sexta-feira, 2 de outubro de 2009

PSB atende a Lula e fixa domicílio de Ciro em SP

Carolina Mandl e Murillo Camarotto, do Recife
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O PSB anunciou ontem que Ciro Gomes fará hoje a troca do seu domicílio eleitoral para São Paulo, o que abre a possibilidade de o deputado estadual disputar o governo do Estado em 2010. A troca, porém, atende mais a uma demanda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que ao desejo do partido de lançar Ciro na disputa estadual, segundo apurou o Valor na cúpula do PSB.

Diferentemente de Lula, que quer unir os aliados apenas em torno do nome da ministra Dilma Rousseff para a sucessão presidencial, a sigla liderada pelo governador pernambucano Eduardo Campos segue defendendo a inclusão também do nome de Ciro para o Planalto. O PSB enxerga na distribuição das candidaturas uma forma de fortalecer o campo governista, isolando a oposição em torno de um só candidato. Porém, ciente de que precisará do apoio político de Lula para manter uma candidatura própria, o partido viu na mudança de domicílio uma forma de afagar o presidente, não fechando as portas para nenhuma das duas disputas.

A confecção de alianças com outros partidos é vital para uma candidatura presidencial competitiva do PSB, sigla que vê 2010 como uma grande oportunidade para ganhar musculatura na política nacional. Lula poderia intermediar uma aliança com o PDT, do ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. Isso daria ao PSB mais tempo de inserção na televisão com a propaganda eleitoral, por exemplo.

Ontem, ao anunciar a mudança de seu domicílio eleitoral, após reunião com o governador de Pernambuco, Ciro afirmou que o partido não trabalha hoje com seu nome para a sucessão do governador José Serra (PSDB) mas também não rechaçou que isso venha a ocorrer. Isso vai depender do desempenho do deputado nas próximas pesquisas: se ele apresentar chances de vitória, poderá partir para essa disputa.

O Palácio dos Bandeirantes não é o desejo do Ciro, que argumenta ter falta de intimidade com a rotina de São Paulo. O deputado mencionou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, recém filiado ao PSB, como um nome interessante para o governo paulista.

Por enquanto, Skaf é o preferido do PSB para a eleição em São Paulo, apesar de a direção do partido admitir a falta de identificação dele com a sigla. O nome do dirigente é visto como uma oportunidade de trazer o empresariado para o PSB, fazendo a sigla ganhar mais expressão. Porém, o desempenho de Ciro nas próximas pesquisas e a definição dos nomes do PT para o pleito é que vão definir para qual cargo o deputado vai se candidatar.

Caso concorra mesmo ao Planalto, Ciro afirmou que seu discurso será pautado no compromisso com a continuidade dos avanços obtidos na gestão Lula. "A política brasileira é tão débil que quando se troca João por Maria tudo vai por água abaixo. Por isso, nossa primeira tarefa é a institucionalização do desenvolvimento conquistado", afirmou.

Apesar do alinhamento com o governo atual, a direção do PSB acredita que, como presidente, Ciro poderia fazer mais pelo país do que Dilma. Na avaliação do PSB, o discurso será de um olhar para o passado, para o governo Lula, enquanto que o de Ciro vai mirar o futuro. Além disso, o deputado voltou a alfinetar a aliança entre PT e PMDB, colocando em xeque a sua consistência política.

Diante desse quadro, o PSB admite que eventuais trocas de rusgas entre as candidaturas de Dilma e Ciro não são uma possibilidade totalmente descartada.

O deputado também acredita que a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a quem chamou de "grande brasileira", poderá ter problemas com seu partido, o PV, em um eventual segundo turno entre Dilma e Serra. Na avaliação de Ciro, o PV poderia colocar Marina em situação delicada, caso decidisse apoiar o tucano.

Apesar do visível entusiasmo pela disputa presidencial, reforçado pelo crescimento apresentado nas últimas pesquisas de intenção de voto, Ciro foi cauteloso nas palavras. "Pesquisas feitas a tal distância das eleições devem ser vistas com precaução e humildade", disse o deputado, que desconsiderou a possibilidade de ser vice na chapa de Dilma.

Ciro comparou o estágio atual de sua candidatura ao período de treinos livres da Fórmula 1. "É nesses treinos que se revelam quais carros vão ser competitivos. Não é uma etapa irrelevante, mas há outros treinos", afirmou.

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