DEU NO JORNAL DO BRASIL
RIO - No Rio de Janeiro, como de resto em todo o Brasil, ainda é morna a temperatura política em relação às eleições que serão realizadas em outubro próximo. Entretanto, esta é uma avaliação que vale para eleitor médio, mas não para os partidos, suas lideranças e eventuais candidatos. No subterrâneo político em todo o país a movimentação é intensa e, partir de agora, ela se intensificará. A temperatura é alta. As máquinas partidárias terão que definir, nos próximos meses, seus candidatos para os cinco níveis da representação política (Presidência, governo estadual, Senado, deputado federal, deputado estadual); em dois diferentes âmbitos, Executivo (presidente da República e governador) e Legislativo (senador, deputados federal e estadual); e em duas distintas instâncias, a federal (Presidência, Senado, Câmara Federal) e a estadual (governo do estado e assembleias legislativas). Duas eleições de tipos diferentes serão realizadas simultaneamente, uma com caráter majoritário (Presidência, Senado, governo dos estados) e outra com caráter proporcional (Câmara Federal e assembleias legislativas). Na primeira modalidade ganhará o candidato que obtiver a maioria dos votos. Na segunda, a representação política será distribuída proporcionalmente entre os partidos políticos concorrentes.
O cidadão comum pode não se aperceber, assim, da intensidade dos entrechoques entre vontades políticas diversas; das lutas intensas entre forças de natureza e peso políticos diferentes; dos conflitos, às vezes insolúveis, entre objetivos e interesses distintos que, no presente, estão ocorrendo. Entrechoques, lutas, conflitos deverão solucionar-se, na metodologia democrática, pela via da negociação das divergências. Escolhidos os candidatos, sendo eles legitimamente aceitos pelas suas bases, serão então lançados à competição no mercado eleitoral.
Para o eleitor fluminense, duas eleições majoritárias (para o governo do estado e para o Senado) dirão respeito aos seus interesses imediatos no plano da representação estadual. Na disputa para o governo do estado, o governador do Rio, Sérgio Cabral, é o único que já se coloca como pré-candidato assumido. Isso lhe dá, nesse momento, dupla vantagem. Por um lado, com o comando do aparelho administrativo em suas mãos, pode supor a prévia disciplina dos quadros e militantes dos partidos que lhe dão apoio. Por outro, a mídia, mesmo sem querer, se vê obrigada a noticiar seu nome e suas intenções. Sua principal opositora nas eleições passadas, a juíza Denise Frossard, não é mais uma alternativa. Não se configura, na verdade, de imediato, nenhum outro nome de peso capaz de embaralhar as pretensões do atual governador, a não ser o do deputado federal Fernando Gabeira, do PV. O lançamento da sua candidatura, contudo, passa por complicada negociação entre as lideranças de seu partido e o PSDB do governador Serra. No entanto, no primeiro turno, pelo menos, ele terá que apoiar a candidatura da ex-senadora e ex-ministra, Marina Silva. O ex-governador Garotinho – agora no Partido Republicano (PR, que resultou da fusão entre o Prona (do já falecido deputado Enéas) e o PL (de história marcada por insucessos) encontrará dificuldades de difícil superação. Seu partido apoia o governo Lula, de modo que ele, caso candidato, terá que se equilibrar entre o apoio a Dilma Rousseff ,do PT, e a aposição frontal ao governador Sérgio Cabral que, por sua vez, terá o apoio explícito do PT do presidente Lula.
Na corrida para o Senado, o quadro é ainda mais difuso pelo simples fato de que os partidos não definiram ainda seus candidatos. Os nomes, todavia, aparecem ali e acolá. O atual senador Crivella certamente tentará sua reeleição. O presidente da Assembleia Legislativa do Rio, deputado estadual Jorge Picciani, contará com o apoio do PMDB do governador Cabral. O bispo Manoel Ferreira, atual deputado federal pelo PR, com apoio da Igreja Evangélica Universal de Deus, poderá fazer eventual dobradinha com o governador Garotinho, caso este último não acabe optando pela sua própria candidatura ao Senado. Políticos bem conhecidos, como Miro Teixeira (PDT) e Cesar Maia (DEM), e outros nem tanto, como a vereadora Aspásia Camargo (PV), figuram no rol dos possíveis candidatos.
Não parece ser possível, do ponto de vista da atual conjuntura, arriscar-se qualquer prognóstico em relação aos que serão, afinal, laureados pela decisão dos eleitores. Pode-se, entretanto, prever dificuldades para os que farão oposição ao presidente Lula. Eles terão que ajustar o tom de suas críticas; encontrar o ponto de ajuste entre o que podem criticar e o que não podem; calibrar o tom de seus discursos, não desconhecendo que, nas eleições majoritárias, nos estados, ocorre tendência à federalização das disputas, no caso entre as candidaturas do PT e do PSDB. Não se esgrima facilmente com quem detém altos índices de aprovação eleitoral, ainda mais quando se sabe que o presidente contará, em 2010, como tudo indica, com o fortalecimento do doutor PIB. Ele terá decisiva influência no processo eleitoral.
Eurico de Lima Figueiredo é professor e cientista político da Universidade Federal Fluminense.
