pernambuco, Bahia e Ceará).
No Pará, cerca de 800 trabalhadores chegaram anteontem a Belém após sete dias de marcha e invadiram o Incra. Ontem, o grupo invadiu o Ministério da Fazenda em Belém.
Em Curitiba, cerca de 400 sem-terra também invadiram a sede regional do ministério e outros cem fizeram ações em frente ao prédio do Incra.
Em Porto Alegre a entrada da Receita foi bloqueada por cerca de mil manifestantes. Em Cuiabá, cerca de 1.200 sem-terra invadiram o prédio da Receita.
Sem-terra invadiram as sedes do Incra em Petrolina (PE), Salvador e Fortaleza. No Ceará, os protestos reuniram 1.500 pessoas em seis municípios. Houve ainda atos em frente aos prédios da Fazenda em São Paulo, Rio, Florianópolis e Maceió, e do Incra em Boa Vista.
Colaborou a Agência Folha
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