DEU NO VALOR ECONÔMICO
Quando o ministro Hélio Costa era menino, na mineira Barbacena, ouvia uma história exemplar, que passou de geração em geração e ainda hoje é boa para definir o que fazer com os problemas insolúveis. Nela, fascinado pelo mecanismo de controle das linhas de trem, um garoto aproxima-se do guarda das chaves da central da estrada de ferro e revela que sonhava ter sua profissão.
- Não aconselho, pensa em outra coisa, isto aqui não é uma profissão, é uma ocupação, precisa ter muita responsabilidade para mandar um trem cheio de passageiros para um lado e para outro.
- Mas se eu realmente quisesse muito, como poderia me ajudar?
- Presta atenção, vamos fazer um teste: está vindo um trem de Belo Horizonte, na linha A, e outro trem do Rio, na linha B. Eles erraram a entrada numa cidadezinha do interior e vão se chocar exatamente aqui, em Barbacena, porque estão na mesma linha. O que você faz?
- Faço como o senhor, puxo a alavanca, separo os trens e mudo sua direção.
- Mas a alavanca está emperrada.
- Então corro para a reta maior da linha e gesticulo, faço um escândalo, e paro o trem.
- Mas está de noite, eles não vão te ver.
- Pego a lanterna.
- Está sem pilha.
- Rasgo minha camisa, boto fogo.
- Mas está chovendo.
- Então chamo minha irmãzinha.
- Para quê?
- Para ela ver o brutal desastre que vai acontecer aqui.
O ministro Hélio Costa (PMDB-MG) tem dito a amigos no partido que está ao ponto de chamar sua irmãzinha para assistir ao desfecho da disputa pelas candidaturas do PMDB e do PT no Estado. O que está levando o ministro ao limite da paciência é a mais recente posição do PT, definida em reunião do grupo de trabalho eleitoral, da semana passada, em Brasília, na qual a direção do partido avaliou que dos três Estados onde está mais difícil fechar a aliança do PT com o PMDB - Rio, Bahia e Minas - a eleição mais fácil de resolver, com a desistência do PMDB, porque ali o PT está muito bem posicionado para ganhar, é a de Minas Gerais.
O inventário de Hélio Costa derruba esta tese. Nos registros, ele tem 47% da votação de Minas, em média, o PT tem 15%, seja com que candidato for. Nas duas campanhas em que disputou o governo e disputa vitoriosa para o Senado, contabiliza 3,5 milhões de votos. O ministro das Comunicações já disse a interlocutores do PT que, para alguém pedir que abra mão da disputa, tem que aparecer com o básico, 3,5 milhões de votos.
A configuração da eleição de 2010 em Minas, para esta aliança, será decidida não em uma reunião da cúpula do PT, como pareceu após o encontro de Brasília, mas, segundo entende Hélio Costa, por um grupo especial de líderes dos dois partidos cuja constituição foi determinada pelo presidente Lula. Do lado do PT, estão Ricardo Berzoini, Ideli Salvatti, Cândido Vaccarezza, Aloizio Mercadante; do PMDB, Michel Temer, Henrique Alves, Hélio Costa, Geddel Vieira Lima.
Na quarta-feira da semana passada o grupo fez sua primeira reunião conjunta e fará outra na próxima semana. Só têm valor as decisões destes líderes, nenhum dos dois partidos, sozinho, pode arbitrar soluções.
Os dois partidos concordaram em nada exigir antecipadamente. Uma pesquisa qualitativa, a ser feita em março, determinará a escolha do candidato, mas, antes, o PT, segundo avaliação feita pelo grupo, teria que dar ponto final ao "duelo fratricida" entre Patrus Ananias e Fernando Pimentel, que disputam a indicação do partido para concorrer ao governo. E, antes de tudo, ainda, a definição do comando regional do partido.
Depois, são quatro vagas majoritárias, para governador, vice e dois senadores, havendo lugar para todos. Hélio Costa avisou ao grupo que, a continuar a luta interna, perderão a eleição para o governo, para o Senado e para presidente, pois não haverá condições de trabalhar para Dilma Rousseff nesta situação.
O ministro traçou para estes líderes o cenário eleitoral de Minas, que considera um microcosmo: 10% dos eleitores do Brasil, ali há o Triângulo, forte, assemelhado a São Paulo; há a zona populosa metalúrgica; há o nordeste do Estado; há 150 cidades acima de 100 mil habitantes; as demais têm menos de 20 mil, sobrevivem com o Fundo de Participação dos Municípios e a ajuda do governo do Estado, cuja máquina é fundamental em qualquer eleição.
O PMDB acredita estar apostando no projeto nacional da aliança mais do que o próprio PT e, por isto, ainda tem sido bombeiro das crises. Contudo, se nos próximos encontros o partido do presidente abandonar a orientação do chefe e continuar a fazer imposições, o partido de Hélio Costa acha que terá o direito de apoiar quem quiser. Até mesmo fora do acordo nacional.
Cronograma inverso
Na busca de argumentos para fazer a caça a Mário Torós, adversários, competidores em geral e os que não saíram com o perfil que gostariam das declarações do diretor sobre o desempenho do Brasil na crise financeira internacional produzem um equívoco histórico. O de que sua demissão do Banco Central foi precipitada pela entrevista ao Valor publicada na sexta-feira 13.
O que ocorreu foi o contrário, Torós atrasou sua saída, já mais do que decidida, combinada e anunciada, com a ausência da próxima reunião do Copom, até que o substituto estivesse escolhido, convidado e aprovado pelo presidente Lula. Resultou o desfecho, esta semana, em uma feliz coincidência com a revelação dos bastidores da crise em que ele teve papel protagonista. Torós fará toda a transição para o novo diretor Aldo Mendes. O resto são as dores do ciúme.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
Quando o ministro Hélio Costa era menino, na mineira Barbacena, ouvia uma história exemplar, que passou de geração em geração e ainda hoje é boa para definir o que fazer com os problemas insolúveis. Nela, fascinado pelo mecanismo de controle das linhas de trem, um garoto aproxima-se do guarda das chaves da central da estrada de ferro e revela que sonhava ter sua profissão.