RIO - No Rio de Janeiro, como de resto em todo o Brasil, ainda é morna a temperatura política em relação às eleições que serão realizadas em outubro próximo. Entretanto, esta é uma avaliação que vale para eleitor médio, mas não para os partidos, suas lideranças e eventuais candidatos. No subterrâneo político em todo o país a movimentação é intensa e, partir de agora, ela se intensificará. A temperatura é alta. As máquinas partidárias terão que definir, nos próximos meses, seus candidatos para os cinco níveis da representação política (Presidência, governo estadual, Senado, deputado federal, deputado estadual); em dois diferentes âmbitos, Executivo (presidente da República e governador) e Legislativo (senador, deputados federal e estadual); e em duas distintas instâncias, a federal (Presidência, Senado, Câmara Federal) e a estadual (governo do estado e assembleias legislativas). Duas eleições de tipos diferentes serão realizadas simultaneamente, uma com caráter majoritário (Presidência, Senado, governo dos estados) e outra com caráter proporcional (Câmara Federal e assembleias legislativas). Na primeira modalidade ganhará o candidato que obtiver a maioria dos votos. Na segunda, a representação política será distribuída proporcionalmente entre os partidos políticos concorrentes.
O cidadão comum pode não se aperceber, assim, da intensidade dos entrechoques entre vontades políticas diversas; das lutas intensas entre forças de natureza e peso políticos diferentes; dos conflitos, às vezes insolúveis, entre objetivos e interesses distintos que, no presente, estão ocorrendo. Entrechoques, lutas, conflitos deverão solucionar-se, na metodologia democrática, pela via da negociação das divergências. Escolhidos os candidatos, sendo eles legitimamente aceitos pelas suas bases, serão então lançados à competição no mercado eleitoral.
Para o eleitor fluminense, duas eleições majoritárias (para o governo do estado e para o Senado) dirão respeito aos seus interesses imediatos no plano da representação estadual. Na disputa para o governo do estado, o governador do Rio, Sérgio Cabral, é o único que já se coloca como pré-candidato assumido. Isso lhe dá, nesse momento, dupla vantagem. Por um lado, com o comando do aparelho administrativo em suas mãos, pode supor a prévia disciplina dos quadros e militantes dos partidos que lhe dão apoio. Por outro, a mídia, mesmo sem querer, se vê obrigada a noticiar seu nome e suas intenções. Sua principal opositora nas eleições passadas, a juíza Denise Frossard, não é mais uma alternativa. Não se configura, na verdade, de imediato, nenhum outro nome de peso capaz de embaralhar as pretensões do atual governador, a não ser o do deputado federal Fernando Gabeira, do PV. O lançamento da sua candidatura, contudo, passa por complicada negociação entre as lideranças de seu partido e o PSDB do governador Serra. No entanto, no primeiro turno, pelo menos, ele terá que apoiar a candidatura da ex-senadora e ex-ministra, Marina Silva. O ex-governador Garotinho – agora no Partido Republicano (PR, que resultou da fusão entre o Prona (do já falecido deputado Enéas) e o PL (de história marcada por insucessos) encontrará dificuldades de difícil superação. Seu partido apoia o governo Lula, de modo que ele, caso candidato, terá que se equilibrar entre o apoio a Dilma Rousseff ,do PT, e a aposição frontal ao governador Sérgio Cabral que, por sua vez, terá o apoio explícito do PT do presidente Lula.
Na corrida para o Senado, o quadro é ainda mais difuso pelo simples fato de que os partidos não definiram ainda seus candidatos. Os nomes, todavia, aparecem ali e acolá. O atual senador Crivella certamente tentará sua reeleição. O presidente da Assembleia Legislativa do Rio, deputado estadual Jorge Picciani, contará com o apoio do PMDB do governador Cabral. O bispo Manoel Ferreira, atual deputado federal pelo PR, com apoio da Igreja Evangélica Universal de Deus, poderá fazer eventual dobradinha com o governador Garotinho, caso este último não acabe optando pela sua própria candidatura ao Senado. Políticos bem conhecidos, como Miro Teixeira (PDT) e Cesar Maia (DEM), e outros nem tanto, como a vereadora Aspásia Camargo (PV), figuram no rol dos possíveis candidatos.
Não parece ser possível, do ponto de vista da atual conjuntura, arriscar-se qualquer prognóstico em relação aos que serão, afinal, laureados pela decisão dos eleitores. Pode-se, entretanto, prever dificuldades para os que farão oposição ao presidente Lula. Eles terão que ajustar o tom de suas críticas; encontrar o ponto de ajuste entre o que podem criticar e o que não podem; calibrar o tom de seus discursos, não desconhecendo que, nas eleições majoritárias, nos estados, ocorre tendência à federalização das disputas, no caso entre as candidaturas do PT e do PSDB. Não se esgrima facilmente com quem detém altos índices de aprovação eleitoral, ainda mais quando se sabe que o presidente contará, em 2010, como tudo indica, com o fortalecimento do doutor PIB. Ele terá decisiva influência no processo eleitoral.
Eurico de Lima Figueiredo é professor e cientista político da Universidade Federal Fluminense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário