Em 2010 comemoramos os 25 anos do fim da ditadura militar. Sintomático e relevante é o silêncio abissal do PMDB e o total alheamento do PT, talvez o partido que mais se beneficiou com a redemocratização.
É compreensível a não-comemoração de tão importante fato na vida política do país por parte do PT, que se recusou a fazer parte da aliança democrática que elegeu Tancredo Neves em 1985, depois de derrotada a emenda das Diretas Já - e ai da democracia brasileira se dependesse do PT: a ditadura teria se reproduzido com a escolha de Paulo Maluf no Colégio Eleitoral. Já o silêncio do PMDB e de outras forcas democráticas nos parece constrangedor.
O MDB, antecessor do PMDB, fundado pelo Ato Institucional 2 (juntamente com a Arena), em 1965, nucleou desde o início uma oposição derrotada remanescente dos diversos partidos que haviam sido extintos pelo regime militar.
Um momento marcante aconteceu em 1974, quando o MDB obteve uma vitória histórica na eleição para o Senado, derrotando a Arena em 17 dos então 21 estados da Federação. Com licença do leitor para o grifo, "consolidava-se ali a via democrática como a única forma de luta capaz de derrotar a ditadura".
Cabe destacar, sobretudo para a nova geração, o papel que o Partido Comunista Brasileiro (PCB) desempenhou na redemocratização do País. Foi o Partidão o setor da esquerda que, junto e sob a liderança dos democratas, construiu a mais ampla frente de forças políticas e sociais de resistência ao regime militar.
O PCB recusava o voluntarismo e o aventureirismo da opção pela luta armada: além de equivocadas, as teorias militaristas dos focos, as guerrilhas urbanas e rurais, os seqüestros e atentados, serviram para articular as forças da repressão e os ultrarradicais do regime militar. O PCB entendia que uma frente democrática era o instrumento efetivo para o isolamento e derrota da ditadura.
De todo modo, nós, que viemos daquelas forças políticas que forjaram o velho MDB, temos, não apenas que festejar, mas nos sentirmos responsáveis pela saída democrática que o país conheceu com a eleição de Tancredo Neves (sim, o vice era José Sarney!).
E o PT com isso? Aí é que está. Alguns anos antes do Colégio Eleitoral, precisamente após a anistia (a primeira) de setembro de 1979, o regime havia, por meio de uma reforma política da lavra do general Golbery do Couto e Silva, dividido a oposição e permitido a legalização e criação de partidos democráticos, dentre eles, no campo da esquerda, o PDT (legenda que resultava do golpe judiciário contra o PTB de Brizola) e o PT (articulação de movimentos da Igreja Católica com expressivas lideranças sindicais e egressos da luta armada).
Não por acaso, o regime não permitia a livre organização partidária, o PCB continuava perseguido. A liberdade partidária plena só se concretizaria após a eleição de Tancredo, quando o governo removeu entulhos autoritários, acabou com a censura, restaurou a liberdade de imprensa e convocou a Assembleia Nacional Constituinte.
Não é motivo bastante para comemorações?
* É presidente do PPS
2 comentários:
O camarada Roberto Freire insiste em repetir uma falácia de pernas curtas: a esquerda que fez a luta armada contribuiu ainda mais para que a ditadura agisse de maneira violenta contra a oposição.
A verdade é que a única oposição civil real à ditadura foi feita pelos companheiros que fizeram a luta armada, pois a outra oposição a feita com palavras defendida pelo PCB era inócua pois inofensivas são palavras contra a força. Quem venceu e liquidou a ditadura aquartelando o Exército foi a facção do Exército chamada de "grupo da Sorbone", que tinha como referência a Escola Superior de Guerra.
Só a força vence a força; Gandhi jamais venceria Hitler. Quem pôs fim à ditadura no Brasil foi a facção castelista("Sorbone"), e qualquer grupo civil que reivindicar esta vitória tal como faz o camarada Roberto Freire estará cacarejando sobre ovos alheios.
A outra facção conhecida pela alcunha de "linha dura", que queria a continuidade da ditadura por tempo indefinido e mais repressão aos dissidentes foi aos poucos sendo encantoada pela facção castelista, sendo significativos os momentos de confronto em que foram exonerados os Generais Ednardo D'Ávila e Sílvio Frota.
Averber-se que a estratégia pacifista do PCB não resultou em final feliz, pois 10 membros de seu Comitê Central foram assassinados na tortura, bem como simples militantes ou simpatizantes como o Tenente Ferreira, da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Vladimir Herzog ou Manoel Fiel Filho. Freire não menciona estes companheiros mortos, bem como esquece que o PCB ficou totalmente acéfalo, sem Comitê Central de 1975 a 1980.
Os bravos brasileiros que fizeram a luta armada, única resistência civil efetiva à ditadura, assumiram tarefas de outros que tinham mais responsabilidade, mas que se omitiram e correram para debaixo da cama com medo das botas. As palavras de Freire são uma infâmia lançada sobre estes bravos companheiros e espelham uma falácia sobre fatos e sobre a espinha dorsal do poder concentrado no Estado.
O PT, partido em que sou filiado desde 1980, tem a decência de não reclamar para si vitórias que não são suas. Se orgulha apenas de praticar a radical e plena democracia que está em seus documentos básicos e em seu estatuto, o que não pode fazer nenhum partido leninista constatado que leninismo e democracia são conceitos excludentes.
Esta defesa radical da democracia não é pouca coisa para uma esquerda como a que pertenceu Freire, autoritária, marxista-leninista-stalinista, pouco propensa a aceitar os fatos, e por consequeência de seu autoritarismo dada a massacrar mais os companheiros do que os inimigos, tal como ele faz agora imputando-lhes ser causa dos piores crimes da ditadura, quando todos sabem que a ditadura militar foi o pior equívoco que o Exército cometeu em sua história, depor um presidente legítimo pisoteando a Constituição e expondo a coluna vertebral do Estado brasileiro ao racha e fatal enfraquecimento.
Portanto, o PT tem muito o que comemorar, 30 anos de sua fundação, mas só suas vitórias, sem embaçar as vitórias de outros, e não custará também, para não enveredar pelos caminhos de Freire, purgar seus erros, que sem dúvida são menores que os que lhes imputa seus detratores.
Luiz Brasileiro
luizbrasileiro2@gmai.com
Gilvan, não acredito que você não publique meu comentário porque eu sou do PT. Afinal este blog se pauta por princípios democráticos. Também, coloquei meu e-mail, caso queira fazer contato fique à vontade.
Abração.
Luiz Brasileiro
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