- Não aconselho, pensa em outra coisa, isto aqui não é uma profissão, é uma ocupação, precisa ter muita responsabilidade para mandar um trem cheio de passageiros para um lado e para outro.
- Mas se eu realmente quisesse muito, como poderia me ajudar?
- Presta atenção, vamos fazer um teste: está vindo um trem de Belo Horizonte, na linha A, e outro trem do Rio, na linha B. Eles erraram a entrada numa cidadezinha do interior e vão se chocar exatamente aqui, em Barbacena, porque estão na mesma linha. O que você faz?
- Faço como o senhor, puxo a alavanca, separo os trens e mudo sua direção.
- Mas a alavanca está emperrada.
- Então corro para a reta maior da linha e gesticulo, faço um escândalo, e paro o trem.
- Mas está de noite, eles não vão te ver.
- Pego a lanterna.
- Está sem pilha.
- Rasgo minha camisa, boto fogo.
- Mas está chovendo.
- Então chamo minha irmãzinha.
- Para quê?
- Para ela ver o brutal desastre que vai acontecer aqui.
O ministro Hélio Costa (PMDB-MG) tem dito a amigos no partido que está ao ponto de chamar sua irmãzinha para assistir ao desfecho da disputa pelas candidaturas do PMDB e do PT no Estado. O que está levando o ministro ao limite da paciência é a mais recente posição do PT, definida em reunião do grupo de trabalho eleitoral, da semana passada, em Brasília, na qual a direção do partido avaliou que dos três Estados onde está mais difícil fechar a aliança do PT com o PMDB - Rio, Bahia e Minas - a eleição mais fácil de resolver, com a desistência do PMDB, porque ali o PT está muito bem posicionado para ganhar, é a de Minas Gerais.
O inventário de Hélio Costa derruba esta tese. Nos registros, ele tem 47% da votação de Minas, em média, o PT tem 15%, seja com que candidato for. Nas duas campanhas em que disputou o governo e disputa vitoriosa para o Senado, contabiliza 3,5 milhões de votos. O ministro das Comunicações já disse a interlocutores do PT que, para alguém pedir que abra mão da disputa, tem que aparecer com o básico, 3,5 milhões de votos.
A configuração da eleição de 2010 em Minas, para esta aliança, será decidida não em uma reunião da cúpula do PT, como pareceu após o encontro de Brasília, mas, segundo entende Hélio Costa, por um grupo especial de líderes dos dois partidos cuja constituição foi determinada pelo presidente Lula. Do lado do PT, estão Ricardo Berzoini, Ideli Salvatti, Cândido Vaccarezza, Aloizio Mercadante; do PMDB, Michel Temer, Henrique Alves, Hélio Costa, Geddel Vieira Lima.
Na quarta-feira da semana passada o grupo fez sua primeira reunião conjunta e fará outra na próxima semana. Só têm valor as decisões destes líderes, nenhum dos dois partidos, sozinho, pode arbitrar soluções.
Os dois partidos concordaram em nada exigir antecipadamente. Uma pesquisa qualitativa, a ser feita em março, determinará a escolha do candidato, mas, antes, o PT, segundo avaliação feita pelo grupo, teria que dar ponto final ao "duelo fratricida" entre Patrus Ananias e Fernando Pimentel, que disputam a indicação do partido para concorrer ao governo. E, antes de tudo, ainda, a definição do comando regional do partido.
Depois, são quatro vagas majoritárias, para governador, vice e dois senadores, havendo lugar para todos. Hélio Costa avisou ao grupo que, a continuar a luta interna, perderão a eleição para o governo, para o Senado e para presidente, pois não haverá condições de trabalhar para Dilma Rousseff nesta situação.
O ministro traçou para estes líderes o cenário eleitoral de Minas, que considera um microcosmo: 10% dos eleitores do Brasil, ali há o Triângulo, forte, assemelhado a São Paulo; há a zona populosa metalúrgica; há o nordeste do Estado; há 150 cidades acima de 100 mil habitantes; as demais têm menos de 20 mil, sobrevivem com o Fundo de Participação dos Municípios e a ajuda do governo do Estado, cuja máquina é fundamental em qualquer eleição.
O PMDB acredita estar apostando no projeto nacional da aliança mais do que o próprio PT e, por isto, ainda tem sido bombeiro das crises. Contudo, se nos próximos encontros o partido do presidente abandonar a orientação do chefe e continuar a fazer imposições, o partido de Hélio Costa acha que terá o direito de apoiar quem quiser. Até mesmo fora do acordo nacional.
Cronograma inverso
Na busca de argumentos para fazer a caça a Mário Torós, adversários, competidores em geral e os que não saíram com o perfil que gostariam das declarações do diretor sobre o desempenho do Brasil na crise financeira internacional produzem um equívoco histórico. O de que sua demissão do Banco Central foi precipitada pela entrevista ao Valor publicada na sexta-feira 13.
O que ocorreu foi o contrário, Torós atrasou sua saída, já mais do que decidida, combinada e anunciada, com a ausência da próxima reunião do Copom, até que o substituto estivesse escolhido, convidado e aprovado pelo presidente Lula. Resultou o desfecho, esta semana, em uma feliz coincidência com a revelação dos bastidores da crise em que ele teve papel protagonista. Torós fará toda a transição para o novo diretor Aldo Mendes. O resto são as dores do ciúme.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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